Nova câmera da ZF feita no Brasil pode reduzir 80% de acidentes
Montagem de sensores ópticos em Limeira, interior de São Paulo, simboliza o início da nacionalização de tecnologias de auxilio à condução

A ZF iniciou a produção local das câmeras usadas em sistemas de assistência ao motorista, conhecidas como ADAS. A notícia coloca o Brasil no mapa da automação veicular, mas ainda com um papel modesto. Apesar de ser o primeiro fabricante da América do Sul a montar o equipamento, o país continua distante do centro de desenvolvimento dessas tecnologias — que segue concentrado na Europa.
As câmeras começaram a ser produzidas na unidade da ZF em Limeira (SP), já responsável por componentes eletrônicos de freio e direção. O investimento de R$ 35 milhões foi viabilizado com incentivos do programa Mover, criado para estimular tecnologias de segurança e eficiência energética.

Esse será o primeiro sensor óptico de alta precisão voltado à condução assistida produzido no país, objeto que está cada vez mais presente nos carros novos. O sistema usa duas gerações de câmeras — chamadas 3.5 e 4.8 —, que equipam veículos de diferentes faixas de preço.
A primeira geração tem sensor de 1,3 megapixel e alcança até 150 metros. É suficiente para funções como frenagem automática de emergência, assistente de faixa e reconhecimento de placas de trânsito. Já a 4.8, que será produzida a partir de 2026, amplia o campo de visão e adiciona recursos de controle adaptativo de cruzeiro, leitura de semáforos e detecção de ciclistas e buracos na pista.

A tecnologia já é conhecida e está disponível há anos em modelos vendidos na Europa, Ásia e Estados Unidos. Por aqui, começam a se popularizar apenas agora, impulsionadas pelas novas regras do Latin NCAP, que vêm exigindo a presença de sistemas de segurança ativa para atingir as notas máximas nos testes de colisão.
Os dados de mercado apresentados pela própria ZF ajudam a entender a movimentação. A empresa projeta que 78% dos veículos produzidos na região terão câmeras frontais até 2030 — quase o dobro da fatia atual, de 40%. Essa expansão é impulsionada tanto por regulações quanto por benefícios concretos de segurança.

Segundo estudos citados pela fornecedora, o uso de sistemas ADAS pode reduzir em até 50% as colisões frontais e em 19% os acidentes causados por saída de faixa. No contexto brasileiro mais de 80% dos acidentes registrados pela Polícia Rodoviária Federal envolvem situações que poderiam ser evitadas ou mitigadas com sistemas do tipo como: colisões, saídas de pista e atropelamentos.
Para as montadoras instaladas no país, a nacionalização tem um efeito prático: reduz custos logísticos e facilita a adaptação dos sistemas às especificidades regionais. As estradas brasileiras, marcadas por sinalização irregular e falta de padronização, desafiam os algoritmos de leitura das câmeras, que foram treinados para cenários mais previsíveis. Produzir localmente pode acelerar o ajuste fino dessas tecnologias.

A planta de Limeira é hoje a única da América do Sul dedicada à fabricação de eletrônicos automotivos. Desde 2013, já produziu mais de oito milhões de módulos, usados em sistemas de freio, airbags e direção elétrica. Com as novas câmeras, a empresa pretende fabricar cerca de 900 mil unidades por ano. Ainda assim, o domínio tecnológico segue restrito à matriz: o desenvolvimento do hardware e do software continua sendo feito na Alemanha.