A Mercedes-Benz começou a se aventurar entre os médios em 1982, com o lançamento do 190. Aquele sedã evoluiria para o Classe C em 1993 e em 1996 ganharia a versão perua Estate, carroceria preferida na Europa (dois em cada três Classe C vendidos na Alemanha são da perua).
O design dos Mercedes mudou muito nos últimos 39 anos e as cinco gerações do Classe C trataram de deixar isso bem claro. Com a sexta geração do Mercedes Classe C, revelada agora, isso não é diferente.
Trata-se de um carro totalmente novo, tanto pela evolução da plataforma MRA II, como pela adoção de uma nova plataforma eletrônica, que em muito o aproxima da novíssima geração do sofisticado Classe S. E a inspiração para o design veio justamente dele. Mas vamos por partes porque há muito para contar.
Em uma comparação com duas últimas gerações do Classe C, esta nova geração tem a cabine um pouco recuada e o capô está menor, pois deixou de ser necessário ter tanto espaço quando a intenção é usar apenas (alerta de spoiler!) motores de quatro cilindros. As colunas traseiras estão mais largas, dando aspecto de cupê, e muitos vincos foram eliminados da carroceria, mas há dois novos marcando justamente o capô.
Todas as versões têm a tradicional estrela da Mercedes inserida na grade de radiador, que por sua vez muda de acordo com o nível de equipamento. Na traseira, as lanternas são mais estreitas e horizontais, avançando ainda sobre a tampa do porta-malas. É a primeira vez que um Classe C tem lanternas traseiras divididas.
Falando em luzes, os faróis full led são de série e como opcional é possível ter o sistema de Luz Digital (estreado no novo Classe S), com funções avançadas como a projeção de linhas de guiao ou de símbolos de aviso na estrada, iluminação extremamente clara e identificação de pedestres em zonas escuras à frente.
Nem tão maior, nem tão menor
A variação nas dimensões é mínima em largura (+ 1 cm) e em altura (- 1 cm), enquanto o comprimento cresceu 6,5 cm e a distância entre-eixos aumentou 2,5 cm. As bitolas aumentaram 2 cm na frente e 5 cm atrás, onde as rodas também esterçam (exclusividade em um segmento onde há BMW Série 3, Audi A4 e Volvo S60).
A velocidades abaixo de 60 km/h, as rodas traseiras giram na direção oposta às rodas dianteiras até 2,5°, o que reduz o diâmetro de giro em 43 centímetros (para 10,64 metros). Acima de 60 km/h, as rodas traseiras giram até 2,5° na mesma direção que as dianteiras e esse “aumento virtual” na distância entre eixos beneficia a estabilidade e segurança a altas velocidades, durante rápidas mudanças de faixa rápida ou em manobras evasivas repentinas.
Só não pense que houve grande aumento no espaço interno, ainda que o espaço para as pernas esteja 2 cm maior no banco traseiro. O porta-malas continua com os mesmos 455 litros no sedã, mas houve aumento de 30 litros na perua, passando a 490 litros.
Mas as versões híbridas plug-in, com baterias maiores que podem ser recarregadas em tomadas, continuam com porta-malas menor (315 litros no sedã e 360 na Estate), mas se antes o conjunto de baterias roubava espaço no compartimento, agora ocupa o assoalho por igual e apenas elimina o compartimento extra que havia sob ele.
Mini-Classe S
O novo Mercedes Classe C replica, nas sua própria escala, o painel da nova geração do Classe S. Passou direto pela tendência das duas telas gêmeas (uma para o quadro de instrumentos e outra para a central multimídia) presentes nos outros carros da marca.
Até estreia com o quadro de instrumentos digital destacado (que pode ter 10,25 ou 12,3 polegadas), mas o destaque é o verdadeiro tablet da segunda geração da interface MBUX, que pode ter 9,5 ou 11,9 polegadas que parece flutuar no meio do painel e está voltado para o motorista em 6°.
O quadro de instrumentos tem três estilos de mostradores (Discreet, Sport e Classic) e três modos (Navigation, Assistance, Service), há comando por voz e é possível pedir pelo head-up display que projeta a informação 4,5 metros à frente do veículo (no caso do Classe S a informação é vista 10 metros à frente do carro e há gráficos em Realidade Aumentada).
Os bancos dianteiros dispõem, opcionalmente, de uma função de massagem com uma área de intervenção mais ampla nas costas dos ocupantes (existem oito câmaras de ar dentro de cada banco). O motorista pode, até, ter o privilégio de receber uma massagem vibratória (para tal existem quatro motores debaixo do assento) e, pela primeira vez no Classe C, está disponível aquecimento para os bancos traseiros.
Chamam atenção as cinco saídas de ventilação (três centrais e duas nos extremos do bem acabado painel de bordo) e o novo volante que, tal como o do renovado Classe E, tem menor diâmetro, aro mais grosso e base achatada. Atrás do volante há borboletas para trocas sequenciais e também dois comandos para aumentar ou diminuir a força de recuperação de energia nas frenagens para a versão plug-in – no modo máximo, permitirá dirigir sem precisar recorrer ao freio, graças à recuperação de energia superior a 100 kW.
Sem motores V8 ou seis cilindros, ou câmbio manual
Prepare os lenços, pois a eletrificação é total no novo Classe C. Há apenas motores de quatro cilindros e o câmbio é sempre automático de nove marchas. Mesmo a versão mais simples é do tipo híbrido-parcial, onde o sistema ISG de motor de arranque/gerador e sistema elétrico de 48V assistem o motor de combustão com 22 cv e 20,4 kgfm em situações de aceleração média e forte, reduzindo o consumo e melhorando o desempenho. Os mais caros são híbridos plenos do tipo plug-in.
Tudo começa pelo motor 1.5 a gasolina, presente nas versões C 180 (170 cv) e C 200 (204 cv) – também com tração integral 4Matic. O motor 2.0 equipa o C 300 (258 cv), de duas e quatro rodas motrizes.
Antes que você pergunte, os motores a diesel disponíveis para a Europa também foram eletrificados. São os primeiros híbridos-leve com motor diesel! A responsabilidade recai sobre o motor 2.0 com dois turbos de geometria variável e novos catalisadores e filtros de partículas. Estará disponível como C 200 d (163 cv), C 220 d (200 cv) também com quatro rodas motrizes e 300 d (265 cv).
Os amantes dos lendários Classe C preparados pela AMG podem ficar desiludidos ao saber que o próximo C63 AMG não terá o motor V8 4.0 com mais de 500 cv e que o C43 AMG abandonará seu moderníssimo seis cilindros turbo.
A versão mais poderosa do novo Classe C terá o poderoso motor 2.0 de quatro cilindros e 421 cv do A45 AMG combinado a um motor elétrico que elevará sua entrega máxima aos 550 cv. Os engenheiros da Mercedes usam o espaço do capô como desculpa para não adotar grandes motores, mas se isso fosse uma prioridade eles não teriam encolhido o capô! A verdade é que as metas de eficiência são mais importantes.
É sinal dos tempos. Tanto que foram as versões plug-in que receberam maior atenção da engenharia. No caso da versão a gasolina (300 e) o motor 2.0 de 204 cv é combinado ao motor elétrico (síncrono de imã permanente) de 129 cv (7 cv a mais que antes) e 44,9 kgfm. Mas a entrega combinada é de 313 cv e 56,1 kgfm, menos que antes: tinha 320 cv e 71,3 kgfm. Espera-se, porém, consumo médio menor, de 66,6 km/l.
A grande sacada agora é poder rodar até 100 km e a até 140 km/h em modo elétrico, sem depender do motor a gasolina. A bateria tem 25,4 kWh, metade da capacidade de carros elétricos pequenos como o Peugeot 208 e-GT, e pode ser recarregada em corrente contínua, mais rápida, em meia hora (ou 3h com os 11 kW de uma Wallbox). Há uma resposta tátil no pedal do acelerador a 9,7°, que marca até onde a aceleração é puramente elétrica.
Além do eixo traseiro direcional, a suspensão é inteiramente nova. Tanto na frente como atrás há conjuntos independentes do tipo multilink, com subchassi na traseira. Amortecedores eletrônicos adaptativos e configuração com acerto mais esportivo são opcionais. As versões híbridas plug-in estão sempre equipadas com suspensão traseira pneumática para mitigar os efeitos negativos provocados pelo sobrepeso da grande bateria.
Por fim, o acerto do chassi também inclui redução do número de voltas do volante de batente a batente, de 2,35 para 2,1 voltas nesta nova geração.
E no Brasil?
A quinta geração do Mercedes Classe C foi fabricada no Brasil, na fábrica de Iracemápolis (SP). Mas a fabricante alemã decidiu encerrar a produção no local em dezembro, ao decidir não investir para produzir localmente as novas gerações do Classe C e do GLA.
De acordo com a empresa, o fechamento se deve, principalmente, ao agravamento econômico causado pela pandemia da covid-19, que impactou negativamente o setor automotivo.
Já prevendo o encerramento das operações na fábrica, a Mercedes gerou estoque do Classe C que deverá atender a demanda até a chegada da nova geração, o que pode acontecer apenas em 2022. Isso porque a estreia da sexta geração no mercado europeu será só no meio do ano.