Perfil: Toni Bianco, nosso último construtor artesanal
Aos 86 anos, o célebre projetista Toni Bianco cria mais um carro. Agora em casa e usando chapas de alumínio e um martelo
O ofício de serralheiro – aquele que trabalha com metal – pode parecer algo sem glamour. Mas Toni Bianco gosta de provar o contrário.
Aos 86 anos, 60 dedicados ao ofício de “bater o martelo” e “soldar alumínio”, como costuma dizer, ele é parte viva da história automotiva brasileira.
Enquanto muitos nessa idade pararam de trabalhar para curtir os netos, ele continua mais ativo do que nunca, apesar de longe dos holofotes.
Nos últimos dez anos, produziu veículos por encomenda para colecionadores, como carros de corrida e até uma réplica do Carcará, recordista de velocidade brasileiro em 1966.
Seu mais recente projeto, feito na pequena garagem no fundo de casa, com ferramentas básicas, ficou pronto em maio. É o Bruna, um roadster inspirado no Bugatti Veyron. “Levei dois anos, trabalhando sozinho, em média oito horas por dia”, conta Toni.
O chassi é tubular, como nos seus antigos carros de corrida. A mecânica veio de um Hyundai i30 2.0, adaptada para tração traseira e motor central. O radiador é dianteiro, resfriado pelas entradas de ar frontais. Já o ar para o sistema de alimentação do motor vem das entradas laterais, atrás das portas.
Com apenas 850 kg e 3,80 metros, ganhou suspensão de corrida na frente, utilizada em alguns de seus bólidos anteriores, e McPherson atrás (ou seja: trata-se na verdade do eixo dianteiro do i30, em posição invertida). A carroceria é a parte mais artesanal: é de chapas de alumínio, unidas pela solda e moldadas só pelo trabalho no martelo.
Batizado com o nome da neta de 21 anos que adora carro, o Bruna bebe da fonte de suas famosas criações, como Bianco S, Dardo ou a pioneira minivan Futura, de sete lugares.
Todas feitas pelas mãos que já receberam vários prêmios, um deles entregue em 1970 pelo fundador da Lotus, Colin Chapman, e outro, recente, concedido pela Ferrari.
Apesar de o carro ser só para uso pessoal, Toni se diz aberto a criar uma pequena linha de montagem se houver interesse. E não para por aí. “Já tenho outro projeto em mente”, diz ele sobre a ideia de um cupê com porta asa de gaivota e motor de Fusion.
As grandes criações de Toni
1962: FÓRMULA JÚNIOR
Feito em conjunto com Chico Landi (esq.), Luis Greco e Eugenio Martins, o Fórmula Jr. serviu de base para seus futuros carros.
1970: FÚRIA
Com chassi tubular que pesava só 42 kg e diversas motorizações, o carro venceu muitas corridas e lhe rendeu vários prêmios.
1971: FÚRIA GT
Com coautoria de Vittorio Massari, executivo da FNM, tinha mecânica de Alfa e um estilo cupê 2+2, mas nunca passou do protótipo. Leia mais sobre ele clicando aqui.
1976: BIANCO S
Usando motor de Fusca, a versão de rua do Fúria foi apresentada no Salão do Automóvel, onde surpreendeu ao vender 350 unidades. Lá fora, é considerado um dos carros brasileiros mais belos de todos os tempos.
1976: DARDO F-1.3
Clone do italiano Fiat X 1/9, trazia chassi desenvolvido por Toni, carroceria de fibra e mecânica do brasileiríssimo 147 Rallye. Já fizemos um Grandes Brasileiros com ele.
1990: GRANCAR FUTURA
Quase uma cópia da Renault Space, de 1984, ela tinha mecânica VW AP e brigava de igual para igual com a importada Chevrolet Lumina. Também já publicamos um Grandes Brasileiros a seu respeito.