É difícil, para os ocidentais, entender o motivo de as fabricantes de automóveis chinesas criarem inúmeras submarcas. A Chery criou quatro novas marcas no último ano e duas delas, Omoda e Jaecoo, estreiam no Brasil nos próximos meses.
Em conversa com jornalistas brasileiros, o CEO da Chery Internacional, Zhang Guibing, não só explicou como será o posicionamento de cada marca, como garantiu que a Jaecoo terá uma inédita picape média e a Omoda, um esportivo nos próximos anos.
O assunto picape não era esperado, visto que a Jaecoo confirmou apenas SUVs para seu portifólio nos próximos anos. Não há previsão de data de lançamento, mas é sabido que a Chery está desenvolvendo uma picape média há pelo menos três anos, que será parte da nova família de modelos M Séries que, ainda inclui um monovolume e um SUV, ambos com sete lugares.
Este seria um produto focado em mercados globais, pois a China tem grande restrição para a circulação de picapes particulares no centro de suas cidades. Esta seria uma picape média monobloco e estaria sendo concebida para receber motores elétricos, a combustão ou mesmo conjuntos híbridos plug-in.
É uma estratégia que é observada, também, quando o assunto é a prometida picape híbrida Poer, da GWM, e a BYD Shark, que será revelada em maio.
Independente da escolha de motores (Omoda e Jaecoo não descartam carros só com motores térmicos), o Brasil será um dos mercados mais importantes da picape, junto com Tailândia e mercados da Oceania e Oriente Médio. E tem tudo a ver com a proposta da Jaecoo.
Essa picape média, inclusive, ajudará a explicar a criação da Omoda | Jaecoo como uma única empresa com duas marcas com atuação apenas fora da China. É uma operação única, completamente independente da marca Chery e direcionada a consumidores diferentes.
Por que duas marcas?
Um movimento comum na indústria automotiva é a criação de marcas com níveis de luxo diferentes. No Grupo Volkswagen, a Audi tem carros mais luxuosos que os VW e os Skoda são mais espaçosos, simplórios e baratos. Os Lexus são mais refinados que os Toyota, que por sua vez são melhores que os Daihatsu.
Guibing usou Toyota e Volkswagen como exemplo, para lembrar que, há cinco anos, Golf e Corolla pelo título de carro mais vendido do mundo. Guibing defende que o consumidor mudou e não quer mais comprar o mesmo carro que todo mundo, que não atende o seu gosto e seus hábitos.
“A Chery quer estar mais próxima de cada grupo de consumidores, criando submarcas. Se você olhar na China, grandes grupos como Geely, GWM e BYD têm submarcas com esse objetivo”, explica Guibing. “Porque ter uma empresa que só fala com um grupo de consumidores pode ser perigoso, às vezes. Então elegemos dois grupos de consumidores para focar neles e ter um relacionamento mais próximo”, diz Guibing.
O que Omoda e Jaecoo têm em comum é a necessidade de seus carros serem vistos como produtos mais sofisticados e tecnológicos do que os carros da Chery. Guibing defende que os Omoda e Jaecoo receberão novas tecnologias e sistemas avançados mais cedo, mas o conjunto mecânico será compartilhado.
“O conjunto mecânico é apenas uma parte do carro. Omoda e Jaecoo sairão na frente com tecnologias e sistemas mais avançados e de conectividade para conquistar uma geração de consumidores mais nova, enquanto os carros da Chery já tem uma imagem global de carros para famílias”, explica. Esse posicionamento também seria a explicação para a Omoda estar entrando no mercado europeu antes da Chery.
Mas entre a Omoda e a Jaecoo também existe uma diferenciação. Os carros da Omoda têm design mais disruptivo. São as formas tridimensionais da grade, o teto com caimento que sempre se assemelha ao de um SUV cupê e a cabine repleta de leds para a iluminação ambiente. O Omoda 5 começou isso e o Omoda 7, apresentado no último domingo, dá continuidade a esse estilo.
Os Jaecoo, por sua vez, são carros mais sóbrios. A carroceria é mais reta, o interior tem elementos horizontais e, ao mesmo tempo, tenta evocar uma imagem de off-road urbano. O Jaecoo J7 tem algo de inspiração nos Range Rover mas sem deixar isso tão evidente quanto outras marcas chinesas.
O CEO da Chery Internacional repetidas vezes comparou a Omoda com a Hyundai e a Jaecoo com a Kia. As duas marcas sul-coreanas pertencem ao mesmo grupo, compartilham motorizações e plataformas, e têm carros à venda nos mesmos segmentos, mas direcionados a clientes diferentes.
Realmente há semelhanças, até mesmo porque a Kia também está prestes de lançar uma picape média.
Até 10 modelos até 2030
Omoda e Jaecoo têm planos globais de longo prazo. E uma meta robusta: vender 1,5 milhão de carros ao redor do mundo até 2030. Daí a necessidade de ter uma linha consistente de produtos nas duas marcas. No Brasil, por exemplo, as duas marcas terão entre 8 e 10 modelos até 2026.
Além dos Omoda 5 e 7, outro carro que está nos planos é o Omoda 3, que seria um SUV compacto, além do esportivo citado por Zhang.
A Jaecoo começa a atuar com o 7 e no primeiro trimestre lançará o Jaecoo 8, mas já trabalha no desenvolvimento do Jaecoo 5 – com o porte do Omoda 5. E, para alguns mercados, tem o Jaecoo 6 – um rebadge do iCar 03, um SUV médio elétrico com formas bastante quadradas. O Jaecoo 6, porém, ainda não está nos planos do Brasil.