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Pilotando na chuva

O que fazer para não dançar na chuva

Por Edu Zampieri
Atualizado em 9 nov 2016, 11h56 - Publicado em 24 fev 2012, 15h50
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  • Pilotando na chuva

    Quem sai na chuva é para se molhar, reza o dito popular. A frase traz um tom tão ameaçador quanto nuvens negras pregadas num céu de verão.

    Mas, tratando-se de pilotar uma moto, não precisa ser assim, desde que você esteja preparado para enfrentar trovoadas. Estar preparado não significa apenas usar equipamento adequado, mas conhecer dicas de pilotagem que aumentam a segurança no piso molhado.

    Os cuidados começam com a calibragem correta dos pneus. Ela deve estar dentro dos parâmetros descritos no manual do proprietário de sua moto – às vezes em um adesivo no cobre-corrente. Ignore “dicas de pista” e, quando começar a chover, não altere a pressão nem para cima nem para baixo. Moto de rua não é moto de pista, e o pneu de rua não vai enfrentar apenas 30 minutos de corrida. Esqueça, portanto, teorias de pilotos e preparadores e não tente aplicá- las em sua moto de rua.

    No molhado, é importante considerar que o espaço de frenagem (até a imobilização) aumenta. Com garupa, então… No piso úmido, além de o pneu não esquentar o suficiente, pode haver formação de uma película (ou filme) de água entre a borracha e o piso. É a pior situação, a chamada aquaplanagem. Se o pneu dianteiro não estiver em boas condições e bem calibrado, não exercerá a função de faca, que corta a lamina de água para o pneu traseiro poder tracionar melhor.Água no sulco

    Sob chuva, trate os comandos de sua moto com muito carinho. Qualquer movimento brusco, que leve a aderência ao limite, pode fazê-lo sentir os efeitos da gravidade… Comece a frear muito antes do normal ao se aproximar de uma esquina ou de um semáforo fechado e sempre assuma maior distância em relação aos carros que estão a sua frente. Na estrada, procure colocar as rodas de sua moto sobre um dos trilhos que o veículo à frente deixar no asfalto. Um pneu de carro afasta mais água que um de moto e, portanto, os dois pneus do carro que formaram o trilho já fizeram boa parte do trabalho que seu pneu dianteiro teria de fazer.

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    Chuva e muita água não combinam com motos superesportivas e seus pneus com poucos sulcos. É possível seguir viagem, mas não é recomendado. O ideal seria parar em um posto de gasolina, tomar um refrigerante ou cafezinho e esperar a chuva passar. Motos da categoria big trail e estradeiras equipadas com pneus touring – com muito mais sulcos – sofrem menos. Também oferecem geometria de chassi e posição de pilotagem mais adequadas. Não carregam peso demais sobre a roda dianteira e em geral ainda contam com grandes para-brisas.

    Molhado por dentro

    Os equipamentos para proteger o piloto da chuva e, assim, mantê-lo em condições de concentração e conforto suficientes para uma boa pilotagem evoluíram muito. Há excelentes conjuntos de cordura impermeáveis, mais eficientes que os de couro, pois não ficam pesando “uma tonelada” depois de molhados. O couro, quando seco, permanece sendo um material eficiente contra abrasão. As capas de chuva específicas protegem bem na cidade, mas em uma moto esportiva na estrada, em alta velocidade, o nylon chacoalhando pode não resistir e rasgar. As pesadas capas de PVC preto, as mais utilizadas pelos motociclistas profissionais, até protegem da chuva, mas quando está quente fazem o corpo suar como uma marmita, molhando o piloto de dentro para fora.

    Debaixo de um temporal, a visão também fica prejudicada pelo embaçamento, pela nuvem de água dos carros à frente (spray) ou ainda pelas milhares de gotas fixas na sua viseira do capacete. A combinação dessas agruras diminui consideravelmente a visibilidade. Uma dica interessante é polir a viseira utilizando uma boa cera automotiva, fazendo com que as gotas escorreguem mais facilmente. Um bom capacete tem entradas de ar na parte frontal para impedir o embaçamento e ainda permite

    que a viseira fique um pouquinh aberta, mas travada e fechada o suficiente para proteger os olhos. Viseiras totalmente fechadas embaçam porque a temperatura interna é bem mais alta que a externa, e a água do ar quente que expelimos se condensa ao entrar em contato com a superfície mais fria. Apesar de serem apregoadas como a salvação da lavoura, não ponha todas as suas fichas em viseiras que são vendidas como antiembaçantes. Na maioria das vezes é pouco mais que marketing vazio. Há viseiras melhores e piores. Todas embaçam: umas mais, outras menos. Alguns capacetes possuem peças de borracha macia na região do nariz para desviar o ar quente da respiração para baixo, afastando-o da viseira fria onde iria condensar-se. Ajudam, sim, mas não são milagrosos.

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    Saquinhos de plástico nos pés, por dentro da bota, são o tipo do quebragalho functional se você não tiver uma bota impermeável. Outra dica é vestir uma luva de látex cirúrgica por baixo da luva de couro normal. Desse modo, sua mão não vai ficar molhada e você não vai morrer de frio caso não possua uma caríssima luva impermeável de última geração. Lembre-se também que muita água na pista cobre buracos (enchendoos de água escura) e detritos. É prudente pilotar em velocidade mais baixa. À noite, com pouca luz, a visão dos buracos fica ainda mais comprometida. Vale a pena redobrar a atenção!

    Na pista

    No autódromo, com a segurança de boas áreas de escape, resgate próximo e muitas peças sobressalentes, existem mais possibilidades de acerto para fazer você ir mais rápido sob chuva.

    A começar pelos pneus especiais, cheios de sulcos e fabricados com composto mole, que se aquece mais e com maior rapidez. Mesmo assim, recomenda- se treinar com eles. Procure inclinar a moto com antecedência, mas não muita, e sempre com muito carinho, sem brusquidão em seus movimentos.

    É recomendado também aliviar a pressão das molas das suspensões. Fazê-las trabalhar mais suavemente e com retornos mais lentos. As poças de água podem virar “degraus”, e uma suspensão dura não lhe permitirá acelerar adequadamente, oferecendo aquela sensação de “ai, ai, vou cair a qualquer momento”.

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    Outra boa medida é encurtar a relação de transmissão final. Como a velocidade de curva vai diminuir, você terá que aproveitar melhor as retas, quando a moto estará em pé. Em relação ao preparo para o piso seco, onde é possível andar mais lançado em curvas, é bom descontar o tempo perdido com a moto em pé, agora que será preciso antecipar a frenagem e fazer curvas mais lentamente. Uma moto com maior poder de aceleração – proporcionado pela relação de transmissão mais curta – engole a reta mais rápido.

    Na MotoGP, a moto preparada para chuva recebe novas molas, mais brandas, e discos de freio de aço iguais aos das motos de rua. Os discos de carbono – que elas utilizam no seco – são eficientes apenas quando estão extremamente quentes. No molhado, como não esquentam o suficiente, acabam sendo piores que os de aço normais.

    Em curvas, há uma teoria segundo a qual devemos aplicar uma força maior na pedaleira de fora (a do lado oposto à curva), o que permitiria ir mais rápido sob chuva. Aplicar mais força na pedaleira externa implica em inclinar menos a moto. Simplificando, basta inclinar menos a moto e mais o corpo para ganhar segurança com piso menos aderente – e é nisso que essa posição pode ajudar. Como pilotar no limite sob chuva requer 100% da capacidade de concentração de um piloto, investir em equipamento adequado, capaz de proteger de intempéries, quedas e impactos, é fundamental.

    Não esqueça também de fazer um furo no spoiler se for utilizar a moto de corrida na chuva. Essa peça, que normalmente é fechada para não deixar um possível vazamento de óleo cair na pista, deve ter escoamento de água para não virar uma piscina. Não queira nem imaginar o quanto esse peso extra e pendular pode interferir na pilotagem.

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    Um circuito fechado não esconde buracos embaixo d’água, pois não os tem. Em compensação, tem faixas pintadas no asfalto. Passar em cima da tinta – bem menos aderente – pode não ser bom para a saúde.

    Nos circuitos homologados pela FIM (Federação Internacional de Motociclismo), as faixas não escorregam porque são pintadas com tinta especial fabricada na Espanha. No Brasil, não há sequer um circuito, atualmente, homologado pela FIM.

    Ainda que você não saia na chuva, é bom estar prevenido: nunca se sabe quando vai rolar um clima…

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    Nicky Hayden, na MotoGP, no limite com pneus de chuva (esq.) | Pneus slick, à esq., e de chuva, para competições oficiais (dir.)

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