Com apenas 13 anos de existência, o valor de mercado da Tesla Motors já era maior que o da Ford desde a semana passada – e nesta segunda-feira acaba de ultrapassar a GM, ambas centenárias e com atuação global.
Na segunda-feira, 3 de abril, embalada após anunciar que produziu e vendeu cerca de 25 mil carros no primeiro trimestre de 2017 (69% a mais que em 2016), o valor de todas as ações da empresa chegou a 45,39 bilhões de dólares, ultrapassando os 44,79 bilhões da Ford.
Na terça, pela manhã, a agência Reuters chegou a informar que o valor da Tesla havia ultrapassado o da GM, mas a informação acabou corrigida no final do dia, com o placar de US$ 51,1 bilhões para a GM contra US$ 49,1 bilhões da Tesla. Menos de uma semana depois, Wall Street passou a cotar a soma das ações da Tesla em US$ 51,56 bilhões, contra US$ 50,26 bilhões da GM.
Claro que o tamanho da Tesla como indústria ainda é muito menor: enquanto a GM emplaca 250 mil carros por mês nos EUA, a Tesla vende 8 mil, somando-se todos os países onde já comercializa seus modelos.
A Ford produz sozinha 6,6 milhões de automóveis por ano no planeta, registrando lucro de US$ 10,4 bilhões em 2016. A Tesla, por outro lado, nunca teve lucro em seus 13 anos de vida – em 2016, o prejuízo foi de US$ 746 milhões. Mesmo assim, aos olhos dos investidores, a empresa de Elon Musk tem algo mais.
“Os investidores desejam investir em algo com potencial de crescimento de seis anos em um prazo de seis meses, e apenas a Tesla pode oferecer isso. Ninguém acredita que Ford ou GM serão capazes de fazer algo parecido”, analisa Karl Brauer, editor-sênior da Kelley Blue Book, instituto de pesquisa e valoração de veículos reconhecido pela indústria automotiva norte-americana.
A Tesla prepara-se para lançar o Model 3, sua aposta mais ambiciosa: por 35 mil dólares, ele será um elétrico mais acessível e com potencial bem maior de popularização que os Model S e X atuais, possibilitando à empresa aumentar sua escala e finalmente gerar lucro.
Até o final de 2018, a empresa quer atingir um nível de produção de 500.000 carros por ano, metade deles do novo Model 3. Para isso, ela já está finalizando a Gigafactory, uma enorme e bilionária fábrica de baterias que promete abastecer tanta demanda.
As perspectivas otimistas estão atraíndo cada vez mais investidores, puxando para cima o valor das ações da empresa, na expectativa de que no futuro tais ações possam ser vendidas por valores ainda mais altos – algo como o que aconteceu com gigantes da tecnologia como Apple e Google.
Famoso por ter criado o sistema de pagamento eletrônico PayPal – vendido para o eBay por 1,5 bilhão de dólares – e com uma fortuna pessoal avaliada em US$ 14 bilhões, Elon Musk admite que sua empresa está sobrevalorizada, mas encara isso de maneira positiva: ações tão valorizadas significam ainda mais dinheiro para ser investido em desenvolvimento, produção, venda, pós-venda e marketing.
Para ele, dois pilares vão nortear o futuro da Tesla: o crescimento no interesse por veículos elétricos e a invenção da condução autônoma – fatores atualmente atendidos de forma integral ou parcial pela fabricante da Califórnia.
Enquanto isso, após passarem por momentos delicados em 2006 (com destaque para a General Motors, que, juntamente com a Chrysler, só se livrou da falência após obter ajuda financeira do governo norte-americano), tanto Ford quanto GM se recuperaram e voltaram a lucrar.
Mesmo assim, ambas ainda sofrem para corrigir decisões erradas do passado e convencer o mercado financeiro de que têm plenas condições de continuar a crescer em meio a um cenário tecnológico e comportamental diferente. A GM acaba de se desfazer de Opel e Vauxhall, enquanto a Ford divulgou recentemente que até o Mustang e a picape F-150 terão versões híbridas.