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Presidente da Audi no Brasil: “Os ricos continuam com muito dinheiro”

Jörg Hofmann explica o crescimento e a liderança da Audi em um momento de crise no país

Por Letícia Toledo / revista EXAME
Atualizado em 23 nov 2016, 20h57 - Publicado em 26 abr 2016, 14h31
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  • Jörg Hofmann
    Jörg Hofmann, presidente da Audi no Brasil ()

    Se o mercado brasileiro está uma dureza, para as montadoras está pior. O setor automotivo caiu nos últimos três anos – em 2015, o tombo foi de 26%. Enquanto isso, a montadora alemã Audi vive um ótimo momento. A Audi cresceu 162% desde 2013 e passou de quarta a primeira colocada na venda de carros de luxo no Brasil – aquele em que os modelos custam mais de 100.000 reais. Nesse período, passou de 6.700 para 17.600 carros vendidos por ano. Ainda é só 2,7% do mercado –o que dá esperanças para Jörg Hofmann, presidente na companhia desde 2013, de que a boa fase pode continuar, apesar dos solavancos da crise. Da sede da montadora, na Zona Sul de São Paulo, ele concedeu a seguinte entrevista a EXAME:

    A Audi quase triplicou no Brasil desde que o senhor assumiu a presidência, em 2013. Como foi possível?

    Não dá para crescer tanto fazendo só uma coisa. Nós estamos transformando todas as áreas do negócio. Dobramos o número de lojas, de 27 para 50. Nós também dobramos o número de funcionários no nosso escritório no Brasil. Colocamos muito foco no treinamento da nossa equipe, porque os nossos clientes pagam preços altos, então eles merecem bom atendimento. No lado do mercado nós abrimos Audi Lounge, nossa loja conceito na Rua Oscar Freire, em São Paulo, e investimos em propagandas feitas no próprio Brasil, para os brasileiros. E, claro, construímos uma fábrica.

    Não foi só a Audi que cresceu em 2015. As principais concorrentes, BMW e Mercedes, também cresceram, e o mercado de automóveis premium avançou 20% em 2015. Por que esse setor continua crescendo mesmo com a crise?


    O que você viu no Brasil no ano passado é um fenômeno mundial. Mesmo em países como a Rússia, por exemplo, onde a crise é maior, o segmento de luxo, mesmo sobre pressão, se comporta melhor do que o segmento normal. As marcas premium estão mais estáveis porque essas pessoas têm mais flexibilidade econômica para ainda fazer as coisas. Os ricos brasileiros continuam com muito dinheiro. O que temos que fazer é dar a eles um motivo para gastar.

    A crise deve avançar por 2016, 2017, talvez 2017. Em algum momento a crise pode afetar vocês?


    A crise veio muito rápida. Em 2014 tudo estava bem e depois da eleição o país foi piorando. Ano passado foi terrível e minha opinião pessoal é que esse ano será ainda pior. Eu acredito que, a menos que tenhamos uma grande mudança, vamos ter dificuldades até a próxima eleição presidencial, em 2018. Nesse tipo de mercado o que esperamos é crescer pouco mais de 10%. Não vamos conseguir crescer como em 2014 e 2015.

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    A Audi, a Mercedes e a BMW investiram em fábricas no Brasil para atender as exigências do governo. Com o aperto da crise, não foi uma estratégia arriscada?

    A decisão de abrir fábricas aqui é algo que coloca o mercado em maior pressão. Se você não tem estratégias a longo prazo, a crise deixa você desesperado. Mas a nossa visão aqui é a longo prazo. O mercado de carros premium no Brasil corresponde hoje a uma fatia de apenas 2,7% do mercado nacional de automóveis. Em um mercado como a Alemanha os carros de luxo têm uma fatia de quase 30%. Na China, Estados Unidos e Rússia esse percentual é de 10%. No médio e longo prazo o Brasil tem um potencial para que de 8% ou 10% do mercado seja de carros premium.

    O senhor inaugurou uma fábrica em um momento sombrio para a indústria nacional. A produção industrial caiu 8,3% em 2015. É tão difícil produzir no Brasil? 


    Eu acredito que o Brasil tem uma série de vantagens na área de produção. Tem muita gente que quer emprego, que quer trabalhar duro, então não é difícil conseguir funcionários. Além disso, o mercado é grande. A infraestrutura é algo que as pessoas sempre reclamam, mas isso depende de onde você está. Na região da nossa fábrica, em São José dos Pinhais, no Paraná, a infraestrutura é muito boa.

    É muito difícil explicar para os alemães o que acontece no Brasil?


    O que ajuda no nosso caso é que temos um presidente local, que tem autonomia para fazer muitas coisas. Claro que eu preciso me reportar para minha equipe com números. Mas, no dia a dia, a companhia nos dá autonomia. Temos que tomar decisões rápidas, e ir em frente. O Brasil é uma cultura diferente da alemã. Fora a política, que é impossível de entender, os brasileiros têm mais dificuldade de lidar com críticas – ficam desapontados, e o efeito acaba sendo o inverso do esperado. Estou aprendendo a lidar com isso.

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