O Brasil sempre foi o principal exportador de automóveis para outros países da América do Sul, além de destinar muitos carro para o México e países caribenhos. Mas quando o assunto é a tecnologia desses carros, a história é diferente.
Apesar do nosso mercado automotivo ser bem grande, o desenvolvimento e exportação de tecnologia produzida e desenvolvida aqui ainda tem muito o que avançar. Uma mudança nesse paradigma poderá ser vista com o Programa Mobilidade Verde (Mover) do Governo Federal. Pelo menos é o que acreditam os especialistas do setor.
Durante o Automotive Business Experience 2024 (ABX), muito se debateu sobre o impacto que esse programa terá no mercado brasileiro, aliado ao grande investimento no setor automotivo.
Ao todo são R$ 120 bilhões divididos entre diferentes montadoras, o que será o maior valor investido da história. Fora isso, o Mover promete até R$ 19 bilhões em incentivos para as empresas que investirem em descarbonização e se enquadrarem nos requisitos obrigatórios do programa.
O Mover trará como novidade o sistema de medição de emissões “do poço à roda”, que considera todo o ciclo da fonte de energia utilizada. Quem sairá ganhando com isso é o etanol e outros biocombustíveis, afinal, durante o processo de plantação da cana-de-açúcar e outras matérias primas, como o milho, o CO2 é retirado da atmosfera.
As montadoras já se movimentam para se aproveitar disso e muito se fala dos híbridos flex, que têm tudo para serem os atores principais na descarbonização. Atualmente, apenas a Toyota oferece esse tipo de tecnologia com o Corolla e Corolla Cross, ambos híbridos leves. Mas grandes rivais como Stellantis, GM e Volkswagen já estão preparando seus lançamentos para breve.
Como vocês podem ver, o futuro da mobilidade nacional está diretamente ligada aos híbridos e ao etanol, já que esse é o contexto do nosso país. Para Fábio Ferreira, diretor de produtos da Bosch, a tendência é que, mundialmente falando, as soluções para descarbonização se tornem mais regionais e os mercados não centrais, como o nosso, “precisam assumir o papel de desenvolver essas soluções”, explicou durante a ABX.
E não é apenas ele que tem esse pensamento. Janayna Bhering, coordenadora do PNME (Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica), compartilha do mesmo pensamento: “O Brasil tem tudo o que precisa para pesquisar, produzir e exportar essas novas soluções que envolvem biocombustíveis”.
Já para André Ferrarese, diretor de pesquisa da Tupy SA, o brasil só precisa encontrar países com um contexto parecido. Os três executivos participaram do painel “O carro híbrido flex é o novo básico do Brasil?” na ABX.
Ferrarese cita bons exemplos de países que poderão ser possíveis compradores de motores e outras tecnologias que envolvem os híbridos flex. O primeiro é a Índia, o segundo maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e que traçou como meta misturar 20% de etanol em sua gasolina até 2025.
A Tailândia é outro candidato a importador de tecnologia brasileira citado pelo executivo. Nas últimas décadas, o país teve um rápido aumento na produção e consumo de etanol, mas viu isso cair nos últimos anos, uma vez que o governo passou a apostar mais em carros elétricos do que nos biocombustíveis. Uma nova tecnologia mais barata que os BEVs pode ser o incentivo para que o país volte a investir neste mercado, afinal, a infraestrutura já existe por lá.
Mas antes de sonhar com exportações, o híbrido flex precisa se desenvolver e mostrar seu valor no mercado nacional. Ainda esse ano, a Stellantis lançará seu primeiro híbrido Flex. Já a Toyota vai introduzir o Yaris Cross no ano que vem com um novo conjunto mecânico que promete ser ainda mais econômico. Renault e GM devem lançar seus modelos em 2025, enquanto o da Volks e GWM devem ficar para 2026.