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Quatro “sins” e três “nãos” que GM tomou desde que ameaçou sair do Brasil

QUATRO RODAS resume os sucessos e fracassos até agora obtidos no polêmico plano de reestruturação da fabricante

Por Leonardo Felix, Paulo Campo Grande, a37171
11 mar 2019, 17h41
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  • Chevrolet Spin Activ LTZ 2019
    GM é a detentora da marca Chevrolet (Divulgação/Chevrolet)

    Desde o fim de janeiro a GM tem operado no Brasil um plano de reestruturação que visa a reverter um prejuízo declarado por três anos seguidos no país – apesar de ter a marca (Chevrolet) e o carro (Onix) mais vendidos em nosso mercado.

    Liderado pelo presidente da fabricante na América do Sul, Carlos Zarlenga, o plano foi motivado por uma declaração da CEO global do grupo, Mary Barra.

    Durante o Salão de Detroit, a executiva afirmou a jornalistas locais que “não iria continuar investindo em mercados onde estava perdendo dinheiro”, tais quais… a América Latina.

    Tão logo voltou dos Estados Unidos, Zarlenga enviou uma carta aos colaboradores brasileiros da empresa alertando para a “situação crítica”. Na missiva, apontou que “sacrifícios seriam necessários”.

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    carlos-zarlenga
    Carlos Zarlenga, presidente da GM Mercosul (Divulgação/Quatro Rodas)

    Especialistas interpretaram a ameaça como um blefe, mas desde então a GM iniciou um levante para cortar custos em quatro frentes: concessionários, trabalhadores, fornecedores e governantes.

    Segundo a companhia, do sucesso desse plano depende um pacote de R$ 10 bilhões em investimentos previstos para o Brasil entre 2020 e 24.

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    É esse pacote que deve gerar produtos como as novas gerações de S10 e Montana, além de uma picape intermediária, outros modelos inéditos – em especial SUVs – e a renovação da fábrica de São José dos Campos (SP).

    Mas, afinal, a empreitada deu certo? Até o momento, o saldo parece bastante positivo para a GM. QUATRO RODAS conta agora quatro conquistas e três negativas que a fabricante logrou desde o início do caso.

    Os quatro “sins”

    Fábrica da GM em São José dos Campos (SP)
    Fábrica da GM em São José dos Campos (SP) (Divulgação/Chevrolet)
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    1. Novo percentual de comissão a concessionários: a primeira medida foi impor a redução de um ponto percentual, de 5% para 4%, nas comissões pagas aos concessionários a cada veículo vendido. Esta foi aceita sem nenhuma resistência.
    2. Negociação com trabalhadores de São José: a GM enviou ao Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, onde são produzidos os irmãos S10 e Trailblazer, além de caixas de câmbio manual, uma proposta de redução de benefícios em 28 tópicos. Desses, os trabalhadores concordaram com dez pontos, em troca da promessa de um investimento de R$ 5 bilhões para renovar a estrutura do complexo.
    3. Redução em contratos com fornecedores: QUATRO RODAS publicou com exclusividade que a fabricante determinou uma redução de 4% nos valores pagos por componente a todos os seus fornecedores. Ainda não está claro quantas empresas parceiras aceitaram ou não este ajuste em seus contratos.
    4. Isenção fiscal junto ao governo estadual de São Paulo: no fim da semana passada o governador de São Paulo, João Doria, anunciou que dará até 25% de desconto em ICMS para fabricantes automotivas instaladas no estado. O programa, chamado “IncentivAuto”, prevê como contrapartida o investimento de pelo menos R$ 1 bilhão e geração de pelo menos 400 empregos. Porém, se a empresa atingir R$ 10 bilhões em investimentos, pode requerer isenção total do tributo. Coincidência ou não, é exatamente o montante prometido que a GM promete investir em seu plano de reestruturação. Doria tomou a medida após pressão da dona da Chevrolet, claro, mas também para tentar tornar mais vendável a fábrica da Ford em São Bernardo do Campo, que será fechada no fim deste ano.

    Os três “nãos”

    Fábrica da GM em Gravataí produz os modelos Onix e Prisma
    Fábrica da GM em Gravataí produz os modelos Onix e Prisma (Divulgação/Chevrolet)
    1. Incentivos fiscais por parte do governo federal: de acordo com o jornal Valor Econômico, logo após o vazamento da carta-ameaça de Zarlenga, executivos da GM se reuniram com o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa. Dele, teriam ouvido a seguinte frase: “Se precisar fechar [as fábricas], fecha”. Ou seja, o governo federal se mostrou pouco disposto a conceder mais benefícios além daqueles já previstos no recém-aprovado programa Rota 2030.
    2. Negociação com trabalhadores de São Caetano: o Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, que atualmente produz Onix e Prisma Joy, Cobalt, Spin e Montana, recebeu praticamente a mesma proposta de redução de benefícios repassada aos trabalhadores de São José. Entretanto, a companhia recuou antes mesmo de o pacote passar por assembleia entre os funcionários, já sabendo que ele seria rejeitado. Tudo porque há um acordo coletivo vigente até 2020.
    3. Negociação com trabalhadores de Gravataí: os trabalhadores de Gravataí, fábrica que faz a família Onix/Prisma, também foram “agraciados” com uma lista de possíveis cortes de benefícios. Porém, após paralisação de um dia promovida pelo sindicato local, a GM também voltou atrás e anunciou que “manterá os termos do acordo coletivo vigente até março de 2020”. Mas avisou: “A pauta continuará a ser negociada e concluída até o término do presente acordo”.
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    Ao que tudo indica, o plano está correndo de maneira bem-sucedida. Ainda assim, especialistas e outras fontes ouvidas pela reportagem desde que a polêmica se instaurou alertam para um possível desgaste da marca em longo prazo.

    “Expor uma crise dessa maneira, especialmente sendo a fabricante líder em vendas no país, pode afetar a credibilidade deles no futuro”, avaliou Antonio Jorge Martins, coordenador acadêmico de cursos automotivos da FGV, em entrevista a QUATRO RODAS concedida em janeiro.

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