O novo Renault Sandero já foi avaliado pelo Latin NCAP (programa de segurança viária para América Latina e Caribe). O resultado saiu nesta quarta-feira (11): três estrelas para adultos e quatro para crianças.
O teste foi patrocinado pela marca francesa. Só que o resultado não saiu como a fabricante esperava, pelo menos num primeiro momento, devido a uma discrepância entre as versões colombiana e brasileira do modelo.
Informações obtidas em primeira mão por QUATRO RODAS dão conta de que o hatch produzido em São José dos Pinhais (PR) foi avaliado não uma, mas sim duas vezes pela entidade, porque apresentou inicialmente um desempenho pífio na prova de impacto lateral a 50 km/h e de poste a 29 km/h: apenas uma estrela para adultos.
Nossa reportagem apurou que, no primeiro teste, o compacto recebeu classificação “pobre” (a pior possível) na proteção para o tórax do passageiro adulto, abaixo do que a própria Renault esperava.
Isso porque unidades da versão colombiana do Sandero também passaram pelos testes e, surpreendentemente, receberam uma avaliação ligeiramente melhor nesse mesmo quesito: “fraco”.
Ok, não chega a ser um resultado digno de orgulho, visto que a escala inclui ainda as opções “marginal”, “adequado” e “bom”, mas ao menos foi um resultado superior ao obtido pela versão nacional.
Espantados, os engenheiros da marca correram para descobrir que a diferença entre os dois Sanderos estava basicamente na estrutura das portas laterais e no jogo de bancos dianteiros com airbags.
Produzido em menor volume, o Sandero colombiano é equipado com estrutura de portas, bancos e bolsas infláveis que replicam fielmente os itens do hatch vendido pela Dacia na Europa.
Já o brasileiro usa componentes de fornecedores locais e, assim, possui bancos com construção mais pobre e airbags laterais com quatro litros de volume a menos do que o colombiano.
“[Os airbags laterais do Sandero brasileiro] tinham o tamanho similar ao de duas folhas A4”, contou nossa fonte.
Como o Latin NCAP levaria em consideração o resultado do Sandero brasileiro, a fabricante iniciou uma verdadeira epopeia a fim de promover reforços na segurança lateral do hatch.
O objetivo foi equalizar a segurança do Sandero feito no Brasil em relação àquele montado na Colômbia, e retestá-lo ainda em 2019, antes da virada de protocolo do Latin NCAP (cujos parâmetros ficarão mais rígidos a partir de 2020).
A solução encontrada foi aplicar uma barra de reforço estrutural dentro das portas laterais, próximas ao tórax dos passageiros, e também adotar os airbags laterais usados pelo Sandero colombiano. Ou seja: nossos bancos continuam a ter qualidade pior.
De qualquer forma, na nova rodada de testes, incluindo o lateral a 50 km/h e o de poste a 29 km/h, o Sandero brasileiro comprovou estar ligeiramente mais seguro e aí veio o resultado oficial divulgado pelo programa.
Isso significa que, em algum momento, o Sandero brasileiro passará a ser vendido com proteção aprimorada. Quando isso aconteceu ou acontecerá? Ainda não sabemos.
Mas, segundo o Latin NCAP, todos os Sandero produzidos até 10 de dezembro de 2019 no Brasil, com código final de chassi 93Y5SRZ85LJ319432, serão classificados como detentores de uma estrela.
Apenas após isso a classificação passará a ser três estrelas. O mesmo vale para unidades do hatch feitas na Argentina até 3 de dezembro, e colombianas produzidas até 18 de julho deste ano.
Procurada, a assessoria da Renault não respondeu confirmando a história ou apontando sobre o início efetivo da produção em série do hatch atualizado até a publicação desta reportagem.
Esta não é a primeira vez que a Renault tem problemas na América Latina por causa de airbags. Em agosto, a marca tomou uma dura do mesmo Latin NCAP por divulgar na Argentina um modelo de airbags laterais que o subcompacto Kwid não possui.