Desde o início da guerra na Ucrânia, a Renault vem tentando manter as operações na Rússia, onde lidera com largas margens. A montadora francesa, entretanto, acaba de jogar a toalha, vendendo suas operações locais ao governo russo.
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A Renault controlava, desde 2007, 68% da icônica fabricante russa Lada por meio da empresa AvtoVAZ, além de produzir modelos próprios e da Nissan. A união frutífera permitiu que, dos dez carros mais vendidos no país em 2021, três, incluindo os dois primeiros, Vesta e Granta, fossem da Lada, com o Renault Duster em nono lugar.
Ao todo, 30% do mercado automotivo russo pertencia à Renault, com 45.000 pessoas empregadas nas atividades locais. Com as sanções e restrições causadas pela guerra de Vladimir Putin, entretanto, foi se tornando cada vez mais difícil operar no país.
De bilhões a centavos
Segundo The Wall Street Journal, quando deflagrado o conflito, a marca logo procurou um jeito de cessar atividades no país, ao mesmo tempo que produzia o que dava com as peças em estoque nas fábricas locais.
Com o prosseguimento da guerra, porém, o prejuízo foi grande, uma vez que salários e fornecedores eram pagos, mas as vendas despencavam. No final de março, férias coletivas foram dadas para repor estoque e encontrar soluções, que não foram das melhores.
Com valor estimado em R$ 12 bilhões, a fatia da Renault na AvtoVAZ foi transferida para o governo russo, anunciou a agência RIA Novosti. A avaliação de mercado deu lugar ao valor simbólico de um rublo, que, na cotação atual, corresponde a algo como R$ 0,07.
Segundo Denis Manturov, ministro de Comércio e Indústria da Rússia, a montadora francesa poderá comprar sua parte de volta em “cinco ou seis anos”. Manturov não especificou se a recompra seria feita pelo mesmo valor, mas adiantou: qualquer investimento feito por Moscou será cobrado.
Vacas magras
Daqui em diante, tudo que a Renault fazia na Rússia será realizado por órgãos e institutos estatais. A fábrica de Moscou, onde foram produzidos 75.835 carros em 2020 — incluindo o Nissan Terrano e os Renault Duster, Kaptur e Arkana — já está em posse do regime de Putin, disse o ministro.
Segundo a imprensa local, os funcionários da AvtoVAZ trabalharão quatro dias por semana, durante os próximos três meses. Em maio, a ideia é gastar o estoque feito durante as férias forçadas, com problemas graves começando em junho.
Em entrevista à rádio Sputnik, o jornalista automotivo Maksim Kadakov traçou um panorama sombrio para a Lada, que já vende 37% a menos que no ano passado. “Carros em versões sem nenhum componente eletrônico como, por exemplo, ABS, serão feitos a partir de junho”.
“Posso dizer que esses carros em versões simplificadas não parecerão ‘farrapos’, serão carros normais. A AvtoVAZ se esforçará bastante para que pareçam bons veículos”. Segundo Kadakov, tais modelos serão mais baratos e “quem comprar um desses carros entenderá que o carro terá coisas faltantes, mas seguirá sendo um carro”.
Horizonte sombrio
Com a saída da maior fabricante de carros da Rússia, analista já veem um “guia” para outras montadoras, completou o WSJ. A Stellantis, por exemplo, já interrompeu atividades no país, citando dificuldades logísticas e sanções.
Parlamentares russos agora buscam aprovar uma nova lei, que permita o confisco de bens das empresas que saiam do país em resposta à guerra na Ucrânia. A medida tem o apoio de Putin e, em sua justificativa, busca defender os empregos e evitar falências.