A música Acenda o Farol, de Tim Maia, não poderia estar mais atual. O que a canção propunha já nos anos 70 virou lei. E o mais importante: essa atitude, tão simples, causa um impacto significativo na segurança.
Para comprovar o quanto a legislação que obriga o uso do farol baixo de dia nas rodovias é importante para sua segurança, QUATRO RODAS realizou um teste prático.
Nosso ponto de partida foi a Lei 13.290, aprovada em julho de 2016. No texto original, há a seguinte informação: “O uso dos faróis durante o dia permite que um veículo trafegando em sentido contrário seja avistado a cerca de 3 quilômetros de distância”.
Para comprovar o quanto a informação é verdadeira e exata, simulamos uma situação em nosso experimento.
Selecionamos três modelos de cores diferentes e com tipos de faróis diversos: um Audi A3 Sedan branco com faróis de xenônio, um Honda HR-V cinza com lâmpadas halógenas e um Nissan Kicks prata com faróis halógenos.
Em uma estrada de pista simples, medimos a que distância cada automóvel era visualizado.
“Já no começo do teste foi possível identificar que todos os modelos se destacavam no horizonte com os faróis baixos acesos. Quando apagados, todos se camuflavam na paisagem, sobretudo os mais claros, caso do A3 e do Kicks”, diz o perito Márcio Montesani, do Núcleo de Perícias, que fez todas as medições na pista.
O resultado é surpreendente: enquanto o carro com faróis apagados é visto a 300 metros de distância, o veículo de faróis ligados é percebido a até 2.000 metros.
Como foi feito o teste
Em uma estrada de pista simples fechada, medimos a percepção visual de três veículos de cores diferentes, com faróis acesos e apagados de dia.
Resultados
Os peritos constataram que o carro com farol aceso de dia aumenta em até 567% a distância em que é percebido, quando comparado a outro de luzes apagadas.
“Foi determinante o fato de o veículo com farol apagado se camuflar na paisagem, enquanto o de farol aceso fica em destaque no horizonte”, explica Márcio Montesani.
Os testes mostraram que o carro com as luzes apagadas é notado a 300 metros. Já o veículo com farol baixo aceso – seja de lâmpadas halógenas, ou de xenônio – fica perceptível a 2.000 metros.
Simulamos como seria essa condição numa estrada pública com todos os carros rodando a 120 km/h. “Sem o estímulo da luz, só percebemos a presença do automóvel quando ele entrar na nossa visão periférica.”
O que aconteceria se os carros estivessem a 120 km/h, nos dois sentidos:
300 m
É a distância em que você identificaria o veículo de farol apagado – e teria assim 4,5 segundos para reagir em uma possível colisão
2.000 m
É a distância em que você identificaria o veículo de farol aceso – e teria assim 30 segundos para reagir em uma possível colisão
Tempo de reação
Na situação ilustrada aqui, com os veículos a 120 km/h nos dois sentidos, um motorista perceberia o carro de faróis apagados só a 300 metros de distância.
Assim, segundo cálculos da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), um condutor jovem teria cerca 3 segundos para identificar o automóvel numa rota de colisão e reagir, a fim de evitar a batida.
De acordo com a Abramet, esse tempo é insuficiente na maioria dos casos, o que causaria um acidente se um deles estiver invadindo a pista.
POLÊMICAS
A lei do farol foi alvo de críticas no início. Chegou a ser suspensa por uma liminar, devido à falta de avisos nas rodovias.
“Os mesmos questionamentos surgiram com a obrigatoriedade da utilização do cinto de segurança, que também começou obrigatório apenas em estrada, e hoje ninguém questiona a eficácia do equipamento”, diz o autor da lei, deputado Rubens Bueno.
Um ano após a lei entrar em vigor, em julho de 2016, os acidentes já diminuíram. Nesse período, foram registradas 2.444 colisões frontais de dia em estradas de pista simples – 10% menos que os 2.686 acidentes similares no ano anterior à determinação, segundo a Polícia Rodoviária Federal.
“Boa parte dos acidentes que ocorrem em rodovias de pistas simples é frontal e é recorrente a alegação dos motoristas de que não houve tempo hábil para evitar a colisão, pois viram o outro carro quando já estava muito próximo”, conta Carlos Campos, gerente de segurança da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp).
Para o especialista, não há dúvidas de que o uso do farol baixo de dia torna o veículo bem mais visível.
A medida já é adotada em vários países do mundo. Nos Estados Unidos, a prática reduziu em 5% as colisões entre veículos e em 12% os acidentes envolvendo pedestres e ciclistas, segundo a NHTSA (sigla em inglês da Associação Americana de Segurança Viária).
Os pesquisadores constataram que os acidentes seriam motivados em parte pela confusão visual entre a cor dos veículos (geralmente azuis ou pretos) e a do céu e do asfalto.
O uso dos faróis durante o dia também é lei na Argentina, onde desde 2015 já reduziu os choques frontais em até 28%.
OPINIÃO CONTRÁRIA
Mas nem todo mundo é a favor da nova lei. O ex-presidente da Comissão de Trânsito, Transporte e Mobilidade da OAB/PR, Marcelo Araújo, considera que a lei é inconsistente e confusa.
“A resolução obriga o uso dos faróis apenas em estradas e confunde o cidadão quando informa que ela continua válida em rodovias que cortam perímetros urbanos”, diz o advogado.
Segundo ele, o motorista deveria saber claramente onde pode ser autuado, mas a sinalização ainda é deficiente.
Para Araújo, pode haver até um aumento de acidentes com motos nas estradas. “As motocicletas são obrigadas a rodar com o farol aceso em todas as vias desde 1998, mas a nova lei pode torná-las menos visíveis entre os carros também iluminados. E isso aumenta o risco de acidente por elas serem mais vulneráveis”, diz.
O que não há dúvida, porém, é que, com base no nosso teste, dá para garantir que trafegar com os faróis acesos de dia torna o veículo mais visível e, portanto, mais seguro.
E após um ano da lei, a redução de acidentes frontais só mostra que a medida era mais que necessária.
O DRL SERÁ OBRIGATÓRIO
Como ele é aceito pela lei dos faróis acesos de dia, quem tiver um carro com DRL não precisa ligar as luzes baixas de dia em rodovias.
O dispositivo foi criado para equipar carros que rodavam em países com clima temperado, nos quais a luminosidade durante o dia é baixa.
“O DRL oferece a comodidade da automação aliada a uma maior capacidade de iluminação”, diz Alessandro Rubio, da SAE Brasil.