Com pompa e presença de jornalistas de todos os continentes, a Volvo apresentou o novo EX90, SUV elétrico de sete lugares que substituirá o XC90. A proporção do evento faz jus ao modelo, que impressiona em vários aspectos mas, principalmente, na tecnologia.
O EX90 estreia o chip Drive Orin, da Nvidia. Com tamanho semelhante a um cartão de crédito, a peça substitui o que, em um carro convencional, seriam dezenas de sensores que monitoram parâmetros do motor, central multimídia, airbags, recursos de auxílio à direção, pressão dos pneus e por aí vai.
Os 280 trilhões de cálculos que o EX90 faz por segundo, entretanto, não são os únicos números impressionantes do modelo: a bateria de 111 kWh pode alimentar uma casa por semanas e garante autonomia de 600 km em ciclo WLTP. A versão inicialmente disponível, com um motor em cada eixo, tem fartos 517 cv e 92,8 kgfm.
Fabricado nos Estados Unidos e China, o EX90 chegará ao Brasil no primeiro trimestre de 2024, substituindo o atual carro-chefe da Volvo no país, o XC90.
Uma nova era
A mudança na nomenclatura da linha SUVs da Volvo não é mero marketing, mas sim algo mais simbólico. Começando com o EX90, a sueca revelará um modelo 100% elétrico por ano, de modo que, em 2030, não venda mais nenhum carro zero-km com motor a combustão.
Dessa forma, o novo modelo chega para marcar (e acelerar) essa transição. Pessoalmente, o EX90 é mais disruptivo no visual do que parece, aproveitando elementos dos Volvo elétricos e os explorando com mais intensidade. É o caso do painel que substitui a grade: no C40, por exemplo, ela é menor e separada do resto do capô; no EX90, ela faz parte do para-choque. Como a transição elétrica da Volvo já é intensa, é como se os suecos não precisassem mais “fingir” em seus BEVs, unindo forma a função de maneira mais atrevida.
Isso também vale para as peças de iluminação dianteiras, formadas por pequenos retângulos de leds que funcionam como DRLs e, quando o motorista aciona os faróis, se recolhem. Na traseira, tão ousada quanto, há lanternas em C que se opõem e são completadas por pontilhados luminosos onde ficariam, normalmente, luzes verticais da família XC.
Por dentro, a mudança é tão radical quanto minimalista, e a tela de 14,5’’ chega “turbinada” pelo Google, prometendo ser uma das melhores centrais multimídia do mundo. O quadro de instrumentos é flutuante e bem horizontalizado, enquanto o volante tem botões sensíveis ao toque que aparecem apenas quando o carro está ligado.
Tecnologia inédita
Para compreender a revolução tecnológica promovida pelo EX90, é preciso lembrar que, para criar bons carros autônomos, as montadoras precisam criar, antes, “cérebros artificiais” que compreendem o trânsito tão bem quanto um motorista humano.
É aí que entra a Nvidia, cuja parceria com a Volvo já foi explicada antes por QUATRO RODAS. Na prática, os mais diversos chips e sistemas eletrônicos do carro serão concentrados no inédito chip Drive Orin. Como ele concentra absolutamente todas as funções do carro, é possível cruzar em tempo real os mais diferentes aspectos de modo inédito. Além dela, a Qualcomm se junto aos suecos para fornecer o Snapdragon Cockpit, que deve elevar a fluidez e capacidade das interfaces do modelo.
O potencial é tão grande que a própria marca assume não haver como extraí-lo ao máximo… Ainda, pois a inteligência artificial permitirá que o EX90 siga aprendendo. Assim, à medida que os engenheiros da Volvo desenvolvem melhores softwares e a inteligência artificial é alimentada por dados que vêm de motoristas ao redor do planeta, uma mesma unidade do carro seguirá evoluindo, eventualmente chegando à condução autônoma.
Enquanto isso não acontece, o SUV usará a inteligência artificial para prever a mente do motorista, exibindo informações antes que elas sejam solicitadas, por exemplo. Os algoritmos, claro, também servem à segurança, e a câmera instalada no painel conseguem, segundo a fabricante, medir o nível de concentração do motorista e até o seu estado de eventual embriaguez apenas pelo olhar.
Caso esteja distraído, o condutor sentirá cutucões através dos bancos e do volante; caso ele durma ou passe mal ao volante, por exemplo, o carro consegue parar em local apropriado e chamar serviços de emergência automaticamente.
Por fim, há a preocupação de que toda essa imensidão de informações seja compreendida pelo motorista. Para tanto, os suecos fizeram a parceria com a Epic Games, a fim de utilizar o motor gráfico Unreal Engine. Em termos gerais, é a tecnologia dos videogames com gráficos mais fiéis do mundo sendo usada no head-up display e nas telas do carro.
Cidadão exemplar
Para que tamanha “empatia” com as causas ambientais e sociais fizessem sentido, a Volvo afirma ter calculado cada detalhe do EX90 pensando no coletivo. Além de materiais nos tapetes e estofamento, por exemplo, que totalizam 48 kg de plásticos reciclados, o SUV tem 15% do seu aço e 25% de seu alumínio reaproveitados de alguma fonte.
Outro aspecto importante é a capacidade que o EX90 tem de enviar energia ao sistema elétrico, e não apenas consumi-la — aspecto significativo quando as baterias de 111 kWh equivalem ao consumo de uma casa brasileira ao longo de quatro semanas, aproximadamente.
É algo que tende a ser regra no mundo do futuro, onde haverá maior variação na oferta de energia por conta do avanço de fontes renováveis. Assim, para equalizar oferta e demanda, os carros servirão como powerbanks gigantes: em momentos como a madrugada (menor demanda), será possível encher a bateria gastando menos.
Caso haja pico de consumo e o EX90 esteja ligado aos carregadores, o carro pode vender energia à rede, utilizando sua inteligência artificial para identificar o quanto pode ser descarregado sem comprometer os planos do dono no dia seguinte. São funções já inseridas no utilitário, mas que precisarão de leis locais para serem liberadas.