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Os bastidores (e perrengues) do comparativo entre Gol GTI e Corsa GSI

Teste comparativo entre esportivos nacionais sofreu atrasos e correu risco de não sair, com a capa da edição já pronta, na gráfica

Por Paulo Campo Grande Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 jan 2025, 20h28 - Publicado em 12 jan 2025, 19h00
Corsa gsi x Gol GTI
GTI x GSi 16V: foi um perrengue, mas a capa ficou bonita (Reprodução/Quatro Rodas)
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A capa de novembro de 1994 foi um comparativo de encher os olhos dos admiradores dos esportivos nacionais: Chevrolet Corsa GSi e VW Gol GTI. Lançados naquele mês, cada um desses modelos trazia sua receita própria de esportividade, mas a principal diferença entre eles era a motorização. Enquanto o Volkswagen tinha motor 2.0, de quatro cilindros, com oito válvulas, duas por cilindro, o Chevrolet era equipado com motor 1.6, de quatro cilindros, com 16 válvulas, quatro por cilindro. Um apostava no deslocamento volumétrico; o outro, no cabeçote multiválvulas.

Na pista de testes, foi um pega interessante. O Gol superava o rival em potência e torque. Eram 109 cv a 5.250 rpm e 17 kgfm a 3.000 rpm, contra 108 cv a 6.200 rpm e 14,8 kgfm a 4.000 rpm. Mas o Corsa pesava menos: 945 kg, ante 1.010 kg. A relação peso/potência do Chevrolet era de 8,7 kg/cv diante de 9,2 kg/cv, do Volkswagen.

No final das contas, o Corsa foi mais rápido na aceleração de 0 a 100 km/h, com o tempo de 7,2 segundos, contra 7,5 segundos do Gol. E chegou a 195,5 km/h de velocidade máxima, contra 185,1 km/h. O Gol, em razão do torque maior, deu o troco nas retomadas de velocidade.

Corsa x GOl
Enquanto o Gol era um 2.0, o Corsa tinha motor 1.6 16V. O primeiro apostava no deslocamento; o outro, no cabeçote multiválvulas. Um pega interessante (Reprodução/Quatro Rodas)

Coube a mim fazer esse comparativo. Sim, eu já andava por aqui, e foi muito bom ver essa efeméride na seção Marcha a Ré, na edição de novembro. Recordar é viver.

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Dizem que o tempo cura dores e isso é a mais pura verdade. Explico. Esse comparativo sofreu diversos reveses e quase não conseguimos publicá-lo naquele mês. Acontece que a GM emprestou o carro para o teste na data combinada. Tudo certo. Mas a VW, não. A assessoria de imprensa da empresa avisou que a chegada do Gol, uma unidade pré-série, atrasaria, mas, para ajudar na produção da revista, a fábrica forneceria uma unidade do carro para as fotos antes e outra para testes depois – mas a tempo da realização da pauta.

A primeira parte do plano funcionou: uma unidade do Gol veio e foi fotografado pelo saudoso Pedro Rubens, fotógrafo do Estúdio Abril, junto com o Corsa, sem a necessidade de pedirmos uma extensão do empréstimo para a GM. Mas os dias foram passando, o Corsa foi testado, devolvido e nada da unidade do Gol para teste chegar.

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Foi preciso negociar um prazo maior com a gráfica para entregar a revista para impressão, porque chegou a data de fechamento da edição, a revista pronta, incluindo a capa, e o principal teste ainda não existia.

Entregamos todo o material para a gráfica na data originalmente prevista, que era uma sexta-feira, prometendo enviar as páginas do comparativo na segunda-feira seguinte – a VW assegurou que não passaria do sábado. Meu plano: testar o carro no sábado e escrever o comparativo no domingo. Fortes emoções.

Naquele tempo, fazíamos os testes de aceleração, retomada, consumo em Limeira (SP), como até hoje, e velocidade máxima no Centro Técnico da Aeronáutica (CTA), em São José dos Campos (SP). A VW disse que o carro iria para essas pistas em um caminhão da fábrica, acompanhado por um grupo da engenharia. Concordamos, mas com a condição de que os engenheiros não interferissem em nosso trabalho e não pedissem para ver os resultados antes da publicação.

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Corsa gsi x Gol GTI
(Reprodução/Quatro Rodas)

Sábado de manhã devo ter chegado pelo menos uma hora antes do combinado na pista do CTA (sempre faço isso). Aguardei ansioso o caminhão da VW chegar. Ele foi pontual. Gol na pista, enquanto eu instalava o equipamento de testes, começou a chover. Ou seja: sem condições para medições.

Há males que vêm para o bem, porém. Porque o equipamento, o famoso Correvit, resolveu não funcionar naquela manhã chuvosa. Liguei o sistema e nada. Como eu não podia entrar na pista sob aquela chuva, tive tempo para trocar os cabos de alimentação do sistema e do sensor (a chamada quinta roda óptica) e o equipamento funcionou. Não, eu não havia instalado errado. Porque chequei tudo antes de optar pela troca dos cabos. A chuva durou o tempo suficiente para que eu resolvesse o problema. E, embora a pista continuasse molhada, seu escoamento era eficiente e não atrapalharia a medição da máxima.

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No caminho para Limeira, parei para almoçar. Quando cheguei à pista, o Gol já estava lá, e não houve mais contratempos. Fiz todas as medições, fui para casa e no dia seguinte para a redação. Segunda-feira, a gráfica recebeu o material.

Hoje, dou risada do perrengue que passei. E lembro desses carros com saudade, cada qual com suas características de comportamento. O Gol agradou pela posição de dirigir e a estabilidade nas curvas. O Corsa tinha a suspensão mais macia e a direção mais leve, mas também permitia uma tocada esportiva, talvez mais refinada. O texto não aponta um vencedor. Deixa para o leitor decidir. Relendo o comparativo hoje, penso que foi a melhor solução mesmo. Porque, passados 30 anos, eu ainda não saberia dizer qual dos dois merecia ganhar.

Jornalista fala sobre diferentes assuntos, reflexões e memórias que considera interessantes para compartilhar com os leitores.
(Arte/Quatro Rodas)
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