A sorte do Renault Captur mudou desde sua reestilização, lançada em julho de 2021. Desde que ganhou visual atualizado e a oferta do motor 1.3 TCe, turbo com injeção direta flex, seu melhor mês de vendas foi outubro de 2021, com 1.193 emplacamentos.
O desempenho do SUV compacto, contudo, chegou ao fundo do poço em setembro deste ano, com meros 69 carros emplacados. É o resultado de uma queda constante que se estende desde abril e está diretamente relacionada com a guerra da Ucrânia, que teve início em 20 de fevereiro.
Kaptur conká
Enquanto a Europa tem seu próprio Renault Captur, um SUV pequeno e baseado no Clio, apenas o Brasil e a Rússia produziam uma versão com design parecido, porém maior e mais alta por ser baseada na plataforma do Duster, ajudando a conter os custos e ter um carro mais adequado às necessidades dois dois mercados em desenvolvimento. A principal diferença é o nome: Kaptur, na Rússia.
Havia um intercâmbio de componentes entre as fábricas de São José dos Pinhais (PR) e Moscou (Rússia). Mas se a paralisação das atividades da Renault na Rússia, em março, acendeu um sinal de alerta, a continuidade da guerra e a venda das operações da Renault (na verdade, a AvtoVaz) ao governo Putin, em maio, condenou a existência do Renault Captur brasileiro.
Como bem sinalizou a Mobiauto em agosto, o Renault Captur chegou a ser desacreditado. Sairia de linha antes do final de 2022, quase dois anos antes do que o cronograma da Renault previa.
O grande problema, de acordo com fontes de QUATRO RODAS, seria uma lista de 30 peças, com direito a partes de estamparia, que tentaram passar a fabricar no Brasil e não conseguiram.
O golpe de sorte foi a Renault ter conseguido importar um grande lote destas 30 peças para garantir a continuidade da produção do Renault Captur pelo menos até o final de 2023. Será uma sobrevida que permitirá quase cumprir o cronograma original do SUV compacto. Logan e Sandero sairão de linha quase no mesmo momento.
Procurada para comentar, a Renault enviou o seguinte comunicado:
“A Renault continuará produzindo o Captur e não há previsão de descontinuá-lo. Há problemas na produção, como têm acontecido com diversas marcas, mas irá se normalizar.”
Substituto virá em 2024 e também foi afetado
A Renault não terá nenhum lançamento de carro inédito fabricado no Brasil até 2024. É o tempo necessário para o desenvolvimento do Projeto HJF, codinome de um novo SUV que ocupará o espaço do Duster e do Captur.
Com a guerra, o projeto HJF, que seria compartilhado com a Rússia, passou a ser encabeçado pela filial brasileira. Tudo que não for aproveitado de carros da Dacia baseados na plataforma CMF-B, como a nova geração do Sandero, será desenvolvido no complexo de São José dos Pinhas (PR).
O investimento é de R$ 2 bilhões e contempla a adaptação da fábrica a uma nova plataforma e também a fabricação local do motor HR10, um três-cilindros 1.0 12V turbo com injeção direta, que será flex no Brasil. E existe a possibilidade de ele ser usado futuramente em um conjunto híbrido.
Além disso, este motor será combinado a um câmbio exclusivo para os mercados da América Latina: um automatizado de dupla embreagem (DCT) e seis marchas. Nada de câmbio CVT. Este conjunto promete maior eficiência e uma dinâmica muito melhor que aquela proporcionada pelos atuais câmbios CVT usados pela Renault.
Mas, conta-se, este câmbio DCT terá caixa seca, tipo de sistema que ganhou fama de problemático em outros carros vendidos no Brasil, ao contrário dos DCT com embreagens imersas em óleo. De toda maneira, será o conjunto mecânico mais sofisticado já visto em um Renault nacional.