Hoje em dia, é quase impossível que uma fabricante renegue o volume de vendas que um SUV traz. Volvo e Audi perceberam isso há um bom tempo e, em 2022, os médios XC60 e Q5 foram seus respectivos líderes de venda no Brasil.
Também em 2022, ambos receberam incrementos semelhantes. O Audi Q5, tanto na carroceria SUV quanto na Sportback testada, estreou variante híbrida plug-in (que não acaba com as 2.0 preexistentes). E o Volvo XC60, que já era híbrido, incrementou seu elogiado conjunto mecânico, que agora está mais potente e tem baterias maiores, garantindo tanto maior alcance apenas com o motor elétrico quanto, em teoria, permitindo que o seu 2.0 turbo funcione mais tempo em regime de alta eficiência e menor consumo.
Em teoria, pois comparado ao XC60 Polestar Engineered testado em 2020, o novo XC60 Ultimate está bebendo mais. Sempre a gasolina, o consumo urbano caiu, entre as atualizações, de 18,8 km/l para 18,4 km/l. O rodoviário despencou de 16,8 km/l para 12,1 km/l. Em contraste, o novo modelo está mais rápido e vai de 0 a 100 km/h em 5,2 s (0,7 s a menos que a antiga versão esportiva).
Mas o Audi Q5 não apenas anda mais – vai de 0 a 100 km/h em 5,1 s – como se saiu melhor ao marcar 19,1 km/l (cidade) e 14 km/l (estrada) na prova de consumo.
Os bons números do SUV alemão (fabricado no México) são parte do apelo esportivo que o modelo tem intencionalmente, a começar pelo caimento cupê da traseira (uma febre global) e passando pelo volante de base chata e a tração integral quattro. No interior, porém, o Q5 deixa a desejar e, mesmo confortável e espaçoso, peca na presença de plásticos duros com aspecto simplório ou em controles, como os botões de ar-condicionado que, na unidade avaliada, pareciam levemente mal encaixados.
O volante de base chata, a propósito, é exclusivo da versão Performance Black (R$ 469.990) das fotos, assim como detalhes em preto brilhante na carroceria. A fim de equilibrar a disputa, todavia, este comparativo considera o Q5 na versão Performance (R$ 443.990), que ainda abre mão de funções como assistente de saída em ré e de mudança de faixa. São equipamentos presentes em modelos de entrada de marcas generalistas, mas que faltam no SUV médio de quase meio milhão da Audi.
O Volvo XC60 Ultimate (R$ 439.950), em via contrária, esbanja recursos de segurança. Um deles freia o carro automaticamente em balizas e inclusive livrou o repórter de, pela primeira vez, raspar um modelo de testes na garagem de casa. O sistema City Safety reconhece até pedestres, ciclistas e animais de grande porte, freando e esterçando o volante para evitar ou minimizar uma colisão.
A sueca também sabe utilizar melhor a tecnologia como parte do estilo interior, e tem parceria com o Google, que leva à central multimídia e ao quadro de instrumentos identidade visual dos smartphones. É possível utilizar o Google Maps direto na tela do carro, mas, em compensação, a ausência do Android Auto limita o uso do Waze aos donos de iPhone, via Apple CarPlay (o Waze chegará em breve à central do XC60). Com volante minimalista e decoração sóbria (mas elegante), é um exemplo curioso de carro que parece não fazer questão de exibir seus atributos de performance.
Em movimento, a diferença de propósitos fica menos evidente por conta da dinâmica veicular do Q5 Sportback, versátil. O modelo é mais um da Audi com suspensão elogiável e, na cidade, balança pouco e é dócil até em vias mais esburacadas. O Volvo, por outro lado, tem amortecedores duros e que transferem os solavancos sem muito pudor, atrapalhando a boa experiência proporcionada por sua posição de dirigir elevada.
Na estrada, o modelo sueco (fabricado nos Estados Unidos) arranca sem deixar a desejar, e, no modo de condução mais esportivo, utiliza a tração integral para ser ainda mais esperto. Mas o Q5 vai além e conta com tração integral permanente, que se soma, outra vez, ao acerto da suspensão para torná-lo um modelo provocante, cujo comportamento em rotas sinuosas é divertido.
Outro ponto a seu favor é o câmbio de sete marchas com dupla embreagem e trocas ágeis. Sobre o automático de oito velocidades da Volvo também não recaem críticas, salvo o fato de não haver borboletas no volante ou um real estímulo nos sistemas do carro para que o condutor assuma a transmissão de vez em quando.
Os ocupantes da segunda fileira de bancos não sentirão tanta diferença entre os modelos quando o assunto é espaço, mas a vitória é sueca: o XC60, além de ter centimetros extras por conta de sua traseira proeminente, ganha no volume do porta-malas (468 l x 455 l) e na distância entre-eixos (2,87 m x 2,82 m). O Audi Q5 também tem ângulos de entrada e saída menores, mas vence um aspecto importante ao oferecer maior espaço às pernas de quem vai atrás. Ambos os modelos, porém, atrapalham a vida de quem viaja no meio, por conta do elevado túnel central.
Na estrada é impossível abdicar ao motor a gasolina, uma vez que ele é o mais eficiente em altas velocidades. Mas, na cidade, os dois SUVs podem cumprir a rotina de segunda a sexta sem queimar uma gota de gasolina. Preferencialmente, claro, se o proprietário adquirir, junto ao carro, o carregador doméstico tipo wallbox.
O XC60 ganhou, neste ano, incremento de 62% na capacidade de sua bateria, indo para 18,8 kWh de capacidade energética. Com a carga total, tem-se 78 km (WLTP), que dão e sobram para a grande maioria dos deslocamentos diários. Nesse caso, a locomoção será feita pelo motor traseiro de 145 cv e 31,5 kgfm, que tem os atributos necessários para viagens urbanas ágeis e sem “moleza”.
O Audi Q5 Sportback não é um mau elétrico, mas sua bateria de 17,9 kWh acaba rendendo bem menos que o concorrente, entregando apenas 51 km de alcance (WLTP) com células cheias. Ainda que a fabricante destaque o GPS que utiliza dados de trânsito em tempo real para otimizar a autonomia, é perceptível que o superior direto do XC40 rende melhor a eletricidade do que o irmão mais velho do Q3.
Quando o assunto é carregamento, ambos os modelos podem ser conectados apenas à corrente alternada, seja com o adaptador para tomadas domésticas, seja com o plugue tipo 2, praticamente o padrão brasileiro. Na potência máxima de 7,2 kW, o Q5 leva 2h30 para encher completamente sua bateria (10h em tomada residencial). O Volvo XC60, por outro lado, deixa a desejar pela potência máxima de 3,6 kW, levando 5h para encher sua bateria em carregadores AC e cerca de 12h quando ligado a uma tomada residencial.
Em um futuro breve, tanto o XC60 quanto o Q5 deixarão de existir, uma vez que, em questão de poucos anos, ambas as montadoras venderão apenas modelos elétricos. A opção sueca será o provável EX60, que reforçará o seu apelo tecnológico e sustentável. Enquanto isso, o Audi Q5 ganhará versão E-tron, assim como o resto da família, que já teve os Q4, Q6 e Q8 recentemente anunciados.
Até que isso aconteça, a eletrificação híbrida segue uma aposta segura neste caso, dado que, sendo os modelos de maior volume de suas respectivas casas, são aqueles que chegam aonde há pouca ou nenhuma infraestrutura de carregamento existente (até por isso, ambas as competidoras desse comparativo estão entre os maiores estimuladores de pontos de carregamento Brasil afora em 2022).
Em comparativo de 2020 (que incluiu o Mercedes-Benz GLC, o Volvo XC60 se saiu vitorioso com o Audi em segundo lugar. Como há dois anos, o Audi segue atrás em quesitos de inovação e segurança, mas isso porque a Volvo é referência em tais assuntos; não que o Q5 seja um carro perigoso ou obsoleto, muito pelo contrário.
Com a recente atualização, o Audi passou a oferecer dois grandes benefícios dos plug-in: baixo consumo e performance esportiva. Andando mais, bebendo menos e com maior conforto por conta do ajuste de suspensão, é como se o Q5 tivesse feito o mínimo necessário para ultrapassar o XC60. E conseguiu, vencendo a comparação desta vez.
Veredicto – O XC60 é elegante e mais tecnológico que o Q5. Mesmo com menos potência e torque, porém, o SUV alemão conseguiu ser mais rápido e mais econômico e demonstrou melhor acerto de suspensão.
Ficha Técnica – Audi Q5
Motor: gas., diant., long., 4 cil., 16V, 1.984 cm³, 252 cv a 5.250 rpm, 37,7 kgfm a 1.600 rpm. Elétrico, dianteiro, 143 cv, 35,7 kgfm; potência combinada, 367 cv; torque combinado, 51 kgfm
Câmbio: automático de dupla embreagem, 7 marchas, tração integral
Direção: elétrica
Suspensão: multilink (diant. e tras.)
Freios: disco ventilado (diant. e tras.)
Peso: 2.075 kg
Dimensões: compr., 468,9 cm; larg., 189,3 cm; alt., 160,9; entre-eixos, 281,9 cm; porta-malas, 455 l
Ficha Técnica – Volvo XC60
Motor: gas., diant., transv., 4 cil., 16V, 1.969 cm³, 310 cv a 6.000 rpm, 40,8 kgfm a 2.200 rpm. Elétrico, traseiro, 145 cv, 31,5 kgfm; potência combinada, 455 cv; torque combinado, 72,3 kgfm
Câmbio: automático, 8 marchas, tração integral sob demanda
Direção: elétrica
Suspensão: braços sobrepostos (diant.), multilink (tras.)
Freios: disco ventilado (diant. e tras.)
Peso: 2.174 kg
Dimensões: compr., 470,8 cm; larg., 190,2 cm; alt., 165,1; entre-eixos, 286,5 cm; porta-malas, 468 l
Teste de desempenho
Aceleração | AUDI Q5 | VOLVO XC60 |
0 a 100 km/h | 5,1 s | 5,2 s |
0 a 1.000 m | 21,6 s – 206,2 Km/h | 25,3 – 181,0 Km/h |
Velocidade Máxima | 210 km/h | 200 km/h (dado de fábrica) |
Retomadas | ||
D 40 a 80 km/h | 2,4 s | 2,5 s |
D 60 60 a 100 km/h | 2,8 s | 3,1 s |
D 80 a 120 km/h | 3,9 s | 3,3 s |
Frenagens | ||
60/80/120 km/h a 0 | 13,6/24,4/55,2 m | 13,5/24,1/54,9 m |
Consumo | ||
Urbano | 19,1 km/l | 18,4 km/l |
Rodoviário | 14,0 km/l | 12,1 km/l |
Ruído interno | ||
Neutro/RPM máx. | L.O/- dBA | L.0/-dBA |
80/120 km/h | 61,6/64,7 dBA | 62,1/65,5 dBA |
Aferição | ||
Velocidade real a 100 km/h | 100 km/h | 100 km/h |
Rotação do motor a 100 km/h em D | – | – |
Volante | 2,5 voltas | 2,7 voltas |
Seu bolso | ||
Preço básico | R$ 443.990 | R$ 439.950 |
Concessionárias | 42 | 39 |
Garantia | 2 anos | 2 anos |
Condições de teste: alt. 660 m; temp., 25,5 °C; umid. relat., 43,0; press., 1.011,5 mmHg