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Bentley Flying Spur

O que o aristocrata britânico tem para arrebatar abonados asiáticos que devem absorver mais da metada de sua produção

Por Joaquim Oliveira
25 set 2013, 00h00
impressoes

Sir Walter Owen Bentley não poderia imaginar que um dia um modelo seu teria na mira o mercado chinês como principal cliente. É justamente o caso do Flying Spur, a versão de quatro portas do Bentley Continental que acaba de receber o mesmo tratamento rejuvenescedor aplicado na versão cupê, no fim de 2012.

Há uma parcela considerável de consumidores na China que não sabe o que fazer com o dinheiro. Estima- se que o número de cidadãos com contas recheadas com mais de 1 bilhão de euros chegue a uma centena, que se somam aos 60 000 chineses com patrimônio na casa dos 15 milhões de euros. São cifras que justificam a previsão de que metade da produção do Spurs será exportada para a China.

Na dianteira, pontifica a grade frontal cromada, agora ainda maior, com aparência de ser capaz de inalar qualquer ínfimo átomo de oxigênio que se atreva a cruzar o caminho das mais de 2,5 toneladas, para ser sacrificado durante a combustão do motor de 12 cilindros em W. Já a traseira surge com um desenho mais horizontal, notadamente nas lanternas. É notória a tentativa, já um tanto desgastada, de dar um ar de cupê a este quatro-portas.

A estrutura foi reforçada para melhorar a resistência à torção, questão delicada num carro de 5,30 metros. O sedã-cupê usa amortecedores variáveis em quatro níveis, que mesmo no ajuste mais duro não causam desconforto, até em piso malconservado. A suspensão se adapta automaticamente ao modo de condução e pode reduzir sua altura: a 195 km/h, desce 1 cm no eixo traseiro e 0,5 no dianteiro; já a 240 km/h, são 0,8 cm à frente e 1,3 atrás.

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O interior está à altura da aristocracia inglesa: duas faustosas poltronas de couro (aquecidas, refrigeradas e agora com massagem), amplas e com bom apoio lateral. Quem tem 1,90 metro está longe de encostar a cabeça no teto e até jogadores da NBA estarão tranquilos quanto ao espaço para pernas. São sete configurações da cabine. Ou 12, se considerarmos a opção da Mulliner, divisão de customização da Bentley, que pode ter um banco corrido de três assentos ou dois individuais atrás. Nesse caso, há um opulento console central com diversos comandos.

Para termos uma ideia do nível de refinamento, basta dizer que o interior pode apresentar até 10 m2 de madeira nobre. O novo monitor tátil de 8 polegadas merece referência mais pela novidade que pela sofisticação. Para quem abre mão do prazer de dirigir, que é o caso da maior parte dos clientes chineses, o melhor é optar pelo pacote Multimedia Specification, com acesso à internet, fones e dois monitores de 10 polegadas atrás dos encostos de cabeça dianteiros, além de várias entradas USB, CD, DVD e HDMI.

É clara a diferença de classes entre bancos dianteiros e traseiros. Alguns comandos (luzes, ESP, computador de bordo) estão escondidos atrás do volante e são de um plástico indigno de um carro do seu porte e preço, assim como o barulhento porta-óculos. Não combinam com o nível geral de acabamento ou o refinamento do relógio Breitling no painel.

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A base de todos os Bentley, à exceção do Mulsanne, que utiliza uma plataforma distinta, é o motor da VW usado no finado Phaeton. É um W12 de 625 cv distribuídos pela tração integral permanente e pelo novo câmbio automático de oito marchas. Eles proporcionam 320 km/h e 4,6 segundos de 0 a 100 km/h. As trocas de marcha são suaves e muito rápidas, contribuindo para que, no modo Sport, o sedã dispare como uma bala nas acelerações fortes – são 81,6 mkgf logo a 2 000 rpm, e assim fica até 4 000. No modo Normal, o carrão se move com mais elegância, até porque as duas primeiras marchas estão “fora de serviço”. As relações da primeira à quinta são bem mais curtas que a sétima e oitava, que se portam como overdrives (mais longas/desmultiplicadas), com benefícios no consumo. A tração nas quatro rodas – em condições normais, a proporção é de 40% à frente e 60% atrás, mas pode ter até 85% na traseira – ajuda a manter o sedã sob controle nas curvas.

O novo Bentley Flying Spur é um colosso de 2,6 toneladas que vale quanto pesa: é igualmente refinado no ambiente da cabine, especialmente na parte de trás, como na condução. O interior é espaçoso e silencioso, como convém a um ambiente diferenciado. São valores universais, capazes de conquistar de ingleses a chineses, de aristocratas a donos de dinheiro novo. Especialmente estes últimos.

VEREDICTO

É o carro para o milionário que no dia a dia vai ao escritório curtindo o luxuoso banco traseiro e, nos fins de semana, faz questão de assumir o volante para acelerar – e muito.

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