A BYD parece ter apertado o passo no Brasil após a chegada da GWM no país. Em apenas dois meses, a chinesa lançou o revolucionário Dolphin, anunciou a instalação de uma fábrica em Camaçari (BA) e agora apresenta o Seal, sedã médio elétrico capaz de andar junto com um Porsche Taycan, mas custando bem menos (até porque tem outro posicionamento).
O preço do Seal, aliás, é um dos seus principais atrativos. Ele custa R$ 296.800. E só não é o sedã 100% elétrico mais barato do mercado porque existe o JAC E-J7, que é um carro bem mais simples, por R$ 234.900. Já o Taycan 4S é bem mais caro: R$ 745.000.
Além do preço interessante, as revisões são gratuitas. Elas mantém a garantia de 5 anos ou 100.000 km, mas a garantia da bateria é de 8 anos.
O modelo é equipado com dois motores elétricos, um em cada eixo (o que caracteriza tração integral), que somam 530 cv e 60,2 kgfm. É a mesma potência de um Porsche Taycan 4S. Em nossos testes, o Seal foi de 0 a 100 km/h em 4 segundos – 0,2 s mais lento que o tempo divulgado pela fábrica e também na comparação com o tempo declarado pela Porsche para o Taycan 4S.
Alinhando com o Tesla Model 3 (que é de fato um rival, embora o Tesla não seja vendido no Brasil), também ocorre um empate técnico de mesma proporção. Nesse caso, porém, a pequena vantagem fica com o chinês, uma vez que o Model 3 cumpre a prova em 4,2 segundos. Mas será que acelerar feito seus pares é suficiente?
Por fora, as linhas do BYD Seal não são por acaso, já que ele remete bastante aos concorrentes da Porsche e da Tesla, com seus traços limpos. Ao contrário de outros chineses, porém, ele não é uma cópia dos rivais. Na dianteira, os faróis full-led, com facho alto automático, têm inspiração nas peças do Taycan. Mas os apliques pretos no para-choque com quatro filetes luminosos lhe dão feições próprias.
De lado, as maçanetas ficam embutidas quando o carro está trancado. Basta destrancar as portas para que elas se projetem. As rodas, de 19 polegadas, têm desenho semelhante ao do SUV da marca, Yuan Plus, com acabamento que mistura preto brilhante e faces diamantadas.
Quando visto de traseira, o sedã em nada lembra os rivais. Suas lanternas, de led, vão de um lado a outro e têm pontilhados nas extremidades, que produzem um efeito tridimensional muito interessante. As luzes de direção são dinâmicas, e as luzes de ré ficam no para-choque, ao lado da placa. A traseira guarda um único porém: a quantidade exagerada de logotipos.
O interior do Seal é caprichado, como em todos os BYD vendidos atualmente no Brasil. O painel é bonito e tem linhas fluidas e limpas, mas mais maduras e sóbrias em relação aos “irmãos” elétricos Yuan Plus e Dolphin. Há acabamento de qualidade, com uma boa mistura de materiais e texturas, como imitação de couro, camurça e plásticos de aparência e toque agradáveis.
O plástico presente no console central e em pequenas porções das portas e do painel tem um desenho que beira o exagero, com estampas que misturam traços pretos com linhas azuis. É uma estampa dispensável, mas que merece perdão pela personalidade assumida pelo modelo.
A cabine guarda ainda outras surpresas, como grandes porta-objetos, dois carregadores de celular por indução (que podem ser utilizados simultaneamente), porta-copos com ajuste de profundidade para abrigar garrafas, luzes ambiente que podem seguir o ritmo da música reproduzida e as saídas de ar fixas.
No caso das saídas, a ventilação é toda controlada pela central multimídia, onde motorista e passageiro podem definir a direção do vento e até funções como oscilação, além da temperatura de cada um, já que se trata de um ar-condicionado digital bizona.
Por falar em central multimídia, também como todo BYD, a imensa tela de 15,6” é giratória e pode ser operada tanto na vertical quanto na horizontal. O sistema tem boas respostas táteis e imagem de qualidade, Android Auto e Apple CarPlay sem fio, e comandos de voz. Mas tem operação complicada por possuir diversos e confusos menus e submenus.
O quadro de instrumentos é representado por tela de 10,25”, também de boa qualidade e com riqueza de informações, e dois tipos de layout possíveis – mas o nível de reflexo incomoda.
Entre os equipamentos, o sedã tem sistema de som assinado com 12 alto-falantes, câmeras 360°, bancos dianteiros com aquecimento e ventilação, head-up display, piloto automático adaptativo, frenagem automática de emergência, leitura de placas de velocidade e alerta de saída de faixa, com correção ativa.
Aqui, há dois incômodos: os alertas de saída de faixa e de velocidade da via são alertas sonoros estridentes e insistentes, que podem funcionar fora de hora – no caso do alerta de velocidade, em rodovias, o radar costuma ler as placas de alças de acesso, normalmente com velocidades menores; assim, os alertas são emitidos por algum tempo, até que a próxima placa da rodovia apareça. Além disso, a correção de trajetória é abrupta e invasiva, e acaba mais assustando que ajudando o motorista.
No quesito espaço, o BYD Seal vai muito bem e leva três pessoas no banco traseiro sem grandes problemas, já que o assoalho é plano e o console central (com saídas de ar e portas USB) não invade a área das pernas. O porta-malas, com abertura e fechamento elétricos, tem 400 litros, bom mas menor que o de sedãs médios vendidos no Brasil, além de um compartimento frontal, debaixo do capô, sem tamanho informado pela marca.
Apesar de todos os seus predicados já ditos, o sedã tem como seu ponto alto a mecânica e, por consequência, o desempenho, não só em termos numéricos, mas dinâmicos. E, para isso, a tração integral é de grande importância. A boa estabilidade também vem da estrutura do modelo, cujo chassi tem a bateria integrada, e não inserida posteriormente, como em outros elétricos.
Isso, segundo a BYD, ajuda o sedã a ter uma base mais sólida e interfere positivamente na dirigibilidade. De fato, o comportamento do Seal alcança patamar digno de carro alemão, com precisão e bom peso da direção, e ajuste firme da suspensão, com vocação esportiva.
Ele contorna curvas com segurança, mas nas cidades o pequeno curso de amortecedores passa as imperfeições do solo para a cabine. Apesar disso, o trabalho da suspensão chega atenuado à cabine e é feito em silêncio – importante quando se fala de carros elétricos, silenciosos.
Nossos testes revelaram ainda uma ótima autonomia. Considerando a bateria de 82,56 kWh e uma média entre os consumos urbano e rodoviário, ele tem um alcance projetado de 665 km, um dos maiores entre os elétricos comercializados no Brasil.
O Seal vai bem em desempenho, espaço interno, equipamentos, acabamento e autonomia. E o fato de ter preço interessante deve incomodar não só os outros elétricos, mesmo em faixas de preços diferentes (como o sedã Han, da mesma marca, que custa R$ 539.990), como os rivais a combustão, na mesma faixa de preço.
Veredicto
O BYD Seal tem custo/benefício imbatível: anda rápido, chega longe, é tecnológico e tem acabamento de primeira.
Galeria de Fotos – BYD Seal
Teste Quatro Rodas – BYD Seal EV
ACELERAÇÃO
0 a 100 km/h – 4 s
0 a 1.000 m – 24 s – 190,4 km/h
Velocidade máxima – 180 km/h* (limitado)
RETOMADAS
40 a 80 km/h – 1,6 s
60 a 100 km/h – 2 s
80 a 120 km/h – 2,6 s
FRENAGENS
60/80/120 km/h a 0 – 13,2/23,1/55 m
CONSUMO
Urbano – 8,6 km/kWh
Rodoviário – 7,6 km/kWh
RUÍDO INTERNO
Neutro/RPM máx. – – / – dBA
80/120 km/h – 3,258,4 / dBA
AFERIÇÃO
Velocidade real a 100 km/h – 98 km/h
Rotação do motor – n/d
Volante – 2,5 voltas
SEU BOLSO
Preço – R$ 296.800
Garantia – 8 anos para bateria, 5 anos ou 100.000 km para o carro, revisões são gratuitas.
Ficha técnica – BYD Seal EV
Motor: elétrico (dois), 530 cv, 60,2 kgfm
Bateria: íon-lítio; 82,56 kWh
Câmbio: automático, 1 marcha + ré, tração integral
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (dianteira) e multilink (traseira)
Freios: disco ventilado Pneus: 235/45 R19
Dimensões: comprimento, 480 cm; largura, 187,5 cm; altura, 146 cm; entre-eixos, 292 cm; peso, 2.185 kg; porta-malas, 400 litros