Carro elétrico vale a pena? GWM Ora 03 enfrenta Hyundai Creta 1.0 turbo

A divisão dos carros por categorias ajuda a organizar o mercado e a balizar os preços. Mas essa regra, normalmente, não é seguida no momento da compra do zero-km. Não é incomum recebermos questionamentos de leitores que estão em dúvida entre um hatch e um SUV, simplesmente porque os dois têm o mesmo preço. E a chegada dos elétricos ampliou esse tipo de situação, não só em número, mas também em virtude da tecnologia completamente diferente.

Com cerca de R$ 150.000 você levaria para casa um Hyundai Creta ou um GWM Ora 03? Sim, trata-se de um SUV compacto equipado com motor 1.0 turbo e de um hatch movido somente a eletricidade.

O Creta convocado para este comparativo é a nova versão Limited Safety, que está mais equipada com tecnologias de auxílio à condução e o Ora 03 entra na briga com o pacote de entrada, Skin, que regula em equipamentos com o SUV. A escolha do Creta é pelo fato de ter sido o carro mais vendido para particulares (pessoas físicas) em 2023 (tirando da conta a venda para empresas).

Já o critério para a escolha do GWM Ora 03 Skin para este embate não foi baseado em vendas, afinal o BYD Dolphin é o elétrico mais vendido do Brasil e o Ora 03 segue em terceiro no ranking de vendas (até abril/2024), atrás do Dolphin Mini. O compacto na sua versão de entrada, Skin, venceu o comparativo contra o BYD Dolphin em nossa pista e, portanto, mereceu a convocação.

Duas propostas 

Em agosto de 2021, a Hyundai atualizou o Creta com mudanças no conjunto mecânico e alteração completa no design. Adotou um estilo polêmico com um conjunto óptico dividido em quatro partes e lanternas igualmente repartidas. Ousou bastante, porém essa ousadia não impediu o sucesso do SUV no mercado.

A dianteira do Ora 03 demonstra evidentes inspirações em Porsche 911, Mini e Fusca graças aos faróis arredondados, que ficam em destaque com o capô mais inclinado. A traseira é o ponto alto do estilo e foge de qualquer comparação, principalmente pela lanterna na moldura do vidro. 

Com os dois modelos lado a lado, o porte do Creta impressiona e promove a sensação de que o SUV oferece muito mais espaço, mas não é bem assim. Apesar de ser mais comprido e alto, o SUV tem um entre-eixos menor (261 cm) em relação ao Ora 03 (265 cm).

Esse espaço extra faz com que o hatch ofereça mais conforto para as pernas de quem viaja no banco traseiro, exatos 2 cm a mais. O espaço para a cabeça também é um pouco mais generoso no elétrico, tanto na primeira quanto na segunda fileira.

Porém, o Creta mostra que é um carro familiar ao acomodar melhor três ocupantes no banco traseiro por oferecer 3,5 cm a mais para os ombros, além de quase o dobro de capacidade de porta-malas com 422 litros ante 228 litros de volume, no Ora 03.

Cidade e estrada

O desempenho do Ora é superior por trazer um motor elétrico que rende até 171 cv e 25,5 kgfm, enquanto o Creta vem equipado com o motor 1.0 turbo com 120 cv e 17,5 kgfm. Essa diferença de potência e torque é suficiente para explicar a vantagem de 3,2 segundos do Ora 03 (8,1 s) contra o Creta (11,3 s), no 0 a 100 km/h. Nas retomadas o elétrico também supera o SUV e a diferença chega a 3 segundos de 80 a 120 km/h.

É no comportamento dinâmico que fica evidente que os modelos têm propostas completamente distintas. Enquanto o elétrico oferece uma condução mais esportiva com uma suspensão com ajuste mais firme, como a direção; o SUV privilegia o conforto com um sistema de amortecimento que absorve bem as irregularidades do piso.

Na direção do Ora 03 é possível sentir qualquer ondulação do pavimento e isso prejudica o conforto em ruas esburacadas, mas no asfalto liso contribui para uma direção mais prazerosa e empolgante, graças também à característica do torque instantâneo, presente em todos os elétricos. Por ter um centro de gravidade mais baixo, a carroceria se torna mais estável e transmite mais segurança.

O Creta traz uma posição de dirigir mais alta, que também agrada e traz melhor visibilidade, mas a proposta é outra, não é um carro com foco em trazer emoção para a direção. A entrega de desempenho do motor 1.0 turbo combinado com o câmbio automático de seis marchas é satisfatória, principalmente pelo máximo de torque sendo entregue cedo, aos 1.500 rpm, contribuindo para acelerações progressivas e vigorosas.

A questão é que o ruído do motor em rotação máxima invade a cabine e gera incômodo – medimos 62,2 dBA nesta condição, enquanto não houve nenhum ruído interno para medir no Ora 03, já que seu motor não faz barulho e isso é uma vantagem a bordo.

O interior do elétrico traz a combinação de materiais emborrachados e revestimento dos bancos em material que imita couro. A cabine bicolor confere modernidade, e o quadro de instrumentos digital (10,25”) e a multimídia (10,25”) combinados na mesma moldura evidenciam sofisticação.

Já a cabine do SUV traz peças bem encaixadas, mas não há o emprego de materiais emborrachados e os bancos, em tecido, poderiam ter uma melhor qualidade percebida. Já a multimídia com 8” poderia ter grafismos mais modernos, mas o quadro de instrumentos (7”) é digital, apesar de ainda ser acompanhado por mostradores analógicos.

A escolha entre um ou outro vai depender do estilo de vida do comprador. Afinal, compactos elétricos têm uma vocação mais urbana e, portanto, se houver uma demanda por viagens rodoviárias constantes e de longas distâncias, o GWM não será adequado. A autonomia declarada é de 232 km, o suficiente para viagens curtas e rodagem urbana.

Mesmo com essas limitações, o Ora 03 pode compensar com o menor custo de manutenção. A GWM oferece cinco anos de revisões gratuitas, enquanto o gasto nos primeiros cinco anos com manutenção do Creta é de R$ 2.317 (revisões até 50.000 km). A despesa com combustível após 50.000 km rodando com o SUV será de R$ 24.957 (considerando o consumo urbano e o preço médio da gasolina em São Paulo, R$ 5,74). Já com o Ora essa despesa seria de R$ 10.345 apenas com recarga doméstica considerando o preço do kWh em São Paulo.

Ser elétrico deu ao Ora vantagem no desempenho e no menor custo de manutenção. Enquanto ter motor a combustão garante autonomia e versatilidade superiores às do Creta. Mas há outros aspectos a considerar, no caso particular deste comparativo. O GWM se destacou em comportamento dinâmico, acabamento e tecnologias de auxílio à condução, além de ter revisões gratuitas. E o Hyundai ofereceu mais espaço no banco de trás e no porta-malas. Pelo conjunto apresentado, o Ora 03 se sagra vencedor da disputa.

Veredicto

Ora 03 ganha por oferecer mais tecnologia de segurança, desempenho superior e menor custo de manutenção.

Ficha Técnica

ORA 03:
Motor: elétrico, dianteiro, 171 cv, 25,5 kgfm
Bateria: íon-lítio, 48 kWh
Autonomia: 232 km (Inmetro)
Câmbio: automático, 1 marcha + ré, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) sólidos (tras.)
Pneus: 215/50 R18
Peso: 1.580 kg
Dimensões: comprimento, 423,5 cm; largura, 182,5 cm; altura, 160,3 cm; entre-eixos, 265 cm; porta-malas, 228 l

CRETA:
Motor: flex, dianteiro, 3 cilindros, 12 V, turbo, injeção direta, 998 cm³, 120 cv a 6.000 rpm, 17,5 kgfm a 1.500 rpm
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) e sólido (tras.)
Pneus: 215/60 R17
Peso: 1.270 kg
Dimensões: comprimento, 430 cm; largura, 179 cm; altura, 163,5 cm; entre-eixos, 261 cm; porta-malas, 422 l; tanque de combustível, 50 litros

Teste Comparativo Quatro Rodas

Condições de teste: Ora/Creta alt. 660 m; temp., 28/33°C; umid. relat., 66/32%; press., 757/1.011,5 mmHg. *Dados de fábrica