A história da Chery no Brasil pode ser dividida em duas partes: antes e depois da Caoa.
É certo que o lançamento de novos produtos e a melhoria da qualidade (verificada principalmente a partir do Tiggo 5X, apresentado no final de 2018) já estavam em andamento quando a Caoa tornou-se sócia da Chery (no final de 2017).
Mas, com a Caoa, a Chery deixou de ser uma marca periférica no mercado e passou a pleitear um lugar ao sol entre grifes consolidadas. Com a Caoa, a Chery ganhou uma nova fábrica (em Anápolis, Goiás) e um departamento de engenharia com experiência local.
Este comparativo propõe uma prova de fogo para o mais novo produto da nova marca Caoa Chery. O Tiggo 7 encara nada menos que o líder do segmento, o Jeep Compass.
O Tiggo é vendido em duas configurações, T e TXS, enquanto o Compass tem seis versões resultantes da combinação de motor (2.0 Flex e 2.0 diesel) e conteúdo (Sport, Longitude, Limited e Trailhawk).
Em razão dos posicionamentos diferentes, os rivais se alinham quando o Tiggo na versão mais completa, TXS, encontra o Compass na versão de entrada, Sport: o Tiggo TXS vendido por R$ 116.990 e o Compass Sport ao preço de R$ 113.990.
À primeira vista, eles são razoavelmente diferentes. O Chery é mais chamativo, com cromados em profusão e iluminação ambiente na cabine, enquanto o Jeep é discreto, com maçanetas externas na cor da carroceria e detalhes prateados no painel.
Mas aqui não há vencedor, pois design depende do gosto pessoal.
Os dois SUVs têm o mesmo porte e espaço interno. Um indicador da proximidade das medidas é a distância entre eixos que é de 2,64 m, no Jeep, e de 2,67 m, no Chery.
Outra é a capacidade do porta-malas de 410 litros, no Compass, e 414 litros, no Tiggo. No acabamento, o Tiggo tem revestimento que imita couro, no banco e no painel, enquanto o Compass conta com painel emborrachado e bancos de tecido.
Ao volante, também há particularidades. O Compass apresenta comportamento mais esportivo, com sua suspensão firme e a direção precisa, que torna o SUV mais obediente.
O Tiggo, por sua vez, privilegia o conforto. Sua suspensão é mais macia e a direção, mais leve e indireta.
O Tiggo é equipado com motor 1.5 turbo que gera 150/147 cv de potência a 5.000 rpm e 21,4 mkgf de torque a 4.000 rpm, e câmbio automatizado de seis marchas.
O Compass traz motor 2.0 aspirado com 166/159 cv a 6.200 rpm e 20,5/19,9 mkgf a 4.000 rpm, e câmbio automático de seis marchas. Na pista de testes, houve equilíbrio nas medições de desempenho.
Nas provas de aceleração, o Chery foi mais rápido, acelerando de 0 a 100 km/h em 11,2 s, enquanto o Jeep conseguiu o tempo de 11,8 s.
Mas o Compass deu o troco nas retomadas de velocidade, de 60 a 100 km/h em Drive, com o tempo de 6,6 s contra 6,9 s. Na hora de parar, vindo a 80 km/h, o Compass freou em 27 m ante os 27,8 m do concorrente.
Eficiência energética
Foi nas medições de consumo que o Tiggo começou a virar o jogo a seu favor.
Equipado com um motor menor, mas turboalimentado, o Tiggo apresentou as médias de 11,4 km/l na cidade e 14,1 km/l na estrada, enquanto o Compass se mostrou mais beberrão, ficando com as marcas de 9,7 km/l e 13,3 km/l, respectivamente.
Na tabela, o Compass custa R$ 3.000 a menos (R$ 113.990 contra R$ 116.990). E, de acordo com a Tex-Teleport, seu seguro é mais barato: R$ 2.292 ante R$ 3.342 do Chery. Até aqui, então, vantagem de R$ 4.050 para o Compass.
Mas este valor é compensado (com muita sobra) pelos custos de propriedade e pacote de itens de série do Tiggo – além da já citada vantagem no consumo de combustível.
Somando todas as revisões até 60.000 km, as despesas do Tiggo ficam em R$ 3.559 contra R$ 4.463 do Compass.
Na garantia, o Chery também é melhor. Ele tem cinco anos de assistência, sendo três anos de cobertura total mais dois para motor e câmbio, enquanto a garantia do Jeep é de apenas três anos com cobertura total.
Para conseguir mais dois anos de proteção para motor e câmbio, e ficar igual ao Tiggo, o Compass pede um plano de garantia estendida que a FCA oferece ao custo de R$ 1.743.
Custo/benefício
Por fim, o Chery dá um banho no pacote de equipamentos de série. Os dois SUVs têm ar-condicionado bizona, central multimídia, piloto automático, painel digital, sensor de estacionamento traseiro, câmera de ré, luzes diurnas e ESP.
Mas, considerando o que só um deles tem, o Jeep traz três itens: borboletas para troca de marcha no volante, dispositivo anticapotamento e sistema start-stop (que desliga e liga o motor no anda e para do trânsito).
O Chery vai mais longe e com equipamentos mais caros e importantes: seis airbags (contra dois do Compass), teto solar elétrico, revestimento que imita couro, banco elétrico do motorista, chave presencial, câmera 360 graus, sensores de chuva, de luz e de estacionamento dianteiro, seletor de modo de condução e botão de partida.
Essa quantidade de equipamentos faz toda a diferença no dia a dia, o que torna a vida a bordo do Tiggo mais completa e fácil.
O Compass tem vantagem apenas na coluna de direção com ajuste de altura e profundidade (só altura no Tiggo) e na central multimídia, com sistemas operacionais Apple CarPlay e Android Auto, enquanto a do Chery roda Apple CarPlay, mas para Android só oferece espelhamento de tela.
Valor de revenda
Em razão do posicionamento de mercado, o novato Tiggo 7 TXS encara o líder Compass na versão Sport, que representa apenas 10% das vendas do Jeep – mais da metade dos Compass, 55% mais precisamente, são versões Longitude (40%) e Limited (15%), flex.
Assim, o Chery se defende bem na faixa de preço até R$ 120.000 proposta e consegue vencer o comparativo.
Superior em nível de equipamentos, consumo de combustível, cobertura de garantia e custo de revisão, o Tiggo só precisa se provar em valor de revenda, que hoje é uma incógnita.
Ele é ainda uma (boa) aposta, enquanto o Compass é um modelo reconhecido.
No Brasil, a Jeep tem uma rede autorizada maior (190 concessionárias contra 80 da Chery) e seu retrospecto de vendas é dos melhores. Todos estes fatores contribuem para assegurar um bom valor de revenda, que o recém-chegado ainda não tem.
Mas pelo que demonstrou no teste e pelo retrospecto do Grupo Caoa – grande responsável pela construção da boa reputação da marca Hyundai no mercado brasileiro –, o Tiggo 7 tem potencial para chegar lá.
Veredicto
Mesmo sem a reputação do líder Compass, o novato Tiggo conseguiu somar mais pontos na comparação.
Ficha técnica – Caoa Chery Tiggo 7 TXS
- Preço: R$ 116.990
- Motor: flex., diant., long., 4 cil. , 16V, 1.496 cm3; 77,4 x 79,5 mm, 9,5:1, 150/147 cv a 5.000 rpm, 21,4 mkgf a 4.000 rpm
- Câmbio: automatiz., 6 marchas, tração dianteira
- Suspensão: McPherson (diant.)/multilink (tras.)
- Freios: disco ventilado (diant.), sólido (tras.)
- Direção: elétrica
- Rodas e pneus: liga leve, 225/60 R18
- Dimensões: comprimento, 450,5 cm; largura, 183,7 cm; altura, 167 cm; entre-eixos, 267 cm; peso, 1.500 kg; tanque, 57 l; porta-malas, 414 l
Teste – Tiggo 7 TXS
Aceleração
0 a 100 km/h: 11,2 s
0 a 1.000 m: 32,3 s – 167,5 km/h
Velocidade máxima
n/d
Retomada
40 a 80 km/h (D): 4,5 s
60 a 100 km/h (D): 6,9 s
80 a 120 km/h (D): 7,1 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 15,1/27,8/62,5 m
Consumo
Urbano: 11,4 km/l
Rodoviário: 14,1 km/l
Ficha técnica – Jeep Compass Sport flex
- Preço: R$ 113.990
- Motor: flex, diant., transv., 4 cil. 16V, 1.995 cm3; 88 x 82 mm, 11,8:1, 166/159 cv a 6.200 rpm, 20,5/19,9 mkgf a 4.000 rpm
- Câmbio: automático, sequencial, 6 marchas, tração dianteira
- Suspensão: McPherson nos dois eixos
- Freios: disco ventilado (diant.), sólido (tras.)
- Direção: elétrica
- Rodas e pneus: liga leve, 225/65 R17
- Dimensões: comp., 441,6 cm; largura, 181,9 cm; altura, 163,5 cm; entre-eixos, 263,6 cm; peso, 1.527 kg; tanque, 60 l; porta-malas, 410 l
Teste – Compass Sport flex
Aceleração
0 a 100 km/h: 11,8 s
0 a 1.000 m: 32,9 s – 161,7 km/h
Velocidade máxima
188 km/h
Retomada
40 a 80 km/h (D): 5,1 s
60 a 100 km/h (D): 6,6 s
80 a 120 km/h (D): 8 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 15/27/62,7 m
Consumo
Urbano: 9,7 km/l
Rodoviário: 13,3 km/l