Durante a apresentação do Cronos à imprensa, os executivos da Fiat deixaram claro: “Não vamos concorrer com o Virtus”. O aviso deixou transparecer o medo de um embate direto.
Não caímos no discurso italiano, driblamos o fato de os carros terem sido cedidos em locais diferentes – o Cronos na Argentina e o Virtus no interior de São Paulo – e montamos fotograficamente o inevitável comparativo dos estreantes.
O Argo, lançado em maio de 2017, foi uma grata surpresa. Faz pouco tempo, mas já dá para afirmar: o desenho e o acabamento são seus pontos fortes. O hatch também se destaca pela boa oferta de espaço na cabine, um pouco acima do que se encontra no segmento.
Com a chegada do Cronos, em março, começa o segundo capítulo dessa história.
Não é só o nome e o porta-malas destacado da carroceria que diferenciam o Cronos do Argo. Com um par de vincos extra, o capô é exclusivo, terminando um pouco mais avançado em relação à grade. Esta também é exclusiva, com a parte negra em formato de ondas senoidais.
Um pouco mais abaixo, na linha inferior do para-choque, outra diferenciação: a grade é mais afilada e longa, pois não divide espaço com os faróis de neblina, estes reposicionados mais para as laterais, logo abaixo dos faróis principais.
Como não poderia deixar de ser, a traseira é o destaque. Dentre os atuais sedãs compactos do mercado, o Cronos é dono de uma das mais equilibradas proporções de volumes. E o visual caprichado reforça essa impressão. As lanternas de led e bipartidas conferem um aspecto requintado. Visto pela traseira, o Cronos lembra muito o Audi A3.
Nosso primeiro contato foi com a versão top de linha, Precision 1.8 automática, aqui apresentada.
Bem equipada, traz, de série, controles de estabilidade e tração e indicador de pressão dos pneus, e custa R$ 69.990. Mas os pacotes com rodas aro 17, ar digital, couro, chave presencial, retrovisor interno eletrocrômico, airbags laterais e câmera de ré são opcionais que podem levar o preço final do Cronos a cerca de R$ 80.000.
Versão | Preço |
Cronos 1.3 manual | R$ 53.990 |
Cronos Drive 1.3 manual | R$ 55.990 |
Cronos Drive 1.3 automatizado | R$ 60.990 |
Cronos Precision 1.8 manual | R$ 62.990 |
Cronos Precision 1.8 automático | R$ 69.990 |
A cabine do Cronos é parecida com a do Argo. Se no hatch isso significa uma oferta de espaço um pouco acima da média, entre os sedãs a história muda. Ao manter os mesmos 2,52 metros de entre-eixos do Argo, o Cronos fica próximo de rivais como o Hyundai HB20S (2,50 metros) e Chevrolet Prisma (2,53).
O comprimento, no entanto, explica o maior porte do Cronos: são 4,36 metros ante 4,23 do HB20S e 4,28 do Prisma. Estes números também explicam o enorme porta-malas do Cronos: 525 litros, maior até do que o do seu concorrente mais recente, o Volkswagen Virtus, com 521 litros.
Internamente, apenas sutis mudanças diferenciam o Cronos do Argo. A superfície da faixa decorativa central do painel é fosca, na cor vinho – a do hatch é prateada. Para acompanhar o desenho das novas portas traseiras, mais alongadas, o banco também é exclusivo.
A calibração macia da suspensão do Argo caiu bem para o Cronos, muito embora molas e amortecedores tenham sido ajustados para se adequar ao sedã.
Defasado, o motor 1.8 tem bloco de ferro fundido e comando de válvulas simples e sem variação. Até o seu ronco, mais abafado, foge do convencional. O Virtus, com quem vai brigar, tem uma receita mecânica oposta.
Aumente o volume
As carrocerias hatch e sedã da geração anterior do Polo brasileiro (lançada em 2002) tinham os mesmos 2.460 mm entre os eixos e nenhuma jamais figurou entre os carros mais vendidos de seus respectivos segmentos.
Ainda que a duras penas, a Volkswagen parece ter aprendido a lição. Para começar, adotou uma estratégia diferente da Fiat ao esticar o seu hatch.
Em vez de manter o entre-eixos e adaptar portas traseiras, teto e porta-malas, engenheiros e designers alemães e brasileiros se valeram da modularidade da plataforma MQB e alteraram também o entre-eixos (de 2.565 mm para 2.651 mm).
Com 4.482 mm de comprimento, 1.751 mm de largura e 1.472 mm de altura, o Virtus impressiona pelo porte quando comparado a rivais veteranos, como Hyundai HB20S (4.230 x 1.680 x 1.470 mm) e Prisma (4.282 x 1.705 x 1.478 mm).
O test-drive foi feito com a versão topo de linha, Highline, de R$ 79.990, que vem de série com motor 1.0 TSI e câmbio automático de seis marchas. Com o preço oficial, vem à tona o primeiro ponto fraco: ele revela um valor R$ 10.800 mais alto do que o Polo Highline – e ambos têm basicamente o mesmo conteúdo.
Na versão Comfortline, a diferença cai para ainda salgados R$ 8.300 e para aceitáveis R$ 5.000 na configuração de entrada, 1.6.
Se você se encantou pelo Virtus das fotos, vale o aviso: completo, com pintura metálica, painel digital, rodas aro 17, couro, tela de 8 polegadas e outros itens menores, o preço chega a R$ 87.040 – clique aqui para conferir os preços de todos os pacotes de opcionais.
Versão | Preço |
Virtus 1.6 manual | R$ 59.990 |
Virtus Comfortline 1.0 automático | R$ 73.490 |
Virtus Highline 1.0 automático | R$ 79.990 |
Com medidas generosas, o Virtus é um carro de presença. E, especialmente na versão Highline completa, o interior também é de encher os olhos. Assim como no Polo, o acabamento tem aspecto simples, mas qualidade de construção elogiável.
O motorista tem a seu dispor volante, banco e retrovisores com grande amplitude e facilidade de ajuste, o que permite o uso compartilhado por pessoas de estaturas bem diferentes.
Mas conforto de verdade tem quem viaja no banco traseiro. Ainda que os dianteiros estejam totalmente recuados, as pernas não são espremidas. O espaço para cabeça e na altura dos ombros e cotovelos também é bom.
Melhor que isso, só se o assoalho fosse plano na região central, como no Honda City – que também briga entre os sedãs compactos e acaba de receber um facelift e equipamentos extras.
O porta-malas, com 521 litros, está entre os maiores do segmento. Bastante ampla, a boca do compartimento facilita a acomodação de objetos volumosos. Se estiver equipado com a prancha (opcional), que permite a elevação do fundo, melhor ainda.
Ao volante, a maciez da suspensão notada no Polo se repete, muito embora a melhor distribuição de massa do sedã tenha atenuado a forte tendência de saídas de frente.
Feitas as apresentações dos mais novos sedãs compactos, fica a pergunta: qual das versões topo de linha é a melhor, Cronos Precision 1.8 ou Virtus Highline 1.0 TSI?
Guerra à vista
Ainda que tomadas em dias diferentes, algumas impressões foram tão claras que dispensaram anotações. O espaço no banco traseiro, por exemplo, é claramente maior no Virtus, sobretudo na área das pernas e cotovelos – o VW tem um entre-eixos 13 cm maior do que o sedã da Fiat.
Da mesma maneira, é nítido o maior porte do Virtus, muito embora o Cronos, visto de traseira, também tenha ares de carrão.
No perfil traseiro, soluções distintas. A Volks optou por uma janela para aliviar o “peso visual” da coluna C. No Cronos, por conta da queda mais abrupta da coluna C, o novo desenho da porta traseira foi suficiente para disfarçar o excesso de lataria naquele ponto.
Outra clara diferença está no motor. O do Cronos é um 1.8 quatro cilindros (na verdade, um 1.7, afinal são 1.747 cm³ de deslocamento volumétrico) obsoleto, com comando simples (apesar do cabeçote multiválvulas) e fixo, sem variação.
O peso excessivo é outro ponto negativo. É por isso que, mesmo tendo uma cilindrada 75% maior, ele não consegue dar ao Cronos a mesma pegada do Virtus, com seu 1.0 três cilindros turbo, menos potente mas com melhor entrega de torque.
Ao volante, os dois agradam à sua maneira. O Cronos, aspirado, é mais linear no fornecimento de força. O Virtus, turbinado, é mais nervoso. Ambos contam com câmbio automático com seis marchas, com trocas rápidas, mas sem solavancos.
Por se tratar de sedãs familiares, o ajuste da suspensão, claro, priorizou o conforto. No Cronos, as imperfeições do asfalto são sentidas com mais clareza, sobretudo quando se está no banco traseiro.
Vale ressaltar que as avaliações foram feitas com as configurações máximas de opcionais, o que significa que a dupla estava calçada com pneus aro 17.
Em nossa pista de testes, sempre com gasolina, a motorização mais moderna do Virtus fez diferença, com números melhores em todas as provas de aceleração e retomada (veja tabela no final da matéria). De 0 a 100 km/h, por exemplo, o Volks cravou 10,1 s, contra 11,2 s do Fiat.
Nas frenagens, os freios a disco (sólidos) do Virtus só levaram a melhor sobre os tambores do Cronos na prova de 120 km/h a 0. Em velocidades menores (60 e 80 km/h), o Cronos surpreendentemente precisou de menos espaço até parar.
O consumo urbano de ambos foi parecido (12,0 km/l no Cronos e 12,7 km/l no Virtus). Já no rodoviário, a superioridade do 1.0 TSI ficou latente: foram 17,6 km/l, contra 14,2 km/l do veterano 1.8 EtorQ.
Na decoração da cabine, uma repetição do que se vê do lado de fora: um clima mais sóbrio no Virtus e mais jovial no Cronos.
O quadro de instrumentos do Fiat, por exemplo, tem grafismo mais dinâmico, enquanto o do VW, apesar de integralmente digital, tem apresentação discreta. No Virtus, a tela do sistema multimídia é incorporada ao painel, o que deixa o ambiente mais limpo.
No porta-malas, apesar do quase empate técnico em volume (525 litros no Cronos e 521 no Virtus), há algumas diferenças. Nenhum oferece o requinte da dobradiça pantográfica, mas ambos têm suas exclusividades.
O do Fiat tem um par de molas a gás. Com elas, a tampa se abre totalmente após ser destravada remotamente.
No Virtus, além do assoalho móvel (opcional) que permite dividir o bagageiro em dois níveis (abaixo e acima), há práticos porta-objetos laterais e uma alça de abertura de emergência, em plástico fosforescente, que pode ser útil em um caso de sequestro.
Nas versões topo de linha em configuração básica, os preços serão de R$ 69.990 para o Cronos e R$ 79.990 para o Virtus. Tendo como referência as unidades avaliadas (com todos os opcionais), os valores seriam de R$ 80.000 e R$ 87.040, respectivamente.
No fim, o cenário é claro: o Virtus Highline, como produto, é superior ao Cronos Precision, com mais espaço e um motor bem mais moderno. Mas perde o comparativo por ser caro demais.
Fosse adotada no topo de linha a mesma diferença de preço em relação ao Polo na versão de entrada (R$ 5.000 e não R$ 10.800), o resultado seria outro. E vale esperar o teste das outras versões e motorizações de ambos os modelos para ver se a VW consegue virar o jogo.
Veredicto
A Volks pesou demais a mão no preço do Virtus. Ele até é superior ao Cronos, mas não a ponto de justificar uma diferença de cerca de R$ 10.000 do valor do carro a mais. Nas versões mais simples (e baratas) o Volks deve ganhar combatividade.
Teste de pista (com gasolina)
Cronos Precision 1.8 | Virtus Highline 1.0 |
|
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,2 s | 10,1 s |
Aceleração de 0 a 1.000 m | 32,6 s – 160 km/h | 31,5 s – 163,4 km/h |
Retomada de 40 a 80 km/h (em 3ª) | 5,0 s | 4,8 s |
Retomada de 60 a 100 km/h (em 4ª) | 6,6 s | 6,2 s |
Retomada de 80 a 120 km/h (em 5ª) | 8,3 s | 7,3 s |
Frenagem de 60 / 80 / 120 km/h a 0 em m | 16,1/26,9/64,7 | 18,7/28,7/60,6 |
Consumo urbano e rodoviário | 12,0 km/l e 14,2 km/l | 12,7 km/l e 17,6 km/l |
Ficha técnica
Cronos Precision 1.8 |
Virtus Highline 1.0 |
|
Preço | R$ 69.990 | R$ 79.990 |
Motor | flex, diant., transv., quatro cilindros, 1.747 cm3, 16V, aspirado, 139/135 cv a 5.750 rpm, 19,3/18,8 mkgf a 3.750 rpm | flex, diant., transv., três cilindros, 999 cm3, 12V, turbo, 128/116 cv a 5.500 rpm, 20,4 mkgf a 2.000/3.500 rpm |
Câmbio | automático, 6 marchas, tração dianteira | automático, 6 marchas, tração dianteira |
Suspensão | McPherson (dianteiro)/ eixo de torção (traseiro) | McPherson (dianteiro)/ eixo de torção (traseiro) |
Freios | discos ventilados (dianteiro)/ tambor (traseiro) | discos ventilados (dianteiro)/ sólido (traseiro) |
Direção | elétrica. diâmetro de giro 10,5 m | elétrica. diâmetro de giro 11 m |
Rodas e pneus | 205/45 R16 | 205/50 R17 |
Dimensões | comprimento, 436,4 cm; largura, 172,6 cm; altura 151,6 cm; entre-eixos, 252,1 cm; peso, 1.271 kg; tanque, 48 l; porta-malas, 525 l | comprimento, 448,2 cm; largura, 175,1 cm; altura 147,2 cm; entre-eixos, 265,1 cm; peso, 1.192 kg; tanque, 52 l; porta-malas, 521 l |