Sou um entusiasta de carros alemães. Eles são quase perfeitos. É difícil encontrar uma peça sem função ou um botão fora do lugar em que deveria estar. Vem da Alemanha a ideia de não submeter a engenharia ao design. Não é à toa que os automóveis germânicos são os mais eficientes do mundo. Mercedes-Benz GLK, Audi Q5 e BMW X3 representam a potência europeia entre os SUVs médios de luxo, mas ainda há terreno para explorar. É nessa brecha que entra o recém-chegado Land Rover Discovery Sport, em cuja categoria também orbitam Santa Fe e Grand Cherokee. Eles representam escolas diferentes para fugir da cartilha germânica. Enquanto o coreano mimetiza a maciez americana e aposta no preço inferior, o Cherokee ainda aposta na máxima daquele país: quanto mais potência, melhor. Isso explica seu V6 3.6 de 286 cv. Já os ingleses, por sua vez, elevam a nota de corte na qualidade de acabamento e no uso de materiais nobres. Os três são provas vivas de que a cultura alemã merece respeito, mas nem por isso é uma escolha tão óbvia.
Ele já foi referência da categoria, mas perdeu força perante os novos rivais. Ainda assim, preserva qualidades inegáveis: espaço, conforto e muitos itens de série
Embora tenha o motor mais forte do trio (um V6 3.6 de 286 cv), o Grand Cherokee pesa mais de 2 toneladas (2 211 kg). E é o mais beberrão da turma – três características que o consumidor está reconsiderando. Dos três, só o Jeep não dispõe de sete lugares. Mas leva cinco aonde os rivais não vão. Com ângulo de entrada (26,3 graus) e de saída (26,5) acentuados, e tração 4×4 em tempo integral com reduzida, detecta sozinho o nível de aderência das rodas e distribui a força entre os eixos. O recurso Selec Terrain permite que o condutor altere o comportamento do carro escolhendo o tipo de terreno (areia, lama, neve ou pedra).
No ano passado, a Jeep substituiu a transmissão de cinco marchas pela de oito. A mudança melhorou a aceleração (de 10,2 para 9 segundos na prova de 0 a 100 km/h), mas causou pouco impacto nas retomadas. O consumo quase não mudou: melhorou de 7,1 para 7,4 km/l na cidade e de 9,5 para 9,6 km/l na estrada.
Por dentro, é o mais espaçoso e confortável da trinca. Tem assentos largos, superfícies agradáveis ao toque e um quadro de instrumentos configurável com tela de 7 polegadas. No centro do painel, o monitor touch é quase um tablet: tem 8,4 polegadas. O sistema de entretenimento traz leitor de Blu-ray e duas telas traseiras de alta definição de nove polegadas, com entradas auxiliares HDMI e RCA.
Para a quinta geração do Grand Cherokee (que deve ser lançada em 2017 e chega ao Brasil apenas no começo do ano seguinte), a Jeep também precisará ficar mais atenta: o jipão aí das fotos já passou por seis recalls desde 2010.
2º Hyundai Santa Fe
Coreano carrega sete, é atraente, conta com um bom pacote de equipamentos e custa menos. Mas não tem o mesmo requinte dos adversários e peca nos detalhes
A Hyundai é uma especialista em mercado americano. Estudou o país, arrumou emprego e hoje tem até visto permanente: seus sedãs inundaram as garagens daquele país. E o currículo do Santa Fe mostra competências para trilhar o mesmo caminho, já que esse coreano parece ser mais americano que o Jeep. Tem suspensão macia, direção elétrica excessivamente leve e motor V6 silencioso. Mas seus 270 cv garantem agilidade suficiente para levar os 1 773 kg como se fosse um carro menor.
Outro mérito curricular é o 4×4 sob demanda. A tração é prioritariamente dianteira, mas até 50% da força pode ser enviada para o eixo traseiro conforme o tipo de terreno. E, ao comando do motorista, um botão no painel permite o bloqueio do diferencial – recurso útil em pisos de baixa aderência e em uso off-road.
Quando chegou ao mercado, o Santa Fe aposentou o Veracruz, ganhando versões de cinco e sete lugares. Nas fotos, vê-se a segunda opção, cujo porta-malas cai de 585 para meros 178 litros com a última fileira levantada. Por R$ 176990, ainda que seja o mais barato do trio, não chega a ser a melhor compra. O Grand Santa Fe é maior (491,5 cm ante 469), tem 10 cm a mais de entre-eixos e custa R$ 189 990 – ainda menos que as versões top do Jeep e Land Rover. Se você não precisa carregar tanta gente, mire na configuração de cinco lugares. Parte de R$ 157 990, valor que inclui airbags laterais, bancos de couro com aquecedor, teto solar, faróis de xenônio, bancos elétricos, assistente de descida e sistema de navegação com tela de 8 polegadas. Tudo isso torna o Hyundai uma quase pechincha perto dos rivais de língua inglesa.
1º Land Rover Discovery Sport
Dono de um acabamento impecável e adepto do downsizing (é o único com motor 2.0 turbo), esse inglês representa uma nova geração de SUVs de luxo
O clima na Land Rover deve ser de apreensão. Na esteira do sucesso do Evoque, o novo Discovery Sport tem uma missão ainda mais difícil: substituir o Freelander – o veículo mais vendido da marca.
No limiar entre a opulência do Range Rover e o arrojo do Evoque, o Sport é o SUV compacto mais atualizado do momento. Abre mão do tradicional V6 por um quatrocilindros sem comprometer o desempenho (tem 240 cv) e carrega sete em meros 459,9 cm de comprimento – quase 10 cm a menos que o Santa Fe. Também é relativamente econômico: faz 7,5 e 11 km/l na cidade e estrada, preservando o desempenho equivalente ao do rival coreano e seu V6 3.3.
O trunfo está debaixo do capô: um 2.0 turbo, que trabalha em conjunto com uma caixa automática de nove marchas e tração 4×4. Dotado da tecnologia Terrain Response, conta com os mesmos programas de terreno dos irmãos maiores (grama, cascalho, neve, lama e areia). Mas é pouco provável que o dono de um Discovery Sport vá se arriscar na lama. Tanto é que, ainda este ano, uma versão 4×2 chegará às lojas. Urbano, este Land é pequeno, ágil para manobrar e bemequipado. O visual do interior é minimalista, mas os poucos comandos escondem funções que a maioria dos rivais não tem, como o Park Assist.
Avaliamos a versão top (HSE Luxury), que parte de R$ 232 000. Vem com faróis de xenônio, rodas aro 19, ar de duas zonas, bancos de couro legítimo e GPS. Mas é a versão de entrada (SE) que deve conquistar os interessados em um Santa Fe ou um modelo alemão. Por R$ 179 900, é a melhor alternativa para quem não quer estudar no Instituto Goethe.
AVALIAÇÃO DO EDITOR
MOTOR E CÂMBIO
Não dá para negar a eficiência do motor 2.0 do Land Rover, mas o prazer ao guiar um V6 é também inegável. Nove ou oito marchas fazem bonito na ficha técnica. No entanto, o câmbio de seis velocidades do Hyundai é igualmente competente.
DISCOVERY: ★★★★☆
SANTA FE: ★★★★
G. CHEROKEE: ★★★★
DIRIGIBILIDADE
O Santa Fe não sofre com falta de estabilidade, mas a forte inclinação da carroceria nas curvas desagradou alguns na redação. O Discovery é o que mais se aproxima de um carro comum. O Jeep surpreende por oscilar menos do que se espera de um modelo americano.
DISCOVERY: ★★★★
SANTA FE: ★★★☆
G. CHEROKEE: ★★★☆
SEGURANÇA
O Land Rover oferece cinco airbags. O Hyundai vem com faróis de xenônio direcionais e encostos de cabeça ativos. Todos têm controle de tração e estabilidade, com assistente de rampa e freios ABS com EBD.
DISCOVERY: ★★★★☆
SANTA FE: ★★★★☆
G. CHEROKEE: ★★★★
SEU BOLSO
Nenhum custa pouco. Mas o coreano é o que oferece mais por cada real gasto. O inglês tem ar de novidade e também oferece alto nível de conforto pelo que custa.
DISCOVERY: ★★★☆
SANTA FE: ★★★★
G. CHEROKEE: ★★★
CONTEÚDO
O inglês e o americano dosam a quantidade de equipamentos em versões. O Santa Fe vem em versão única – sem opcionais.
DISCOVERY: ★★★★☆
SANTA FE: ★★★★☆
G. CHEROKEE: ★★★★☆
VIDA A BORDO
O Grand Cherokee sabe agradar os ocupantes. Focado em conforto e silêncio ao rodar, tem até vidros laterais laminados. Já o Discovery preza pela comodidade: ergonomia impecável, poucos botões e recursos para facilitar a vida do motorista, como o Park Assist. O Hyundai tenta convencer pelo visual ousado.
DISCOVERY: ★★★★☆
SANTA FE: ★★★★
G. CHEROKEE: ★★★★☆
QUALIDADE
Neste quesito, a ordem de posições se inverte. O Santa Fe fica para trás por causa do excesso de plásticos duros na cabine. É o oposto do Cherokee e Land Rover – sobretudo o inglês. Enquanto o Jeep abusa das superfícies macias e telas de alta resolução, o britânico aposta na escolha de materiais nobres e encaixes impecáveis.
DISCOVERY: ★★★★☆
SANTA FE: ★★★★
G. CHEROKEE: ★★★★☆
VEREDICTO
A concepção moderna do Land Rover definiu a vitória, mas os motores V6 têm seu valor: são muito agradáveis para dirigir. E ainda não é mau negócio resistir aos novos tempos. Isso faz do Hyundai uma compra interessante, sobretudo pelo menor preço. Mas, se quiser um Jeep, melhor esperar o ano que vem.
DISCOVERY: ★★★★
SANTA FE: ★★★★
G. CHEROKEE: ★★★★
Confira a ficha técnica dos modelos
Confira o quadro comparativo de testes