Dificilmente ocorrerá de novo uma renovação tão sincronizada dos líderes de um segmento. Mas é claro que esse efeito manada não aconteceu por acaso.
Honda e Chevrolet monitoraram a Toyota justamente para tentar ofuscar a chegada da nova geração do dono absoluto do pedaço: o Corolla.
Cientes do poder de fogo do líder supremo, as marcas promoveram até uma cirurgia plástica – bem sutil, é verdade – em Civic e Cruze. Também capricharam na maquiagem e nos acessórios. Tudo para tentar sair da sombra do gigante.
Mas será que vai dar certo?
No primeiro semestre, o ranking de emplacamentos dos CCC (Corolla, Civic e Cruze) ficou, respectivamente, assim: 26.084, 13.584 e 8.979.
Para definir as versões do comparativo, além do preço, consideramos a voz do povo. A XEi respondeu por 71,4% do Corolla, a EXL por 39,5% do Civic e a LTZ por 55% do Cruze.
No caso específico do Cruze, chamamos a versão Premier, que na linha 2020 ocupou o lugar da LTZ.
Quanto aos preços, os convocados se equivalem: R$ 110.990 o Corolla, R$ 112.600 o Civic e R$ 122.790 o Cruze.
Atuais e racionais, seriam os CCC a linha de frente para encarar a invasão SUV? Não importa, a briga agora é para ver se o Corolla segue na liderança da tropa.
3º Cruze Premier 1.4T
Por fora, a linha 2020 exibe para-choque dianteiro redesenhado na área da grade e dos faróis de neblina, além de lanternas com novo layout interno de iluminação.
Na cabine, a grande novidade: Wi-Fi 4G. Uma ideia excelente, mas que pode desagradar a muitos: o pacote mensal é caro pelo que oferece (R$ 30 por pífios 2 GB) e não permite o compartilhamento de planos familiares e corporativos nem troca de operadora, pois o chip da Claro é soldado ao aparelho.
Se antes a referência em conforto era o Corolla, agora é o Cruze. E quem mudou foi o Toyota, como você vai ver mais adiante.
A suspensão é a mais macia, o que agrada muito no dia a dia, mas, na estrada, sob condução mais esportiva, o Cruze não tem a mesma competência no contorno de curva.
Pudera: é o único dos três com suspensão traseira com eixo de torção, bem menos versátil e eficiente do que o sistema multibraços dos rivais.
O motor 1.4 turbo e o câmbio automático de seis marchas mostraram força: o Cruze saiu da pista com os melhores números em aceleração, retomada e consumo urbano (veja números de teste no final da reportagem).
Em termos de equipamentos, o Cruze é o maioral. O problema é que o preço também é (bem) mais alto: R$ 122.790.
Até a linha 2019, a família Cruze tinha, na prática, três versões: a LT, de entrada, ainda à venda, e as LTZ1 e LTZ 2. Agora, a Premier substitui a LTZ 2, supercompleta, matando a LTZ 1 e criando um vácuo de cerca de R$ 25.000 entre as versões.
É exatamente nessa zona intermediária, na faixa dos R$ 110.000, que brigam Corolla XEi e Civic EXL. O Cruze LT, indisponível para teste e muito mais simples, regula em preço com as versões de entrada dos japoneses.
- Motor: Flex, dianteiro, transversal, 4 cilindros, 1.591 cm3, 16V, turbo, 153/150 cv (5.200/5.600 rpm) e 24,5/24,0 mkgf (2.000/2.100 rpm)
- Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
- Direção: elétrica, 10,2 m de diâmetro de giro
- Suspensão: McPherson (dianteira); eixo de torção (traseira)
- Freios: disco ventilado (dianteira), disco sólido (traseira)
- Pneus: 215/50 R17
- Peso: 1.321 kg
- Dimensões: Comprimento: 466,5 cm; largura: 180,7 cm; altura: 148,4 cm; entre-eixos: 270,0 cm; porta-malas: 440 litros; tanque de combustível: 52 litros
2º Civic EXL 2.0
As mudanças estéticas da linha 2020 são quase invisíveis: nada muito além de frisos cromados na dianteira e na traseira. Seu caráter esportivo começa pela carroceria sedã-cupê.
Do chão ao teto, é o mais baixo, assim como seu ponto H (distância entre o assento do piloto e o asfalto). O console elevado isola o espaço do condutor e acentua a pegada jovial.
Porém, está na calibragem da suspensão o tempero mais quente do Honda. Ela é, de longe, a mais dura. Aliás, basta fazer uma pesquisa na internet: até quem tem Civic acha a suspensão um tanto desconfortável.
O “clima” esportivo na cabine é dado pelo tecido preto nas colunas e no teto. Por falar em clima, um ponto exclusivo do Civic que faz toda a diferença para quem viaja atrás: difusores dedicados do sistema de ar-condicionado.
O tal console central alto é o maior dos três sedãs. Tem espaço para colocar de tudo: latas, garrafas, celular.
Duro mesmo é acessar essas coisas, principalmente as que ficam na parte inferior dianteira – justamente onde ficam a tomada 12 V e a porta USB. Ainda no console, outro destaque do Civic: ele é o único com freio de estacionamento elétrico.
No duelo direto contra o Corolla, não deu para o Civic. O sedã da Toyota tirou proveito do conjunto mecânico superior e foi melhor em aceleração, retomadas de velocidade, frenagem e consumo rodoviário (veja no final de reportagem).
Ao volante, o Civic se mostra tão competente quanto o Corolla nas curvas rápidas, mas passa longe do nível de suavidade da suspensão do rival no uso diário. O preço, ligeiramente mais alto, é outra desvantagem do Civic.
Com o caro Cruze em terceiro lugar e o duro Civic em segundo, é hora de conhecer melhor o líder.
- Motor: Flex, dianteiro, transversal, 4 cilindros, 1.997 cm3, 16V, 155/150 cv (6.300 rpm) e 19,5/19,3 mkgf (4.800/4.700 rpm)
- Câmbio: automático, CVT, 7 marchas, tração dianteira
- Direção: elétrica, 11,2 m de diâmetro de giro
- Suspensão: McPherson (dianteira); multilink (traseira)
- Freios: disco ventilado (dianteira), disco sólido (traseira)
- Pneus: 215/50 R17
- Peso: 1.291 kg
- Dimensões: Comprimento: 464,1 cm; largura: 179,9 cm; altura: 143,3 cm; entre-eixos: 270,0 cm; porta-malas: 519 litros; tanque de combustível: 56 litros
1º Corolla XEi 2.0
A nova geração tem plataforma, conteúdo, motor e câmbio novos. E preço também: o XEi antigo se despediu custando R$ 105.990 e agora, na linha 2020, custa R$ 110.990.
Uma valeta, um buraco, uma saída de semáforo e uma curva de raio longo são mais do que suficientes para sentir a evolução do Corolla.
Assim como a suspensão, agora com duplo A na traseira, em vez do velho eixo de torção, a carroceria está menos solta (a rigidez torcional aumentou em 60%, segundo a marca).
Isso confere maior estabilidade direcional, à medida que as interferências dinâmicas são mais rapidamente neutralizadas, permitindo que os sistemas recuperem a condição ideal de trabalho.
Na prática, dá ao motorista a sensação que muitos definem como a de um carro obediente.
O motor 2.0 nada tem a ver com o anterior. Tem duplo sistema de injeção (direto e indireto), variador elétrico da fase das vávulas de admissão e hidráulico nas de escape e virabrequim e bielas de aço forjado.
São 177/169 cv, ante 155/150 cv do Civic. São números impressionantes como o do câmbio automático CVT, que além de uma primeira marcha convencional, com engrenagens, tem nada menos que dez marchas virtuais.
O acabamento, que já era bom, está ainda melhor, mas há alguns pontos a serem corrigidos. Toda a parte superior do painel é de material emborrachado, assim como o apoio de braço das portas.
Mas nelas faltam botões retroiluminados, como eram na antiga geração.
Por fim, o pós-venda ajudou o Corolla a se sagrar vencedor: o período de cobertura da garantia total aumentou de três para cinco anos.
- Motor: Flex, dianteiro, transversal, 4 cilindros, injeção direta e indireta, 1.986 cm3, 16V, 177/169 cv (6.600 rpm) e 21,4/21,4 mkgf (4.400 rpm)
- Câmbio: automático, CVT, 10 marchas, tração dianteira
- Direção: elétrica, 10,8m de diâmetro de giro
- Suspensão: McPherson (dianteira); duploA (traseira)
- Freios: disco ventilado (dianteira), disco sólido (traseira)
- Pneus: 225/45 R17
- Peso: 1.405 kg
- Dimensões: Comprimento: 463,0 cm; largura: 178,0 cm; altura: 145,5 cm; entre-eixos: 270,0 cm; porta-malas: 470 litros; tanque de combustível: 50 litros
Veredicto
Até que a GM volte a colocar uma versão na faixa dos R$ 110.000, o Cruze está fora da briga. Um pequeno ajuste na tabela também faria bem ao Civic.
Enquanto nada disso acontece, o Corolla continua na rota da liderança – e segue melhor de dirigir do que nunca.
Ficha de testes | Toyota Corolla XEi 2.0 | Honda Civic EXL 2.0 | Chevrolet Cruze Premier 1.4T |
Aceleração | |||
0 a 100 km/h | 9,7 segundos | 10,8 segundos | 8,6 segundos |
0 a 1.000 m | 30,8 segundos – 173,9 km/h | 31,8 segundos – 171,3 km/h | 29,6 segundos – 178,4 km/h |
Velocidade máxima | n/d | 195 km/h | 214 km/h |
Retomadas | |||
D 40 a 80 km/h | 4,5 segundos | 4,9 segundos | 3,7 segundos |
D 60 a 100 km/h | 5,3 segundos | 5,9 segundos | 4,6 segundos |
D 80 a 120 km/h | 6,4 segundos | 7,2 segundos | 5,9 segundos |
Frenagens | |||
60/80/120 km/h a 0 | 13,2/23,7/54,2 metros | 13,9/25,1/57,1 metros | 14,2/25,1/55,8 metros |
Consumo | |||
Urbano | 11,9 km/l | 12,4 km/l | 11,7 km/l |
Rodoviário | 15,5 km/l | 15,9 km/l | 16,5 km/l |
Ruído interno | |||
Neutro/RPM máx. | 38,0/65,6 dBA | 38,4/63,7 dBA | 39,4/64,0 dBA |
80/120 km/h | 63,6/69,1 dBA | 62,0/68,5 dBA | 62,2/69,5 dBA |
Aferição | |||
Velocidade real a 100 km/h | 94 km/h | 97 km/h | 94 km/h |
Rotação do motor a 100 km/h em Drive | 1.600 rpm | 1.700 rpm | 1.800 rpm |
Volante | 2,5 voltas | 2,2 voltas | 3 voltas |
Seu bolso | |||
Preço | R$ 110.000 (estimado) | R$ 112.600 | R$ 124.000 (estimado) |
Garantia | 5 anos | 3 anos | 3 anos |
Concessionárias | 219 | 219 | 600 |
Revisões até 60.000 km* | R$ 3.353 | R$ 5.127 | R$ 3.188 |
Seguro** | R4 2.861 | R$ 3.074 | R$ 2.713 |
*Dado de fábrica
**Informações baseadas nas versões de ano-modelo 2019. Cotações de seguro fornecidas pela TEx Teleport, no perfil QUATRO RODAS