Defender 90: faz sentido pagar mais de R$ 500.000 em um jipe 2 portas?
Ao contrário da versão com quatro portas, o Defender 90 foca no estilo de vida para conquistar os donos da antiga geração do modelo e honrar sua história
Setenta e dois anos separam o primeiro Defender da atual geração e, mesmo depois de tanto tempo, a Land Rover ainda mantém o conceito do modelo, através das gerações.
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Um deles é a versão de duas portas, chamada de 90, que estreia no Brasil por R$ 547.950. A diferença de preço para o Defender 110, porém, não é proporcional à redução das dimensões: ele é apenas R$ 14.000 mais barato. Mas isso faz todo o sentido.
O Defender 90 tem 4,58 metros de comprimento, ou seja, 43,5 centímetros a menos do que o 110. O entre-eixos também é menor: são 2,59 metros, contra 3 m do modelo maior.
Também são 178 kg a menos. Ainda assim, ele é equipado com o mesmo motor 2.0 turbo a gasolina que rende 300 cv de potência e 40,8 kgfm de torque, acompanhado de um câmbio automático de oito marchas.
É um bom conjunto, especialmente considerando o peso e as dimensões reduzidas do jipão, que o tornam mais ágil e divertido, tanto no trânsito quanto no fora de estrada.
O que também ajuda é o diâmetro de giro, criticado na versão 110, com seus 12,8 metros. No 90, são 11,3 metros, graças ao entre-eixos encurtado em quase 40 cm.
Mesmo mais esperto, com acelerações vigorosas acompanhadas de um belo ronco saído do escapamento duplo, o Defender 90 ainda passa a sensação de peso ao dirigir.
Afinal, ele é um carro de 2.140 kg, com rodas de 20 polegadas e grandes pneus 255/60 feitos para encarar asfalto e off-road. Além disso tudo, a direção pesada também está lá para reforçar que o Defender não é um carro focado em desempenho, embora ele vá de 0 a 100 km/h em 7,1 segundos, de acordo com a Land Rover.
Ou seja, a direção busca limitar movimentos bruscos em um carro alto e de suspensão com balanços bem evidentes. A carroceria tende a inclinar consideravelmente em curvas e mostra certa instabilidade em rodovias, com oscilações laterais.
Em frenagens, a dianteira parece mergulhar em direção ao asfalto, seguida de um movimento longitudinal típico de picapes. A sensação de segurança, porém, não some, já que tudo isso faz parte do comportamento previsto para o modelo.
Por falar na suspensão pneumática, são três ajustes possíveis de altura, comandados manualmente por botões no console ou automaticamente de acordo com um dos vários modos de condução à disposição.
Além de úteis para encarar diferentes terrenos, também servem para entrar em garagens mais baixas – o Defender beira os 2 metros de altura.
A Land Rover não divulga as médias de consumo do modelo, que devem ficar próximas das obtidas pela versão de quatro portas em nossa pista de testes: 6,4 km/l em ciclo urbano e 8 km/l na estrada.
O apetite por combustível é ponto crítico do modelo, que, em ladeiras ou serras, chega a registrar o consumo de 2 km/l. Uma versão com motor a diesel talvez economizasse mais, mas não há previsão para que o Defender ganhe outra motorização no Brasil.
O Defender 90 vai contra qualquer preceito de que carros de duas portas têm espaço reduzido. Mesmo com os bancos dianteiros posicionados totalmente para trás, três pessoas podem permanecer na traseira com muito conforto – e quem for no meio não precisará negociar espaço com os vizinhos, já que o assoalho é plano.
Os bancos têm boa posição e as pernas de todos os ocupantes vão sem aperto, mas o conforto vai além. Quem for atrás tem à disposição duas portas USB-C, duas tomadas de 12 V, duas portas USB comuns (estas instaladas nos encostos dos bancos dianteiros), saídas de ar-condicionado e porta-copos.
visibilidade dos ocupantes traseiros é outro privilégio: os vidros laterais são enormes, assim como o teto solar panorâmico. Há ainda as clássicas claraboias laterais.
Porém, caso o comprador opte pelos acessórios instalados na unidade avaliada, como a escada e o baú, quem for atrás perderá praticamente toda a vista lateral.
O motorista poderia sair prejudicado pela falta de visibilidade do vidro traseiro com os grandes encostos de cabeça e o estepe externo atrapalhando a visão pelo retrovisor.
Porém, o espelho pode, além de cumprir a sua função no formato tradicional, apresentar uma imagem em alta definição de uma câmera instalada no teto.
É uma ótima solução, de maior utilidade e necessidade se comparada aos retrovisores digitais da Audi.
Por falar na tampa traseira, a abertura é feita para o lado da calçada (o projeto é inglês mas, já que inverteram a posição de dirigir, poderiam ter feito o mesmo com a tampa) e precisa do auxílio de um sistema a gás para aliviar o peso – lembre, além da enorme porta, ainda há o grande conjunto formado pelo estepe pendurado lá.
Quando aberta, revela o porta-malas de 397 litros, contra os 857 da versão maior. É um bom volume, mas a disposição vertical é ruim.
O pacote do Defender 90 é único, já que ele só vem ao Brasil na versão intermediária SE.
Ou seja, há faróis de leds matriciais com facho alto automático, sistemas de câmeras 360 graus com função off-road (que apresenta imagens laterais e dianteira), quadro de instrumentos digital com diversos modos de personalização.
Central multimídia de 10 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay, frenagem de emergência, ar-condicionado bizona, coluna de direção com ajustes elétricos, sistema de som Meridian de 400 W, assistente de manutenção em faixa e detector de profundidade em áreas alagadas.
Assim como por fora, o interior do Defender mistura a todo tempo modernidade e tradição, e sofisticação e robustez, sem deixar a funcionalidade de lado.
O acabamento se funde com a estrutura, como a parte frontal do painel, feita de magnésio, que ajuda no reforço estrutural do jipão. Em conjunto, ela é revestida de couro.
Também há o foco em porta-objetos, disponíveis por toda parte, com dimensões generosas (são 36,8 litros em porta-objetos, ao todo) e sempre com a base emborrachada para evitar riscos.
A vanguarda e a nostalgia se misturam em diversos aparatos eletrônicos e as telas, junto do desenho clássico de um fora de estrada. Já o luxo e a solidez se aliam com o excelente acabamento, que varia entre plásticos de boa qualidade, materiais emborrachados e couro, iluminação ambiente em vários pontos da cabine.
Ao mesmo tempo que as portas deixam à mostra parte da lataria e parafusos, também presentes no console central.
A rusticidade continua no assoalho, que não tem carpete ou tapetes por ser todo emborrachado, para que os proprietários possam enfrentar percursos de lama e, depois, lavar o chão com água.
Quem vai na frente também tem conexões à disposição, entre tomadas, portas USB comuns, portas USB-C e entrada para cartão de memória Nano SIM. Do lado de fora, a nova geração do Defender tem ares de carro-conceito na aparência. Na dianteira, os faróis remetem ao conjunto da antecessora, com uma peça retangular abrigando o principal ponto de iluminação, em formato circular.
Os dois quadrados laterais, de led, buscam referência nas luzes redondas de antigamente. De lado, o modelo tem para-lamas pronunciados para, além da nostalgia visual, reforçar a aparente (e real) robustez do jipão.
O estribo se faz um item obrigatório para auxiliar na entrada dos ocupantes, que podem sentir falta de uma alça na coluna A. Afinal, são quase 30 centímetros de altura livre do solo. Por fim, as rodas de 20 polegadas têm desenho simples, e é isso que as tornam bonitas.
Já a traseira, totalmente reta, traz como destaque as lanternas, representadas por quatro quadrados em cada um dos lados – que formam um belo e chamativo conjunto. Não por acaso, as lanternas ficam embutidas na carroceria, evitando assim que objetos quebrem as lentes.
Para fechar, o estepe vem pendurado na tampa traseira, tanto pela tradição como pela falta de espaço interno para abrigar a roda sobressalente.
Dá para dizer que o Defender 90 é uma opção de compra do nicho do nicho e, não por acaso, custa apenas R$ 14.000 a menos do que a sua configuração maior que oferece mais espaço interno, para pessoas e bagagens, e duas portas extras.
O Defender, por si só, já é uma escolha particular, exclusiva, com um público muito específico. Com duas portas, esse universo fica ainda mais restrito. E é justamente essa a proposta dessa versão diferenciada.
O Defender 90 vem para conquistar os proprietários do modelo antigo pelo visual, pelas dimensões mais práticas e pela nostalgia ainda mais evidente. Afinal, a versão maior pode ser apenas o transporte de grandes famílias.
A menor, não. Esta é focada num estilo de vida e vai honrar a história do Defender nas trilhas.
Veredicto Quatro Rodas
Bom para qualquer situação, de asfalto a off-road pesado, para quem não abre mão de luxo e muito estilo.
Ficha Técnica
Preço: R$ 547.950
Motor: gasolina, 4 cil., 16V, turbo, injeção direta,1.997 cm3; 300 cv a 5.500 rpm, 40,8 kgfm a 1.500 rpm
Câmbio: automático, 8 m., tração 4×4
Direção: elétrica, diâm. giro, 11,3 m
Suspensão: duplo A (diant.), multi-braços (tras.)
Freios: a disco
Pneus: 255/60 R20
Dimensões: compr., 458,3 cm; larg., 210,5 cm; altura., 196,9 cm; entre-eixos, 258,7 cm; altura livre do solo, 29,1 cm; ângulo de ataque, 37,5°; ângulo de saída, 40°; ângulo de rampa, 31°; imersão em água, 90 cm; peso, 2.140 kg; porta-malas, 397 l; tanque, 90 l
Desempenho: 0 a 100 km/h, 7,1 s; velocidade máxima de 191 km/h