Focus e Golf são dois dos carros mais vendidos ao redor do planeta. O modelo da Ford, fabricado no México, é o mesmo da Europa, onde receberá um discreto face-lift no segundo semestre de 2014. O Golf também é igual ao europeu – ou melhor, ele é o europeu, uma vez que vem da Alemanha. Mas será por pouco tempo: a fábrica de São José dos Pinhais (PR) está sendo ampliada e dela sairão a partir do segundo semestre de 2015 as versões nacionalizadas do Golf com motores 1.4, 1.6 e 2.0, todos com tecnologia flex.
O fato é que Focus e Golf pretendem, mais cedo ou mais tarde, estar no topo do ranking dos hatches médios. Isso significa brigar com pesos pesados, como Chevrolet Cruze (segundo no ranking de vendas do segmento), Peugeot 308 (terceiro) e Fiat Bravo (quinto) – as antigas versões de Focus e Golf são primeiro e quarto, respectivamente.
Antes das análises, vale lembrar que o balizador é o confronto do novo (Focus e Golf) com o já estabelecido (308, Bravo e Cruze). Por esse motivo é que você vê aqui um mix de motores: 1.4 turbo, 1.6, 1.8 e 2.0. Consideramos para o comparativo as seguintes versões: Focus SE (63 990 reais), Golf Highline (67 990 reais), 308 Allure (60 990 reais), Bravo Sporting (59 970 reais) e Cruze LT (64 490 reais).
O Golf é o dono de um bom conteúdo de série: tem, por exemplo, sete airbags (frontais, laterais, do tipo cortina e de joelho para motorista). Ele oferece ainda a melhor qualidade de acabamento: a carroceria é bem montada, com vãos pequenos e regulares, enquanto a cabine exibe materiais de visual e textura agradáveis. Mas não se iluda com o modelo das fotos, com todos os opcionais – completo, um Golf manual sai por impensáveis 109 652 reais.
Apesar de ser o mais caro da turma, o Golf de entrada seria um bom negócio. Seria. Ligamos para dez concessionárias Volkswagen e ouvimos de todas a mesma resposta: “Básico e com câmbio manual, só para 2014”. Ou seja, o carro de 67 990 reais existe somente nas tabelas – na prática, o Golf mais em conta que conseguimos foi um de 84 700 reais, com opcionais. Portanto, nem os números de pista ou a dirigibilidade incontestavelmente superiores são suficientes para colocar, atualmente, o Golf na briga entre os hatches médios com preços entre 60 000 e 70 000 reais. Mas vale ressaltar: quando ele existir (e se o preço for mantido), será a melhor opção entre os hatches médios, principalmente para quem topa investir no prazer de uma condução refinada, com direção rápida e torque farto em praticamente qualquer faixa de rotação do motor.
Suspensão multilink
Ainda que muito menos empolgante, o Focus SE é outra boa opção para quem gosta de dirigir. Obediente, tem comportamento neutro em curvas de grande raio e bom nível de absorção das irregularidades do piso, o que se traduz em estabilidade direcional. Não por acaso, apenas Golf e Focus têm suspensão traseira multilink. Completam o ranking da boa dirigibilidade, pela ordem, Cruze, Bravo e 308. Continuando no capítulo das impressões ao volante, vale um passeio pelos motores e câmbios. A Ford providenciou para o hatch que estreia em novembro um upgrade do seu 1.6 16V Sigma. Agora o quatro-cilindros conta com variador de fase nos comandos de válvulas de admissão e escape, além de aquecimento do combustível que dispensa o tanquinho de gasolina – presente na trinca veterana. O 1.4 turbo do Golf é movido apenas a gasolina. “Por enquanto, pois a engenharia está trabalhando pesado nos ajustes para a chegada do sistema flex para esse motor. Ele não usará tanquinho e chega na estreia do Golf brasileiro”, diz uma fonte ligada à Volkswagen. Cruze, 308 e Bravo dão sinais da inferioridade técnica de seus motores: ao apelar para uma cilindrada maior, bebem desproporcionalmente mais do que andam.
Acabamento ruim
Ponto alto da Ford de outrora, o acabamento do Focus fica a dever. Na carroceria, os desalinhamentos são vistos de longe. Os vãos são grandes, irregulares e assimétricos entre um lado e outro do carro. Coisas de uma unidade pré-série? Pode até ser, mas como essa argumentação ção se tornou constante nos lançamentos – e, mais tarde, o que se vê nas lojas são carros com os mesmos problemas, – prefiro analisar sem fazer tais concessões. Apesar dos pontos a melhorar, o que o Focus SE tem a oferecer vai além da segunda melhor dirigibilidade do comparativo e um design recém-saído do forno. Ele é, por exemplo, o único da turma com bancos de couro. A decoração interna também agrada, com insertos prateados no volante, console central e portas. Porta-objetos e porta-copos, descanso de braço entre os bancos dianteiros e apoios de cabeça escamoteáveis na traseira – que permitem boa visualização na consulta ao retrovisor – facilitam a vida do motorista e seus convidados.
Em termos de espaço, os cinco hatches são equivalentes, mas Focus e Golf novamente se valem do projeto mais recente e gozam de pequena vantagem, menos pelas medidas em si e mais pela sensação de amplitude da cabine. Bravo, Cruze e 308 se defendem bem, com porta-malas de, respectivamente, 400, 402 e 430 litros – Focus e Golf levam 316 e 313 litros. O representante da Fiat sofre pela ergonomia inferior. Mesmo na posição mais baixa, o banco do motorista é alto e a capa da coluna de direção, muito grande, raspa na perna esquerda.
Revisão e seguro
Preparamos para este comparativo uma análise de dois gastos praticamente inevitáveis para o proprietário: com revisões e seguro (com custos de contratação da apólice e franquia). Em parceria com a Mapfre, a Ford preparou uma estratégia especial para o Focus. “Independentemente do perfil ou CEP do principal condutor, o preço do seguro será de 2 300 reais, com franquia de 2 500. É um preço determinado e será mantido mesmo após a fase de lançamento”, diz Oswaldo Ramos, gerente de marketing da Ford. Ao menos em tese, o plano deu certo: na comparação com os rivais (cujas cotações foram fornecidas pela Segurar.com), o Focus mostra os menores custos de apólice e franquia.
No fim das contas, deu a lógica e o comparativo sai com as novidades na ponta. Focus em primeiro lugar, com sua boa relação custo-benefício, apesar da necessidade de algumas melhorias, e Golf na vice-liderança com a ressalva de que a configuração correta ainda está por chegar. O Cruze, mediano nas provas dinâmicas, mas com um pacote de entrada repleto de equipamentos importantes, como controles de estabilidade e tração e volante multifuncional, lidera o segundo pelotão pela regularidade geral: raramente se destacou como o melhor da turma. Nem o pior. O Peugeot 308 segue na mão contrária: defende-se bem na pista, mas cobra uma conta desproporcionalmente alta na hora de abastecer e sua dirigibilidade é menos refinada que a do Cruze. Some aí o fato de que uma nova geração do 308 é aguardada para 2015. Na última posição, o Bravo. Aspereza do motor, ergonomia deficiente e desenho obsoleto diante dos rivais se destacaram mais que o teto solar Skywindow e o painel com textura que imita fibra de carbono. Segundo uma fonte da Fiat, um Bravo totalmente novo será apresentado no fim de 2015 e chega às lojas no primeiro trimestre de 2016.
VEREDICTO
Se você privilegia prazer ao dirigir, fique com o Focus ou, se o bolso permitir, o Golf. No outro extremo, o veterano Bravo sente o peso da idade, enquanto o 308 assusta pelo consumo elevado. Entre os dois grupos, o Cruze, que pela regularidade demonstrada nos itens analisados conquistou um honroso terceiro lugar.
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