Até os anos 70, as motos não tinham pudor em deixar seu motor 100% à mostra. Mesmo as esportivas da época, como a Honda 750 Four, sonhavam com proteção aerodinâmica. No fim dos anos 80 – com a chegada das Kawasaki GPZ e Ninja – a moda era carenagem à vontade e o conforto foi ficando para Segundo plano. A partir da virada do milênio, a bola da vez voltou a ser as peladonas, que acharam graça em tirar a carenagem e exibir seus dotes novamente. Evidente que muitas outras categorias nasceram nos últimos 30 anos, mas o volume de vendas dita as tendências e moda quer dizer maior demanda. Hoje, a moda é uma moto nem tão esportiva nem tão careta, mas um meio-termo, em que entre tantas mudanças o que mais importa é o visual esportivo agregado à posição de pilotagem confortável. A Suzuki GSX 650F é a velha guerreira, praticamente uma Bandit 650 com carenagem integral, que chegou primeiro ao mercado nacional e não se abalou com a presença da Yamaha XJ6 F, outra moto com genética naked que ganhou proteção aerodinâmica. Viveram até agora confortáveis em suas respectivas posições, até que a paçoca explodiu no ventilador, quando a Honda resolveu lançar a CBR 600F. Diferentemente de suas rivais, que vieram pobres de equipamentos para conquistar o consumidor pelo preço, a Honda é mais potente, leve, com quadro de alumínio, suspensões invertidas e precinho semelhante: atributos sedutores.
Mas seriam elas idênticas em dirigibilidade, performance e conforto? De certo a Honda é mais equilibrada e potente, mas será que quem procura esse tipo de moto está à procura somente de esportividade e potência?
Colocamos as três rivais frente a frente e descobrimos diferenças comportamentais extravagantes. Mas, mesmo a Suzuki sendo a mais pesada e a Yamaha a mais fraca, a escolha pode não ser tão fácil quanto parece.
A proposta
Se é verdade que a Suzuki GSX 650F está longe de ser uma moto feia, fato é que a Yamaha XJ6 F e a Honda CBR 600F são mais atuais. Apesar de a bolha para-brisa proteger mais o piloto, as linhas da GSX 650F não demonstram modernismo, muito menos leveza, impressão comprovada na balança, carregando cerca de 20 kg a mais que as concorrentes. Basta uma olhada na ponteira de escapamento do lado direito, que abriga o catalisador, para que os anos de projeto e o peso extra saltem à vista. Sem contar o quadro tubular de aço, ainda com berço duplo.
Os motores das concorrentes são mais modernos, herdados de superesportivas. Mais curtos embaixo, o eixo do câmbio mais alto que o do virabrequim permite que a carenagem inferior também seja menor, mais recortada, demonstrando radicalidade e leveza. Da mesma maneira, as traseiras, por não possuírem uma enorme ponteira de escapamento, deixam as motos esbeltas, levando a crer que, pelo fato de terem mais massa na parte dianteira, devem ser também mais ágeis.
Mas a Suzuki tenta compensar com um belo painel que, além de proporcionar fácil leitura, é o mais completo das três, com indicação de marcha engrenada e shift-light, itens ausentes nas rivais. O da Yamaha tem configuração semelhante, com conta-giros analógico e display digital para informar a velocidade. Já o da Honda é digital, o que nos leva a conferi-lo com frequência e a perder um pouco mais de tempo para checar as rotações, principalmente durante o dia, com o reflexo do sol.
Não é necessário ser um expert em motocicletas para notar que a Honda é mais caprichada, rica em detalhes. Os tubos da suspensão dianteira invertidos e dourados chamam atenção. Os semiguidões instalados por cima da mesa e as regulagens da suspensão saltam aos olhos, empobrecendo os guidões simples, de aço, das concorrentes.
A CBR 600F deve ser superior em estabilidade em alta velocidade, já que possui pneu mais largo (180 mm contra 160 mm da XJ6 F e da GSX 650F). Na XJ6 F falta um temperinho, a traseira ficou pobre demais comparada com a bonita carenagem. Já a GSX 650F parou no tempo.
Na estrada
Devidamente equipados, saímos para encarar uma curta viagem de 500 km. Trocando de motos a cada 100 km, as opiniões foram unânimes: a GSX 650F com bolha maior é a mais confortável, a XJ6 F também é bem confortável, nitidamente a mais silenciosa, e a CBR 600F tem muito de tudo isso e ainda é a que responde de maneira mais efetiva aos comandos do piloto. Com a bolha para-brisa bem inclinada da CBR 600F, pilotos baixinhos se protegem melhor do vento.
Apesar da configuração semelhante dos motores – quatro cilindros em linha, DOHC, 16 válvulas -, as potências máximas são bem díspares, com a Yamaha declarando 77,5 cv a 10 000 rpm para a XJ6 F, a Suzuki, 85 cv a 10 500 rpm para a GSX 650F e a Honda, incríveis 102 cv a 12 000 rpm para a CBR 600F. O gerenciamento eletrônico de cada uma, somado aos cabeçotes trabalhados para a proposta, que um dia foi street/naked, tem total influência nessa diferença de cavalaria. Numa tocada tranquila, a mais econômica foi a Yamaha, mas não por uma grande diferença, com cerca de 19 km/l.
Todavia, todos esses números não refletem detalhadamente como elas são na prática. As massas diferentes e a maneira como a potência é despejada no solo são de extrema importância.
Por exemplo, dentro do limite de velocidade permitida, a XJ6 F não se mostra mais fraca e, em linha reta, não perde em nada para a potente CBR 600F. Apenas no momento de reduzir as marchas e subir o giro até a faixa vermelha do conta-giros é que a Honda se sobressai.
Dentro da cidade, os parâmetros são outros. Ganha-se aqui e perde-se ali. As suspensões macias da GSX 650F, e as 50 cc a mais, evidentemente oferecem mais conforto que a CBR 600F.
Com a Suzuki, trocamos menos de marchas em baixas velocidades. Mas o peso de 215 kg não ajuda se comparada com a XJ6 F, que também tem quadro e balança de aço, mas pesa 20 kg a menos. A posição de pilotagem da CBR, com as costas ligeiramente mais curvadas, não coopera muito em utilização dentro da cidade.
Voltando às estradas, nas frenagens fortes e na preparação para as entradas de curvas, o peso extra da GSX 650F e os chassis da XJ6 F não permitem abusos com a mesma neutralidade e estabilidade oferecida pela CBR 600F. Ou chacoalham ou impossibilitam a precisão para que o piloto coloque a roda dianteira onde pretende. Nesse ponto, a CBR 600F dá aula de precisão. Nas saídas de curvas, a GSX 650F aparenta mais fôlego na retomada, crescendo de giro rapidamente e empurrando com mais vigor. Todavia, logo a brincadeira acaba, pois as motos mais leves das concorrentes são mais rápidas, além de mostrar uma relação de câmbio que possibilita esticar mais as marchas.
O motorzão da GSX 650F ainda está em pleno prazo de validade, mas carrega o ônus do sobrepeso do conjunto. A prova disso está em nossas medições, em que a GSX 650F obteve números semelhantes aos da XJ6 F, mesmo sendo muito mais pesada. Mas ela tem seu valor, caso a proposta de utilização seja viajar por centenas de quilômetros e com acompanhantes. Tem maior proteção aerodinâmica e mais conforto por causa do banco maior do garupa. Na verdade a GSX 650F não tinha seus defeitos tão expostos até a chegada da Honda CBR 600F, que é superior em quase tudo e custa somente 600 reais a mais.
A Yamaha XJ6 F chega a ser (agora que abaixou o preço) 4 000 reais mais barata que a Honda e a Suzuki, mas com ela acontece uma grande curiosidade. A versão N (sem carenagem) faz um tremendo sucesso e ela não. A explicação é que, por 2 500 reais a menos, a Yamaha disponibiliza uma versão naked muito mais bonita. Até pouco tempo atrás, quando a F custava 31 000 reais, quem tinha esse valor na mão preferia comprar outra moto, em vez de investir nesse modelo apenas pela carenagem. Isso explica muita coisa. Primeiro que a XJ6 F é uma moto boa, mas não tanto quanto as rivais, de mesmo preço, por isso teve de baixar. E a Suzuki GSX 650F, mais pesada e antiquada, também vai ter que baixar o preço se quiser continuar no páreo. A Honda CBR 600F definitivamente não veio para brincadeiras!
HONDA CBR 600F
TOCADA
Encaixa-se entre uma 100% street e uma superesportiva. Neste comparativo, não foi a mais confortável para viajar nem a mais adequada para a cidade e mesmo assim venceu.
★★★★
DIA A DIA
Para esta tarefa existe a Hornet. A levinha XJ6 F e as 50 cc a mais da GSX 650F fazem a diferença.
★★★
ESTILO
Comparada com as rivais está um passo à frente. É Linda e bem acabada sem sombra de dúvidas.
★★★★★
MOTOR E TRANSMISSÃO
Dispensa comentários. Tudo de bom em todos os sentidos. O câmbio chega a ser extraordinário.
★★★★★
SEGURANÇA
Sem o sistema ABS já é excelente, o que dirá com ele? Não faz falta na versão standard.
★★★★★
MERCADO
Chega com a base da Hornet, campeã de vendas nessa categoria no país, e com atributos extras para repetir o sucesso.
★★★★
YAMAHA XJ6 F
TOCADA
É uma moto extremamente leve, por se tratar de uma quatro-cilindros em linha com quadro e balança da suspensão traseira de aço. Silenciosa, confortável e segura.
★★★★
DIA A DIA
Tem mais poder em baixos giros se comparada com as antigas FZ-6. A versão sem carenagem faz mais sentido nessa condição.
★★★
ESTILO
A dianteira é muito mais bonita que a traseira. Faz sentido a versão N (sem carenagem) vender mais.
★★★
MOTOR E TRANSMISSÃO
Adequado para a proposta. Poderia ser mais potente, mas aí iria precisar de mais chassis.
★★★★
SEGURANÇA
Bons freios e boa proteção aerodinâmica. Não existe versão com ABS.
★★★★
MERCADO
Não é tão quente quanto o da versão N. Agora abaixou um pouco o preço, mas ainda não chegou a versão 2012.
★★★
SUZUKI GSX 650F
TOCADA
Fácil e confortável. A posição de pilotagem coopera para andar muitos quilômetros sem sair de cima.
★★★★
DIA A DIA
É a que tem maior poder de resposta em baixos giros e as suspensões macias absorvem bem as irregularidades do asfalto.
★★★★
ESTILO
Parece pesada e realmente é. Precisa de um regime urgente para continuar no páreo.
★★★
MOTOR E TRANSMISSÃO
É um motor que nasceu no século passado, ainda a ar e com 600 cc. Ganhou 50 cc a mais e refrigeração líquida para se adequar às leis antipoluição. Funciona, mas é pesado!
★★★
SEGURANÇA
Não existe versão com ABS, mas os enormes discos de freio dianteiros e os bons pneus Bridgestone dão conta do recado.
★★★★
MERCADO
Ela estava acomodada até então. Não era um sucesso de vendas, mas roubou bastante adeptos da Bandit. Agora, com a chegada da CBR 600F, é melhor se preocupar.
★★★