Em 2013, o segmento de SUVs compactos se limitava a Ford EcoSport e Renault Duster. Não era difícil para o Chevrolet Tracker representar uma terceira via com motor 1.8, versatilidade e o requinte que não se via nos outros dois.
Mas o SUV da GM não resistiu à chegada de Honda HR-V e Jeep Renegade e hoje nem sequer ameaça a sexta posição do Peugeot 2008 no segmento: vendeu 8.558 unidades em 2016, contra 10.692 do francês.
Talvez o Chevrolet Tracker tenha mais sorte a partir de agora, tendo o novo Cruze como fonte de inspiração. A reestilização chega acompanhada do mesmo motor 1.4 turbo do sedã, mas com preço inicial mantido em interessantes R$ 79.990.
A proximidade dos dois está no design. Faróis (que têm leds diurnos e projetor de bloco elíptico na versão LTZ) têm o mesmo formato e estão alinhados com a grade estreita, que nem sequer é funcional: todo o ar que passa pelo radiador entra pela grande tomada de ar inferior, que também aloja a placa. Os nichos dos faróis de neblina também cresceram.
Atrás, o novo para-choque tem área pintada maior, envolvendo os refletores. O Tracker LTZ das fotos tem lanternas com leds, enquanto o LT mantém praticamente a mesma lanterna de antes, mas com lentes transparentes para as luzes de seta e ré.
Não fosse pelo volante, poderia dizer que o interior do Tracker é todo novo. O quadro de instrumentos, antes digital e que parecia saído de uma scooter, agora é analógico e a central MyLink (de segunda geração) está em posição mais alta, com as novas saídas de ar verticais ao lado.
Os plásticos ainda são duros, mas há aplique de couro sintético na faixa central do painel. Pena que dessa forma ele tenha perdido o segundo porta-luvas.
O design atualizado trouxe a leveza que faltava ao Tracker, que mais parecia uma versão menor da Captiva (que continua à venda). Leveza esta que sentimos ao dirigi-lo, graças ao bom casamento entre motor e câmbio.
Sob pressão
Pode-se dizer que as esperanças do Tracker estão depositadas sob o capô. Além de o sedã médio ter servido de inspiração para a nova dianteira, ele também emprestou o motor 1.4 Ecotec Turbo com 153 cv e torque de 24,5 mkgf a 2.000 rpm. Bem melhor que o antigo 1.8 16V, que era tão preguiçoso quanto um 1.6.
Neste, o conversor de torque se mostrava relutante antes de enviar a força do motor para o câmbio. Agora, o Tracker embala rápido, mas de forma progressiva. Esse motor 1.4 turbo não é explosivo, mas trabalha como um motor grande. E tem a força de sobra para retomadas que você espera de um motor turbinado. Para quem preza por conforto, esse é o caminho.
Por trás dessas sensações, está o mesmo câmbio automático de seis marchas de antes. É o GF6 de terceira geração com relações e programação novas e adequadas ao quatro cilindros turbo. As trocas acontecem no momento certo, sem esticar marchas.
As boas retomadas também podem ser creditadas à transmissão, que faz kickdown rápido quando se faz mais pressão no acelerador em busca de potência. Pena que as trocas sequenciais ainda sejam feitas pelos dois botões na lateral da alavanca.
Paro em uma rotatória e o motor desliga. Sim, o novo Tracker também incorporou sistema start-stop para economizar combustível no trânsito urbano, como no Cruze. A única forma de evitar que o motor desligue é correndo a alavanca do câmbio para o modo manual.
A propósito, espera-se boa melhora no consumo. A Chevrolet ainda não nos deixou realizar testes de pista com o Tracker, mas faremos isso em breve. Nos testes do Inmetro-Conpet, ele faz 10,6 km/l na cidade e 11,7 km/l na estrada com gasolina. Para efeito de comparação, o novo Cruze, 92 kg mais leve e com aerodinâmica melhor (0,3 Cx contra 0,35 Cx) fez no Conpet 11,2 km/l e 14 km/l, respectivamente.
Quanto ao desempenho, nas medições da Chevrolet (com etanol) o Tracker 1.8 acelerava de 0 a 100 km/h em 11,5 segundos. Segundo a GM, esse número caiu para 9,4 com o motor turbo – o Cruze faz o mesmo em 9 segundos.
A suspensão também evoluiu. Em vez de ser mole e suscetível a qualquer irregularidade do asfalto, agora é firme e absorve com maestria tudo que as rodas percebem (mesmo quando com pneus 215/55 R18), sem ser desconfortável.
O Tracker ficou muito mais estável e assentado e a nova direção elétrica, que substitui a hidráulica, tem boa variação de peso conforme a velocidade aumenta. Mas o motor novo não implicou novos freios: ainda há tambor na traseira.
Contando feijões
Pare por um momento e tente se lembrar de um SUV compacto com motor turbo e câmbio automático. Como o Peugeot 2008 THP só existe com câmbio manual (clique aqui para entender por que), o único que sobra é o novo Suzuki Vitara, que testamos recentemente, com ótimos resultados na pista. Contudo, o japonês custa a partir de R$ 107.000.
Já com motor 1.4 turbo e câmbio automático, o Tracker LT manteve o preço inicial de R$ 79.990 do modelo 2016. Para efeito de comparação, é o mesmo valor cobrado pelo raro HR-V 1.8 LX com transmissão manual. Um Renegade 1.8 Sport manual custa R$ 79.490, o EcoSport 1.6 Freestyle manual sai por R$ 79.150 e o 2008 Griffe 1.6 automático custa R$ 81.690 (R$ 87.290 o THP).
Claro que não há milagre: o Tracker continua sem controles de tração e estabilidade em todas as versões, enquanto todos os concorrentes acima têm esses equipamentos de segurança de série. A Chevrolet usa o preço competitivo do modelo para justificar a falta, mas estamos falando de algo que custa cerca de 100 dólares na cadeia produtiva.
Sistemas de segurança não estão na lista de prioridades do brasileiro. O Toyota Corolla também é o único sedã médio sem controles de estabilidade e tração – e a própria Chevrolet criticou o sedã japonês por isso no lançamento do Cruze -, mas ainda lidera o segmento com folga.
O Tracker também continua sem retrovisor eletrocrômico, acendimento automático dos faróis e ar-condicionado digital. Todas as versões têm ar-condicionado manual, Isofix, rack no teto, vidros elétricos com função um toque, central MyLink com Android Auto e Apple CarPlay, piloto automático, volante multifunção com regulagem de altura e profundidade e start-stop.
Porém, só a versão LTZ, que custa R$ 89.990, traz teto solar, bancos de couro, sensor de estacionamento, banco do carona rebatível, câmera de ré, alerta de pontos cegos e tráfego cruzado, partida sem chave, espelhos externos aquecidos e rodas de 18 polegadas (na LT, elas são aro 16). Por mais R$ 3.000 (total de R$ 92.990), o pacote 1SF acrescenta os airbags laterais e de cortina.
Apesar das faltas, o Tracker ficou bem interessante na linha 2017. Principalmente se você é daqueles que não ligam para a ausência dos controles de estabilidade e tração – como os milhares de donos de Corolla. O novo Chevrolet continua menos equipado, mas tem o motor para se sobressair na multidão de SUVs.
Veredicto
Mais do que uma alternativa a carros mais vendidos, agora o Tracker tem um motor turbo para se destacar no segmento. Está no caminho certo, só falta atentar para o lado da segurança.
Ficha técnica – Chevrolet Tracker LTZ
- Preço: R$ 89.990
- Motor: flex, diant., transv., 4 cil., 1.399 cm3, 16V, DOHC, CVVT, injeção direta, turbo, 153/150 cv a 5.200/5.600 rpm, 24,5/24 mkgf a 2.000/2.100 rpm
- Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
- Suspensão: McPherson(diant.) / eixo de torção (tras.)
- Freios: discos vent. (diant.) / tambor (tras.)
- Direção: elétrica
- Rodas e pneus: 215/55 R18
- Dimensões: comp., 425,8 cm; largura, 177,6 cm; altura, 167,8 cm; entre-eixos, 255,5 cm; peso (aproximado), 1.413 kg; tanque, 53 l; porta-malas, 306 l
- Equipamentos: ar-condicionado, direção elétrica, vidros elétricos, partida sem chave, faróis com projetor e leds diurnos, lanternas de leds, alerta de tráfego cruzado, monitor de pontos cegos, start-stop, teto solar, central multimídia, câmera de ré, Isofix, faróis de neblina, retrovisores aquecidos.