Impressões: Honda Accord híbrido tem motor de Civic e preço do Haval H6
Sedã grande de proposta executiva chega ao Brasil por R$ 324.900 em versão híbrida com mais apelo que o Civic e sem concorrentes diretos
Após uma passagem relâmpago de apenas seis meses no mercado brasileiro, o Honda Accord híbrido está de volta. Agora, porém, em um cenário diferente: o sedã estreia uma nova geração que está maior, mais luxuosa e disposta a se afastar do “irmão menor” Civic, culpado pela curta duração do antigo modelo por aqui.
O novo contexto também está mais favorável ao modelo no quesito concorrência, já que atualmente ele é o único sedã grande de uma marca generalista à venda no Brasil. Assim, ele fica em evidência ao público fiel da categoria, que busca por um sedã de proposta executiva e não quer desembolsar, em média, R$ 500.000 pelos premium.
O preço, dessa forma, torna-se outro atrativo: os R$ 324.900 da versão única, Advanced Hybrid, ficam próximos de sedãs médios premium, como BMW Série 3 e Audi A3, e de SUVs híbridos, como Jeep Compass 4xe, Toyota RAV4 e GWM Haval H6.
Na aparência, o novo Accord mira em um público mais discreto. Seu desenho está mais maduro e elegante em relação à geração anterior. Na dianteira, o conjunto horizontalizado formado por grade e faróis (full led com facho alto automático) remete a uma expressão séria.
A grade em preto brilhante tem aletas ativas, que se abrem e fecham de acordo com a necessidade aerodinâmica e de refrigeração, e há um aplique prateado nas extremidades da abertura inferior. Note que não há cromados, assim como na traseira, que destaca as lanternas que vão de um lado a outro, têm máscara negra e um leve ar retrô.
A lateral tem os únicos apliques cromados do carro, com um friso acima das janelas, um vinco mais marcado acima das maçanetas e rodas de 18 polegadas, com acabamento que mistura preto brilhante e diamantado, e pneus 235/45.
O interior do novo Accord traz fortes lembranças do Civic, especialmente pela grade que percorre toda a área central do painel e camufla as saídas de ar. Neste caso, apenas as hastes de direcionamento das saídas mudam de formato, são redondas no Civic e horizontais no Accord. Outros elementos, como o quadro de instrumentos de 10,2”, os comandos do ar-condicionado digital bizona e o volante, são os mesmos do sedã menor.
Entre as maiores diferenças estão o console central, que recebe uma alavanca de câmbio (enquanto no Civic o acionamento é feito por botões), em volumes do painel e na multimídia de 12,3” com Android Auto e Apple CarPlay, maior que a de 9” do Civic.
Ainda entre os equipamentos, há carregador de celulares por indução, head-up display, oito airbags, teto solar, câmera de ré, detector de fadiga, piloto automático adaptativo, sistema de permanência em faixa, frenagem automática de emergência e sensor de pressão dos pneus.
Não há alertas de pontos cegos mas, quando a seta para a direita é acionada, é exibida na central multimídia a imagem captada por uma câmera instalada no retrovisor direito. O sistema é de bastante ajuda, já que tem uma imagem de bom ângulo. Mesmo que existam sensores de estacionamento, fica faltando uma câmera na dianteira, que ajudaria a manobrar um carro com uma frente tão pronunciada.
O acabamento do Honda Accord é o que se espera de seu preço e posicionamento, com materiais de boa qualidade, extenso uso de plásticos emborrachados, e mistura de texturas de bom gosto. Os bancos e os apoios de braço são em couro.
Um dos maiores predicados do novo Accord 2024 é o espaço. Quem viajar atrás terá espaço de sobra para as pernas, mesmo que quem esteja nos bancos dianteiros tenham estatura mais alta, perto de 1,85 m. Um terceiro ocupante ficará incomodado com o alto túnel central, mas lotar o banco traseiro não é a proposta deste Honda, que tem como principal uso um transporte executivo de até duas pessoas. Há saídas de ar-condicionado e portas USB, mas poderia ter ajustes próprios de intensidade e temperatura.
Logo atrás, o porta-malas de 574 litros pode levar muita bagagem. Mas há duas falhas: a dobradiça (que invade a área das bagagens) não tem revestimento. Para o segmento soa grosseiro ver dobradiças sem capas plásticas, especialmente as que deixam conduítes aparentes. No Civic, há esse cuidado. O segundo pênalti fica para a ausência de fechamento elétrico do porta-malas.
O conjunto mecânico do Accord é o mesmo e:HEV do Civic, ou seja, combina dois motores elétricos e um a combustão. Seu funcionamento, porém, é diferente dos demais híbridos do mercado, já que aqui é um dos elétricos quem manda. Não por acaso, tem números mais robustos em relação ao combustão. São 184 cv e 34,1 kgfm, contra 146 cv e 19,2 kgfm do motor a gasolina.
Na prática, apenas esses motores tracionam o sedã, enquanto o segundo elétrico serve apenas como um gerador que transforma a energia gerada pelo combustão em energia elétrica. Os dois que movimentam as rodas, por sua vez, quase nunca tracionarão em conjunto. Isso acontecerá em uma situação extremamente específica, a qual a própria Honda evita detalhar.
A Honda do Brasil não declara a potência combinada dos motores elétrico e térmico, ao contrário das subsidiárias de outros países. Nos Estados Unidos, onde o Accord é fabricado, a Honda declara a potência líquida ISO, medida pelo pico de produção simultânea dos dois motores elétricos e do motor a gasolina. No total são 204 hp, ou 207 cv. É o mesmo pico de potência declarado para o Honda Civic e:HEV na Tailândia, onde é fabricado. Logo, os Accord e Civic vendidos no Brasil têm praticamente a mesma mecânica, ainda que em outros mercados sejam anunciados com outra potência.
Funcionando separados, os motores atuarão em faixas de melhor rendimento. O elétrico movimentará o Accord em situações urbanas e de exigência máxima; o gasolina atuará em velocidades de cruzeiro mais altas. Em situações como aceleração total, o elétrico tracionará o modelo, mas o motor a combustão também estará ligado para gerar mais energia. Ele também simulará trocas de marcha para deixar a tocada mais emocionante.
A Honda não divulga o tempo de 0 a 100 km/h do Accord híbrido, mas ele certamente levará mais que os 7,2 s do Civic, apesar de ter acelerações vigorosas. Já o consumo, segundo a marca, é de 17,8 km/l na cidade e 16,1 km/l na estrada.
A condução do sedã grande é tão amigável que faz com que nos sintamos em um carro muito menor. Além disso, a suspensão gruda o carro no chão, mas trabalha de forma extremamente macia e não transmite certos relevos do solo para a cabine. A direção segue a proposta de conforto.
Sem concorrentes e bem colocado no segmento em conteúdo e preço, o Accord pode ir proporcionalmente melhor que o Civic nas vendas.
Veredicto Quatro Rodas
Sozinho entre os sedãs grandes, o Accord tem seus rivais indiretos. Mas nenhum une tantas qualidades como ele.
Ficha técnica – Honda Accord Advanced Hybrid
Preço: R$ 324.900
Motor: elétrico, 184 cv, 34,1 kgfm; baterias de íons de lítio, 1,05 kWh; gasolina, 1.993 cm³, 16V, 146 cv a 6.100 rpm, 19,2 kgfm a 4.500 rpm
Câmbio: automático tipo e-CVT, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: indep. McPherson (diant.), multilink (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.)
Pneus: 235/45 R18
Dimensões: comprimento, 497,1 cm; largura, 186,2 cm; altura, 145,9 cm; entre-eixos, 283 cm; peso, 1.625 kg; porta-malas, 574 litros; tanque de combustível, 48,5 l; altura livre do solo, 13,4 cm
Desempenho: n/d
Consumo (dado de fábrica): 17,8 km/l (cidade); 16,1 km/l (estrada)