Este jornalista que vos escreve tem 43 anos. Vi, portanto, o nascimento (em 1987) e a morte do Gol GTS 1.8 (em 1993) e posso afirmar, sem medo de errar, que do final dos anos 80 ao início dos anos 90 eu e o Brasil sonhávamos em ter um exemplar na garagem.
E olha que a partir de 1989 ele teve que encarar uma briga doméstica com o GTi, com seu motor 2.0 equipado com a grande novidade da época: a injeção eletrônica. Era um tempo em que o mercado fechado aos importados alçava ainda mais o GTS à condição de sonho de consumo, de objeto de desejo. Mas o mundo mudou. Ainda bem.
O Gol segue em produção, mas já não tem mais pegada com o público a ponto de merecer um sobrenome tão nobre quanto o GTS (Gran Turismo Sport). A honraria cabe agora ao Polo. E se ele tem tamanho prestígio, foi da QUATRO RODAS o privilégio de dirigir em primeira mão e com exclusividade o Polo GTS.
Se a ideia da Volkswagen ao expor as versões GTS Concept de Polo e Virtus no Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro, era fazer uma última aferição do grau de interesse do público, a missão está cumprida. Poucos carros na mostra atraíram tanta gente.
“Não vamos divulgar a data, mas é certo que ambos entrarão em produção em breve”, disse Rodrigo Purchio, gerente de marketing da VW. Para os detratores de plantão que insistem em dizer que o melhor seria trazer o GTI, versão à venda na Europa, com motor 2.0 TSI de 200 cv e câmbio DSG de sete marchas, Purchio dá o recado: “Chegaria num preço tão alto que tornaria absolutamente inviável a sua comercialização”.
Como no GTI
Antes de iniciar a análise do GTS, vale o reforço: alguns itens da versão de produção podem ser alterados. Da maneira que está, exibe quase todos os elementos de estilo herdados do irmão rico: o Polo GTI.
Os faróis serão do tipo full-led, ou seja, com leds em vez de lâmpadas convencionais nos fachos baixo e alto. Uma faixa vermelha divide a grade superior em duas partes e vai de um extremo a outro da dianteira, passando, inclusive, por dentro dos faróis, onde acompanha o zigue-zague da linha inferior de led. Esta, pode assumir duas cores: branca na maior parte do tempo, cumprindo o papel de luz diurna, e laranja piscante ao assumir a função de indicador de direção.
Na porção superior da grade, mais à direita, destaca-se a assinatura GTS. Não à toa, as três letras mágicas foram aplicadas em vários outros pontos: em para-lamas dianteiros, tampa traseira, soleiras das portas, volante e encosto dos bancos dianteiros.
Na traseira, um prolongamento no topo aumenta o aerofólio, que é estampado na tampa do porta-malas de todos os Polo. Assim como os faróis, as lanternas contam com iluminação por leds.
O para-choque também foi herdado do GTI europeu, mudando basicamente o aplique preto inferior, agora texturizado e com uma abertura à esquerda que serve de moldura para a ponteira dupla do escapamento.
Nas laterais, além da já citada sigla GTS no para-lama dianteiro, apenas outras duas alterações em relação ao Polo Highline: saia junto à caixa de ar, abaixo das portas, e rodas de liga leve aro 18 com pneus 215/40.
A decoração da cabine remete ao exterior, com frisos vermelhos nos difusores de ar laterais e no console central, na moldura do câmbio. O revestimento dos bancos e do volante tem costura aparente, também na cor vermelha.
Perguntado se uma versão atualizada do clássico banco Recaro com tecido xadrez – um dos itens mais marcantes do velho Gol GTS – chegou a ser cogitada para equipar os novos GTS, o designer-chefe da Volkswagen, José Carlos Pavone, explicou: “Existem algumas regras que a matriz cuida com especial atenção justamente para criar uma linguagem de estilo ao redor do planeta. Uma delas é a que determina que o tecido com faixas que se cruzam, formando um xadrez parcial, é de aplicação exclusiva das versões GTI”.
De qualquer maneira, é preciso ser justo: se o GTS de produção tiver o mesmo banco do Concept, o piloto terá um posto de condução confortável e com excelente nível de suporte lateral, por conta dos prolongamentos no assento e no encosto.
Topo de linha
A VW ainda não fala sobre preço e configuração dos equipamentos, mas é provável que Polo e Virtus GTS cheguem um nível acima da versão Highline completa, ou seja, com painel digital e alto-falantes Beats. Considerando que um Polo Highline com todos os equipamentos sai hoje por volta de R$ 82.000, dá para imaginar que o Polo GTS chegará por volta de R$ 90.000, enquanto o Virtus deve beirar os R$ 100.000.
Por se tratar de um carro-conceito, o test-drive ficou restrito às vias internas da fábrica da Volks em São Bernardo do Campo (SP) e o teste na pista não foi possível porque o Polo GTS cedido não estava com suspensão e freios finalizados pela equipe de engenharia.
Motor e câmbio já eram os definitivos (1.4 TSI e caixa automática de seis marchas, ambos herdados de Golf e Jetta). Tomando por base os resultados do nosso teste com o Golf 1.4 TSI, dá para esperar que o Polo GTS cumpra a prova de aceleração de 0 a 100 km/h entre 8 e 9 segundos.
O início das vendas também é informação guardada a sete chaves pela Volkswagen. No Salão, muita gente falou que a estreia seria no primeiro semestre de 2019, mas uma fonte ligada à marca garante: “As vendas só começam no segundo semestre. Ainda há muitos detalhes a serem definidos nos GTS, tanto no Polo quanto no Virtus”. Ou seja, está iniciada a contagem regressiva.
Geração GTS
O primeiro Gol GTS surgiu em 1987. Inicialmente, era uma mera evolução da versão GT, com painel e volante de quatro raios que ainda lembravam o dos Volkswagen dos anos 70.
Foi a partir do ano seguinte, quando ganhou retrovisores incorporados às portas, além dos clássicos volante quatro bolas e painel com comandos satélite que o GTS tornou-se, de fato, o maior objetivo de desejo sobre rodas do Brasil.
A ficha técnica indicava que o motor 1.8 carburado e aspirado rendia 99 cv declarados, muito embora o bom desempenho (0 a 100 km/h em 10,7 segundos no nosso teste) indicasse uma potência maior – a legislação beneficiava modelos com até 100 cv.
Refinado para os padrões de época e com um tratamento visual que o diferenciava das demais versões, o GTS só foi encontrar um rival à sua altura em 1989: justamente o Gol GTI, com seu 2.0 injetado de 120 cv.