A Suzuki Hayabusa – nome do falcão-peregrino em japonês – reinou nos céus das altas velocidades por muito tempo. Agora surge no mercado brasileiro uma adversária à altura, a Kawasaki Ninja ZX-14, a maior esportiva da marca verde. Aí vem briga boa.
No fim de janeiro, a Hayabusa custava 56000 reais, contra 61990 da big Ninja (preços de fábrica). O que não quer dizer que ela seja mais barata. Os soberbos freios ABS da Kawasaki, inexistentes na Hayabusa à venda no mercado brasileiro, justificam essa diferença de 5990 reais. A outra moto disponível no Brasil que participa desse segmento é a tecnológica BMW K 1300 R, de mais de 74000 reais, preço que a isola em um nicho próprio.
Nessa faixa de produtos, desempenho é mandatório, é o que se compra e o que se vende ao desfilar pelas ruas. A Ninja ZX-14 não decepciona. Acelera de 0 a 100 km/h em 3,2 segundos, contra 3,08 segundos da Hayabusa. Em termos práticos, a diferença de 1,2 décimo de segundo é quase desprezível: podemos decretar um empate técnico, pois qualquer vento a favor ou contra, ou mesmo uma mísera patinadinha de embreagem, pode equiparar esse número – não se pode desprezar o fator humano. Ambas atingem os 200 km/h bem próximo também: a Suzuki na frente, por 25 décimos de segundo. Leva 8,75 segundos para realizar a prova, contra 9 segundos da ZX-14. De qualquer modo, as duas formam uma dupla capaz de fazer qualquer dono de Ferrari enrubescer de ódio em uma arrancada. Na velocidade máxima em nossa pista de testes – na qual a reta de cerca de 1 milha (1,6 km) não é suficiente para uma moto dessas desenvolver todo seu potencial, mesmo começando e terminando em uma curva contornável a cerca de 100 km/h -, a vantagem, ligeiríssima, se mantém em posse da Hayabusa e seus 286 km/h. A máxima da ZX-14 foi de 281 km/h. É, parece que a Haya é um pouquinho mais rápida mesmo.
A Ninja contra-ataca com vantagem na segurança ativa. Seus freios ABS têm precisão de samurai. Não vibram ao entrar em ação e não dão aquela liberada assustadora em situações de limite (ou de pânico). Ao contrário, permitem freadas firmes, esportivas e até radicais, e com segurança adicional que compensa enormemente a diferença de preço.
A moto da Kawasaki também tem vantagens em maneabilidade, especialmente no uso urbano. Claro que essa não é a modalidade de uso principal dessa classe de motos, mas tem seu peso. Na cidade, a Ninja é mais ágil, apesar de seus 261 kg. Essa facilidade de manobra se faz notar nas estradinhas de curvas fechadas, nas serras sinuosas. A Ninja mostra com graça e leveza sua manobrabilidade, ao contrário do que seus 261 kg (com ABS) sugerem. O conjunto é equilibrado, com um belo e moderno sistema de suspensões, mas a graça está no quadro, um monocoque de alumínio forjado simplesmente sensacional, a última palavra.
A dirigibilidade da ZX-14 é superior na categoria. As suspensões copiam bem as irregularidades do asfalto e seus múltiplos ajustes ajudam a afiná-la à tocada de cada piloto. A ZX-14 não exige esforço para entrar nas curvas esportivamente, apesar do peso, e é fácil de manter na trajetória, respondendo bem ao guidão.
A ergonomia da Kawasaki é boa, começando com a posição relaxada para pilotar, apesar de ser levemente inclinada sobre o tanque – no trânsito urbano, cansa um pouco os braços. Sobra espaço no banco para o piloto, mesmo para os mais altos. O revestimento de espuma do assento é bem macio. O bom banco, somado às pedaleiras pouco recuadas para uma superesportiva, favorece passeios mais longos – leia-se viagens.
Os manetes – de acionamento hidráulico para embreagem e freio – contam com várias regulagens de altura, o que é bom para ajustar os comandos ao biotipo e à preferência do piloto.
O design dessa gigante veloz mescla detalhes modernos a soluções antiquadas, talvez reminiscências dos primeiros modelos da família Ninja. As ponteiras de escape (o sistema adota a configuração “4 em 1 em 2”) são cromadas, cilíndricas, simples – a moda pede metais nobres, como titânio, ou ponteiras retorcidas e semiocultas sob o motor. O sistema de indução de ar para o motor (aumenta a potência de 193 para 203 cv a 9500 rpm) lembra um bumerangue e as aletas por onde sai o ar que passa pelo radiador são marcantes no aspecto lateral da moto. Os exuberantes faróis são outra marca registrada do modelo: quatro refletores simétricos, dois redondos no centro e dois em formato de gota nas laterais, que incorporam luzes de posição – com tudo aceso, a moto parece uma nave em aproximação.
A lanterna traseira de leds em forma de um largo V é marcante, embora controversa. O tanque tem recortes laterais e incorpora encaixe para o queixo do capacete, soluções para tocada esportiva, com o piloto carenado. Os piscas sobressaem sobre as laterais da rabeta e da carenagem. As rodas prateadas de dez raios (cinco que se abrem em dez) são muito bonitas, embora seja difícil vê-las. Na dianteira, o enorme para-lama e os colossais discos de freio a ocultam quase por completo; na traseira, as duas ponteiras de escape, a balança e o disco de freio também obstruem a visão das belas rodas. Não faz mal. É bom ter uma reserva de beleza por descobrir.
O painel de dois copinhos com mostradores brancos, mais tradicional que juiz de suspensório, traz todas as informações necessárias, com boa leitura. No centro, um visor digital indica marcha engatada, consumo médio, hodômetro com duas parciais, relógio, marcador de combustível e temperatura do motor.
INFERNO OU PARAÍSO O motor de quatro cilindros em linha de 16 válvulas, com dois eixos-comando e 1352 cc, tem 193 cv a 9500 rpm e torque de 15,7 mkgf a 7500 rpm e fornece torque aprazível desde rotações bem baixas, favorecendo a dirigibilidade em uso civil. A potência é liberada de forma progressiva, sem solavancos na subida dos giros do motor. Mas não se deixe enganar por essa aparente docilidade: basta abrir o gás que o inferno de adrenalina começa. Ou seria o paraíso? A fábrica garante que, em altas velocidades, o sistema de indução de ar para o motor (aerodinâmico, através de captadores e tubos) aumenta a potência para 203 cv – nesse caso, a Ninja seria a mais potente do segmento. Bem, como duvidar?
O câmbio é suave e fácil de engatar, mesmo após exaustivos testes. Os freios de 310 mm e quatro pistões na dianteira e de 250 mm e dois pistões na traseira, com sistema ABS, dão conta do recado.
A Kawasaki ZX-14 é uma moto deliciosa, chama atenção e tem cara de desafiante imbatível. Não ganha da Hayabusa em desempenho, mas leva vantagem na maneabilidade e na segurança dos bons freios antibloqueio.
TOCADA Boa ergonomia e conforto; transmite sensação de leveza e agilidade, apesar de seus 261 kg.
★★★★
DIA A DIA É um exagero para o uso diário. Ela não foi concebida para ir à faculdade ou ao banco. Os altos espelhos dificultam a vida nos corredores.
★★★
ESTILO Controverso, como o da rival, mas de acabamento impecável e qualidade do mais elevado padrão.
★★★
MOTOR E TRANSMISSÃO O motor tem vigor e acelera de forma linear e constante. Seu câmbio é macio e dócil: a primeira marcha dá um belo tranco, mas só.
★★★★★
SEGURANÇA A suspensão assimila bem as irregularidades e é confortável. O sistema de freio com ABS garante boas frenagens mesmo em situações de risco.
★★★★★
MERCADO A marca verde ainda tem menos revendas que as rivais japonesas, mas a moto reúne todas as condições para uma boa briga.
★★★