Porsche Panamera e Aston Martin Rapide são exemplos da conjugação de luxo e conforto dos sedãs premium com esportividade exuberante. Eles, porém, estão longe de ser vanguarda nessa combinação. Coube ao Maserati Quattroporte, nos anos 60, inaugurar o segmento dos esportivos de luxo de quatro portas, numa época em que esses estilos pareciam tão misturáveis quanto água e óleo. Na sexta geração (a primeira é de 1963), o novo Quattroporte tem o desenho assinado pelo estúdio Pininfarina, honrando a tradição que vem desde o primeiro Maserati de produção em série, desenhado por Sergio Pininfarina em 1947.
Ele traz uma plataforma renovada e de dimensões generosas: ao crescer 5 cm em largura, 6 em altura e, sobretudo, 16 em comprimento, passa a ser o campeão em tamanho entre os topo de linha (sim, ele é maior que o Mercedes Classe S). Com 5,26 metros, emparelha com as versões alongadas da concorrência. Apesar de ter crescido, emagreceu cerca de 100 kg graças ao uso de materiais como magnésio, na estrutura do painel, e alumínio, no capô, nas laterais, na dianteira da carroceria, na tampa do porta-malas e no subchassi dianteiro.
Espreguiçadeira
Como um nobre italiano, o Quattroporte mantém a tradição de se vestir bem, embora já não pareça tão carismático como antes, exceto pela furiosa dianteira. Ele perdeu seu visual realmente único, especialmente atrás: há quem note ali traços de Citroën C5 e Audi A4. Visto de fora, o carro não parece tão grande. Mas a impressão muda no interior, que parece um salão, diferencial que pode ajudar as vendas nos EUA e na Ásia – espaço interno farto é condição essencial para um carro de luxo ter sucesso na China. Nesse segmento, os assentos traseiros são decisivos. No Maserati, o passageiro pode ficar descansado. Dá para espreguiçar-se, esticar-se e curtir a viagem. E vale tanto para a opção de três lugares como de apenas dois. Neste caso, há o benefício de regulagem elétrica e ventilação individuais. O aquecimento dos bancos é de série nas duas versões. O porta-malas acomoda 530 litros, 80 a mais que na geração anterior.
Apesar de a posição ao volante do Quattroporte ainda não ser perfeita por falta de suporte lateral em coxas e tronco, o motorista tem a sensação de estar envolvido por uma poltrona. O volante inclui teclas que ficam devendo em design (cedidas pela Chrysler, que também pertence ao Grupo Fiat) e ouve-se um ruído do vento nos vidros laterais, agora sem moldura da porta. Porém, o painel é elegante, até um pouco conservador, como convém ao refinado gosto da clientela. Mas devemos assinalar que o bonito Quattroporte também não se preocupou com pormenores como acionamento elétrico da tampa do porta-malas ou auxílios eletrônicos, como aviso de mudança de faixa ou de ponto cego. Pelo menos agora há acesso sem chave, câmera de ré, conexão à internet e um GPS mais intuitivo. Como opcional, monitor tátil de 8,4 polegadas (GPS e DVD) e dispositivo que cria uma redeWi-Fi para ligar até três aparelhos.
A nova lapidação eliminou defeitos do predecessor. A direção perdeu um pouco do caráter brusco, sem abrir mão da precisão, e há uma simbiose entre a suspensão pneumática e o amortecimento ajustável Skyhook. Nos vários modos de direção, o carro consegue ser ao mesmo tempo confortável e esportivo, a ponto de deixar os rivais alemães preocupados. Com 1 975 kg, aparenta ser mais leve ao volante, uma clara vantagem em trechos sinuosos.
Ele chega no Brasil em abril, logo após o lançamento na Europa, com um V8 de 3,8 litros, injeção direta, biturbo e 530 cv, projetado pela Maserati e produzido pela Ferrari. O rugido selvagem do antigo V8 4.7 de 440 cv é história. Em vez disso, o novo sobe de giro de maneira pujante e sonora, até baixar a pressão dos turbos pouco antes do limite de rotação. Aí é o caso de agradecer por a cabine não ter o mesmo isolamento acústico dos alemães. É interessante verificar que há um leve atraso na entrada da turbina, até para não incomodar os passageiros de primeira classe. Mas entre 1500 e 2000 rpm já se sentem as credenciais de rendimento deste V8, que depois se torna esmagador entre 2 000 e 4 000, continuando a subir de forma desenfreada até 6 800 rpm.
Os números são o desejado num Maserati: 4,7 segundos para ir de 0 a 100 km/h e 14,7 para os 200 km/h. A máxima de 307 km/h divulgada pela fábrica deve deixar Audi, BMW e Mercedes com a pulga atrás da orelha. Óbvio que o consumo anunciado de 8,4 km/l é pura utopia. O câmbio automático de oito marchas da ZF faz maravilhas na forma de se relacionar com o motor, um casamento de alta performance. No mesmo nível estão os freios Brembo, com discos de alumínio (seis pistões à frente, quatro atrás).
Ele ganhou o modo de uso ICE (Increased Control and Efficiency), que baixa consumo, emissões e ruído, além de facilitar o controle em superfícies de menor aderência. A resposta do motor é mais suave, a função overboost do turbo é desativada e as trocas de marcha ficam mais lentas.
Após a sua estreia mundial no Salão de Detroit, em janeiro, o Quattroporte chegará à Europa por preços em torno de 150000 euros (393000 reais)- ainda sem preço oficial no Brasil. Mas os interessados já podem preparar o bolso para esperar um valor acima dos 750 000 reais da versão anterior.
VEREDICTO
Dimensões, desempenho, espaço interno, tudo é superlativo, menos o design, e a segurança ativa. Estável e confortável, nada fica a dever às referências alemãs.