Move Up x HB20 x Palio x Etios x Onix
O principal segmento do país passou por uma transformação radical. A qualidade subiu: para competir, é preciso ter mais equipamentos, mais segurança e mais conforto
Todo mundo aprendeu que carro de entrada é básico, frugal, sem segurança, luxo ou sofisticação. É assim desde os primórdios do mundo motorizado. Esse tipo de automóvel tem até apelido: pé de boi. O termo é antigo, conhecido desde os anos 60, quando a Volks lançou o Fusca Pé de Boi. Ele era tão básico que a marca se absteve de instalar o próprio logotipo no capô – tudo para reduzir custos. Os compradores refutaram a vida franciscana e a versão foi descontinuada. Cinquenta anos depois, os modelos básicos estão precisando de um nova alcunha. O lançamento do Up! estabeleceu padrões elevados para o maior segmento do país, que já vinha aumentando o nível de qualidade desde o Onix e o HB20, que mostram ser possível combinar design e equipamentos com preço básico. Para saber como ele se livrou da magreza, invadimos o showroom e cercamos o Up! de rivais em dois comparativos: um entre os pés de boi e outro no andar de cima. O que ele tem que os outros não têm?
1º Volkswagen MOVE UP!
A nova cereja do segmento de entrada incrementou o gosto dos carros básicos, o maior bolo do mercado nacional. Esse sabor tem melhorado desde a estreia do HB20, em 2012, e ainda há lançamentos gourmet para este ano.
Na receita do Up!, a Volks caprichou em segurança. O pequeno tem cinco estrelas no Latin NCAP, Isofix em todas as versões e três apoios de cabeça no banco traseiro. Opcionalmente, dá para incluir repetidores do pisca nos retrovisores.
Outro ingrediente nobre é o menor custo de reparação do país, segundo o Cesvi, que lhe atribuiu nota 11. É a melhor nota já dada pelo instituto.
Pequeno por fora (360,5 cm de comprimento), o Up! faz bom proveito do espaço interno, mas não é grande por dentro. Se você carrega cinco com frequência, esse Volks não lhe serve. Apesar de o Up! ter três cintos atrás, só cabem dois adultos.
Os preços partem de 26 990 reais (Take Up! duas portas), enquanto o Move Up! (versão avaliada) começa em 30 300 reais, mas totalmente sem tempero. Pelo menos três opcionais são necessários: o ar (2750 reais), a direção elétrica (1240 reais) e o kit “Acesso Completo”, que custa 1100 reais e acrescenta chave canivete, pisca no retrovisor e trio elétrico. Nessa configuração, o Move Up! ideal sai a 35390 reais, valor que supera o preço do HB20 Comfort 1.0. O Hyundai é maior (390 cm), mais confortável e, dependendo de quem vê, mais bonito. Diante do prato asiático, a vitória do Up! se deu no desempate, mas ambos enchem a mesa.
2º Hyundai HB20 COMFORT
O HB20 provocou um alvoroço no fim de 2012, quando os primeiros compradores toparam pagar um salgado sobrepreço, além de aguardar até três meses numa fila de espera, antes de levá-lo para casa. QUATRO RODAS fez parte desse grupo. Em novembro de 2013, desmontamos o hatch após 60 000 km e o carro estava impecável. Aqui na redação, os 32 motoristas que se alternaram ao volante converteram a experiência em elogios.
O teste de Longa Duração mostrou que o Hyundai é robusto, bem-construído e funcional. A rede de atendimento não desapontou em quase um ano de atendimento e revelou um custo de manutenção que pode fazer valer o custo maior de aquisição. O Comfort 1.0 sai por 34 615 reais, completo.
Perto de completar dois anos no mercado, seu design preserva o poder de atração. Por dentro, os plásticos não têm rebarbas, os encaixes são bem-feitos e até as texturas são agradáveis ao toque.
Ao volante, o hatch feito em Piracicaba é gostoso de dirigir. Mostra competência nas curvas e não se intimida sobre pisos irregulares. Mesmo com assistência hidráulica, a direção é leve e oferece boa empunhadura. Repleto de qualidades, o HB20 ficou em segundo no desempate. O Up! recebeu três notas máximas nos critérios de avaliação de QUATRO RODAS, ante uma do coreano. Se você valoriza design ou precisa de espaço, vá de Hyundai.
3º Chevrolet ONIX LT 1.0
O Onix tem atributos bacanas por dividir componentes com modelos de segmentos superiores. Eletrônica, peças de acabamento e até a plataforma são compartilhadas com o Cobalt, Sonic e Spin. Com isso, o hatch eleva os padrões de qualidade numa faixa de preço acostumada ao despojamento. Tem visual encorpado e linhas elegantes, ainda que você não concorde que o design seja o mais atraente da concorrência.
Na cabine, o Onix merece destaque. Dentre todos, tem um ótimo conjunto de bancos. São anatômicos, envolventes e utilizam tecidos agradáveis ao toque. A posição de dirigir elevada faz o carro parecer uma minivan, e é fácil encontrar conforto.
Ao volante, o Onix é agradável e mostra-se robusto, sobretudo nas curvas. O motor SPE/4 1.0 de 80/78 cv revela ânimo na resposta ao acelerador, mas a sensação de agilidade não reflete em números acima da média. Nas provas de aceleração, fez 14,9 segundos no 0 a 100 km/h e 9,2 para ir de 40 a 80 km/h. Quando se fala em consumo urbano, os dados também não empolgam: 7,6 km/l com etanol.
Esqueça a versão LS (33 190 reais), pois não oferece ar nem como opcional. A boa compra começa com a LT, a 35 090 reais. Mas inclua o pacote R7H, a 3 200 reais, que traz ar-condicionado, chave canivete, alarme e coluna de direção ajustável. Equipado, o Onix “comprável” custa 38 290 reais. O valor elevado e o desempenho inferior ao Up! e HB20 custaram pontos. Ainda assim, é uma boa aquisição.
4º Toyota ETIOS X 1.3
QUATRO RODAS tem um Etios no teste de Longa Duração e podemos dizer que a convivência é feliz. O hatch tem sido camarada com o orçamento da revista, pois é comedido no gasto de combustível e, em 14 meses de uso, não voltou para a redação com más notícias. Em uso urbano, a média de consumo medida até fevereiro foi de 9,2 km/l (com etanol).
Ainda assim, a vida com o Etios é cheia de altos e baixos. A gente começa uma viagem animado com a perspectiva de economizar com combustível, mas vai fechando a cara conforme se percebe o quanto a Toyota se esforçou em cortar custos. A economia está em todo canto: no limpador de para-brisa com braço único, na falta de trincos que se travam quando o carro entra em movimento, não há chave canivete nem alarme sonoro que avise o motorista quando ele esquece os faróis acesos ao desligar o carro. Os rivais custam o mesmo e tratam melhor os passageiros. Isso custou posições.
A Toyota é reticente no cuidado com os itens de conforto, mas não quando o tema é segurança. Tem alarme que não silencia enquanto o motorista não prende o cinto e todas as versões têm luz indicadora de direção nas laterais. Além disso, conquistou quatro estrelas no teste do Latin NCAP.
O motor 1.3 afasta a apatia do mundo 1.0. Trouxe da pista a melhor marca no 0 a 100 km/h, 12,8 segundos. Racional, o Etios não dá dor de cabeça. É econômico em comodidade e oferece pouca diversão.
5º Fiat PALIO ATTRACTIVE 1.0
O veterano da Fiat é uma escolha fácil de fazer. Conhecido na praça, o Palio não dá sustos justamente por não ser novidade. E isso é bom. Mas, por 36 121 reais, incluindo o valor do ar-condicionado opcional, seu preço está acima da média do segmento. E isso não é bom. Para encarar os rivais jovens, mais modernos e mais fotogênicos, o mineiro precisaria de um desconto.
Com potência de menos e peso de mais, o Palio também obteve os piores resultados nas provas de aceleração. Para ir de 80 a 120 km/h, precisou de 39 segundos, quase o dobro do Etios, que cumpriu a prova em 19,3 segundos. Sim, o motor do Toyota é maior (1.3), mas o preço equivalente é um trunfo.
O consumo rodoviário elevado do Fiat (10,5 km/l, com etanol) comprometeu sua avaliação energética. O Inmetro atribuiu nota B, enquanto a concorrência obteve nota A nos testes. Outra nota baixa veio do Latin NCAP, nos testes de colisão frontal. O Palio recebeu apenas uma estrela, embora a avaliação tenha sido feita sem airbags.
O Palio é o segundo automóvel mais vendido do país, atrás do Gol. Ficou maior e mais confortável quando ganhou a base do Uno (em 2011), com acabamento relativamente melhor em relação ao anterior. Seu volante tem boa empunhadura e a posição de dirigir é agradável.
É um bom carro e seu histórico de vendas não pode ser ignorado, mas a concorrência oferece mais pelo mesmo preço. Basta fazer as contas.
VEREDICTO
Escolher um modelo de entrada é cada vez mais difícil, conforme os lançamentos se distanciam do termo básico. Com bons atributos, o Up! venceu a disputa apertada nos critérios de desempate. O HB20 é moderno, bonito e gostoso de guiar. O Onix tem qualidades, mas custa caro. O Etios peca na simplicidade e o Palio está envelhecido. Up! e HB20 são os que oferecem mais pelo que custam.
>> Confira o desempenho dos carros
>> Confira a ficha técnica dos carros