Quando a Nissan apresentou a primeira geração do X-Trail, há duas décadas, ele era considerado um modelo todo-terreno. Mas, com o passar dos anos, ele foi perdendo suas origens e acabou se tornando uma espécie de irmão maior do Qashqai. Como a transformação dele em crossover comum não foi muito bem apreciada pelos clientes, a montadora japonesa deu um passo atrás. Agora, na nova geração, que é sua quarta, o X-Trail está no meio do caminho aliando características de SUV com algo de 4×4 mais raiz.
O novo Nissan pode ser o carro da família, mas também serve para incursões em trilhas, especialmente na versão e-4ORCE, com tração integral, mostrada aqui, que custa 45.000 euros em Portugal.
Com 4,68 m de comprimento, ele é 25 cm maior que o Qashqai, com o qual compartilha a plataforma CMF-C do Grupo Renault-Nissan. Além disso, é 8 cm mais alto e oferece versões de cinco e sete lugares. Uma das características mais especiais do X-Trail está no sistema de propulsão.
Não se trata de um princípio técnico inédito, mas é raro: o movimento das rodas é puramente elétrico, gerado por dois motores (um dianteiro de 204 cv e outro traseiro de 127 cv). A potência total combinada é de 213 cv, segundo a fábrica, o que significa que o todo é menor do que a soma das partes.
Até aqui, nada anormal. A diferença é que esses motores não são alimentados por uma grande bateria, como nos elétricos normais, mas por um motor térmico 1.5 de três cilindros, com 158 cv, e uma pequena bateria de 2,1 kWh (dos quais 1,8 kWh utilizáveis), que serve como gerador de potência. Arranjo incomum: mas o que conta é o resultado. E, dessa forma, o X-Trail consegue ser mais econômico do que um similar híbrido.
O motor a combustão traz ainda um recurso técnico que aumenta seu rendimento, que é a taxa de compressão variável. Quando se requer muita potência, a taxa de compressão diminui (até um mínimo de 8:1); se a aceleração é suave, a compressão sobe (até 14:1). A variação é feita por meio de um mecanismo que muda a altura do ponto de união da biela com o virabrequim. A razão é que, mesmo que o motor a combustão não esteja ligado às rodas, quando a aceleração é mais forte, ele produz mais potência para que os motores elétricos respondam.
Ao volante, o X-Trail é muito parecido com carro elétrico puro. Pisamos no acelerador e a resposta é quase instantânea. Quase, porque não chega a ser tão rápida como em um elétrico a bateria, mas ainda assim muito convincente. O arranque de 0 a 100 km/h é feito em apenas 7 segundos e a máxima é de 180 km/h. E ainda faz um consumo médio declarado de 22 km/l.
O principal ponto negativo é que o motor a combustão gira a uma velocidade muito alta quando aceleramos mais fortemente, com a consequente elevação do ruído. Nas demais situações, o X-Trail é quase tão silencioso quanto um elétrico convencional.
Quando soltamos o pedal da direita, o X-Trail continua a se mover em roda livre, mas o motorista pode aumentar a recuperação de energia acionando a posição “B” (de “brake”) ou pressionando o botão “e-pedal”. Nesse caso, a redução da velocidade é mais evidente, mesmo que não se trate de uma função “one pedal drive”, ou seja, o X-Trail nunca se imobiliza por completo sem pressão no freio. Isso torna a utilização urbana mais confortável.
O comportamento em curva do SUV melhorou muito, graças a um maior equilíbrio entre estabilidade e conforto. Ainda assim, a carroceria se inclina um pouco nessas situações, o que é normal tendo em conta a altura do X-Trail. A direção está um pouco mais direta e tem assistência variável em função da velocidade, mas continua transmitindo sensação artificial.
O dispositivo e-4ORCE é indicado para as incursões off-road moderadas, mas nada muito exigente (a altura do solo é limitada). Superfícies com diferentes níveis de aderência também são bem digeridas pelo sistema. Uma câmera projeta no painel imagens do piso sob o carro, o que é útil para revelar obstáculos ou buracos difíceis de ver, e um guia importante para auxiliar em subidas íngremes, quando não se tem visibilidade logo à frente do para-choque.
O câmbio CVT tem borboletas no volante, que ajudam a simular passagens de marcha, mas nem sempre de modo satisfatório. Há quatro modos de dirigir – Eco, Standard, Sport e Off-Road –, que atuam na direção, no acelerador e na intervenção mais tolerante do controle de tração e do ABS. A função Eco retarda muito a resposta do acelerador.
Por dentro, há muito espaço livre. Nas versões mais equipadas é possível mover o banco traseiro sobre trilho em 22 cm, aumentando o espaço para cargas ou passageiros, conforme a necessidade. Os dois assentos laterais dispõem de aquecimento, conforto negado ao quinto ocupante. Mas há saídas de ventilação com comandos específicos para trás, além de três zonas de climatização: motorista, passageiro dianteiro e banco traseiro.
A terceira fila de bancos é indicada para crianças de até 1,60 metro de altura. A tampa traseira pode ser operada eletricamente (e com modo mãos livres). A peça é feita de material sintético, enquanto as portas e o capô são de alumínio. O porta-malas tem capacidade de 485 litros.
Em termos de acabamento, é possível notar uma importante evolução, com couro de boa qualidade nas versões mais equipadas. Além disso, os bancos são confortáveis e oferecem suficiente apoio lateral. Conforme a versão, o quadro de instrumentos pode ser de 7” ou de 12,3”. E a tela central, de 9” ou 12,3”. Há também head-up display, com área de projeção equivalente a 10,8”.
A Nissan chegou a vender o X-Trail, de primeira (2000) e segunda gerações (2007), no Brasil e pensou seriamente em oferecer a terceira (2013), mas desistiu. Agora é improvável que traga a quarta, com sua tecnologia tão particular.
Perguntada sobre a possibilidade de vender o modelo no Brasil, oficialmente a empresa simplesmente disse que não comenta sobre seus planos. Essa resposta pode ser entendida como uma esperança para quem gostou do carro. Ou simplesmente uma forma polida de dizer não.
Veredicto Quatro Rodas
Com um sistema de propulsão híbrido estranho, o SUV voltou a ter as aptidões off-road que trazia nas gerações passadas
Ficha Técnica – Nissan X-Trail
Preço: 45.000 euros (R$ 250.000)
Motor: gas., 3 cil., turbo, inj. dir., compressão variável; 1.498 cm3, 158 cv a 2.400 rpm, 25,5 kgfm a 5.000 rpm
Elétricos: 204 cv, 33,6 kgfm (diant.); 127 cv, 19,9 kgfm (tras.); 213 cv, 53,5 kgfm (combi-nados); baterias de íons de lítio, 2,1 kWh
Câmbio: CVT, tração integral (elétrica)
Direção: elétrica
Suspensão: ind. McPherson (diant.), multibraços (tras.)
Freios: disco ventilado
Pneus: 235/60 R18
Dimensões: compr., 468 cm; larg., 184 cm; alt., 171 cm; entre-eixos, 270,5 cm; peso, 1.765 kg; porta-malas, 485 l
Desempenho*: 0 a 100 km/h, 7 s; veloc. máx. de 180 km/h
*Dados de fábrica