Para poder enfrentar uma crescente concorrência de superesportivos elétricos com potências elevadas, os engenheiros da Lamborghini definiram que o Revuelto, sucessor do Aventador, não poderia fazer por menos e deveria ter potência acima dos 1.000 cv.
Pois eis que o Lamborghini Revuelto chega com 1.015 cv, quase 32% a mais que seu antecessor. E também entrega muito torque: 73,9 kgfm na combinação entre as duas fontes de potência (o motor 6.5 V12 aspirado e três motores elétricos, um para cada roda dianteira e um terceiro, instalado na carcaça da transmissão, no eixo traseiro).
Com o novo câmbio automático de dupla embreagem e oito marchas (no lugar da caixa manual robotizada de sete velocidades) e a tração nas quatro rodas, o Revuelto é capaz de disparar até os 100 km/h em 2,5 segundos. Em 7 s, já está a 200 km/h e vai nesse ritmo até os 350 km/h de velocidade, momento em que o motor executa sua sinfonia a 9.500 rpm.
Estamos diante do mais rápido Lamborghini produzido em série. “No circuito de Nardò (pista circular de alta velocidade, localizada no sul da Itália), o Revuelto é 3 s mais rápido que o Aventador SVJ”, garante o engenheiro Rouven Mohr, o CTO (Chief Technical Officer) da Lamborghini.
Infelizmente não dirigimos o Re-vuelto em Nardò para comprovar, mas felizmente estamos em uma pista: Vallelunga, nos arredores de Roma, onde, em 2011, a fabricante deu à luz o Aventador.
Com estrutura de fibra de carbono e portas de alumínio, o superesportivo exibe relação peso/potência de apenas 1,75 kg/cv (a melhor na história da Lamborghini). Como comparação, no Aventador a relação é de 1,99 kg/cv. Na dianteira, os engenheiros desenvolveram elementos estruturais que eles definem como “monofuselagem”, inspirados na aeronáutica. Na prática, permite ganhos relevantes em termos de peso e rigidez torcional: a Lamborghini informa que o chassi ficou 10% mais leve, e a rigidez torcional subiu 25%, garante a fabricante.
É difícil ficar indiferente diante deste corpo agachado e crivado de vincos, grandes entradas de ar e uma larga luz de freio que ilumina sutilmente a traseira do imponente V12 (pela primeira vez totalmente à mostra). As ponteiras duplas hexagonais de escape estão em posição elevada, no mesmo nível das lanternas em forma de Y.
Como é tradição na marca, há fibra de carbono visível no painel, no revestimento das portas e nas saídas de ventilação. Tal como já ocorre na rival Ferrari, o passageiro tem acesso à sua própria tela, de 9,4”. De forma prática e divertida, as informações podem ser transferidas da tela central para qualquer uma das laterais com simples movimentos de dois dedos.
Os quatro pequenos comandos rotativos nos raios do volante servem para selecionar os modos de dirigir (Città, Strada, Sport e Corsa), da bateria (Recharge, Hybrid e – com Sport e Corsa – Performance), a elevação do nariz do carro (em 3 cm, para evitar toques com o solo) e a inclinação do aerofólio traseiro.
“O motorista tem ao seu dispor 13 ajustes gerais, dependendo de onde e como está dirigindo”, diz Mohr.
A potência máxima varia em função do modo selecionado: 180 cv em Città, 886 cv em Strada, 907 cv em Sport e o total de 1.015 cv em Corsa. A autonomia no modo puramente elétrico é de apenas 13 km. O engenheiro Matteo Ortenzi, diretor de produto do Revuelto, esclarece que “o objetivo deste sistema de propulsão é o de servir um superesportivo, com ajuda elétrica para baixar emissões e melhorar performance, não torná-lo um híbrido plug-in comum”.
Mesmo que o espaço interior não esteja entre os principais atributos de um superesportivo, o Revuelto oferece mais espaço na cabine que o Aventador. São 2,6 cm em altura e 8,4 cm adicionais para pernas (a distância entre-eixos aumentou 8 cm), ao mesmo tempo que passa a acomodar uma bolsa de golfe atrás dos bancos, além de duas malas de cabine de avião no porta-malas dianteiro.
Trovões e sussurros
Enquanto o motor 6.5 V12 atmosférico troveja atrás dos dois ocupantes, dois motores elétricos de 150 cv sussurram no eixo dianteiro ao produzir 35,7 kgfm adicionais de torque cada um. Isso sem contar o terceiro, de mesmo rendimento, na traseira. Os três motores elétricos são alimentados por uma pequena bateria de 3,8 kWh, que pode ser carregada em 30 minutos.
O Autódromo de Vallelunga, 32 quilômetros ao norte de Roma, foi o escolhido pela Lamborghini para os primeiros testes de imprensa do Aventador, em 2011, e voltou agora a ser o palco para o batismo de seu sucessor. Ali, chegamos a 275 km/h, numa missão facilitada pelos comandos ao alcance das mãos.
Sendo o Lamborghini de série mais rápido da história, desnecessário dizer que o Revuelto é inacreditavelmente rápido, apesar dos 160 quilos a mais que o Aventador. Afinal, o novo câmbio automático é mais pesado que o anterior, há uma bateria de íons e três motores elétricos.
O que se perde com esse incremento de peso, para 1.772 quilos? Pouco ou nada. A relação peso/potência é mais favorável, o carro é muito mais ágil em curva devido ao eixo traseiro direcional (anulando eventuais efeitos negativos do aumento da distância entre-eixos em 8 cm) e, claro, o consumo é consideravelmente mais baixo. Os números ainda não foram homologados, mas, partindo do objetivo da Lamborghini de reduzir as emissões em cerca de 35% em relação ao Aventador, espera-se uma média WLTP na ordem de 8 km/l.
Embora a aceleração até 200 km/h em 7 segundos seja algo fascinante, há outros atributos ainda mais impressionantes no Revuelto, caso do V12 berrando nas costas para quem quiser ouvir, até pela inexistência de alguma película de vidro ou plástico a cobri-lo (entre ele e a cabine, existe uma pequena vigia de vidro).
Mesmo um motorista sem dotes sobrenaturais de piloto consegue ser rápido ao volante, após alguns quilômetros de familiarização. E quando chegam as curvas? Uma vez mais, o motorista é levado a pensar que nasceu para isso. A frenagem, a cargo de discos cerâmicos avantajados, é brutal, sempre com uma fortíssima pegada inicial e sem vestígios de fadiga. Além disso, a asa traseira tem carga aerodinâmica 66% superior à do Aventador (a fábrica não divulgou qual a pressão aerodinâmica esse apêndice é capaz de criar).
Este superesportivo junta vetorização de torque ativa a um eixo traseiro direcional, o que se traduz numa combinação de precisão e agilidade. Isso acontece, também, porque foi definido um ângulo de esterçamento muito diminuto para as rodas traseiras, evitando a sensação de que primeiro vira a frente e depois a traseira (efeito de empilhadeira).
De acordo com a Via Italia, representante da Lamborghini no Brasil, ainda sem preço oficial, o modelo está previsto para desembarcar no país no final do primeiro semestre de 2024. Na Europa, o Revuelto custa 654.293 euros (R$ 3.500.000).
Veredicto Quatro Rodas – Revuelto é presença obrigatória em garagens que guardam superesportivos.
Ficha Técnica – Lamborghini Revuelto
Preço: 654.293 euros
Motor: híbrido, V12, tras. long. 6.496 cm3, 825 cv, 73,9 kgfm; 3 elétricos (diant., tras., central), 150 cv, 35,7 kgfm (cada), total, 1.015 cv
Bateria: íons de lítio, 3,8 kWh
Câmbio: autom., DSG, 8 m., 4×4
Suspensão: duplo A, nos dois eixos
Direção: elétrica
Freios: disco cerâmico vent.
Pneus: 265/35 R20 (diant.), 345/30 R21 (tras.)
Dimensões: compr., 494,7 cm; larg., 203,3 cm; alt., 116 cm; entre–eixos, 277,9 cm; peso, 1.772 kg
Desempenho*: 0 a 100 km/h, 2,5 s; vel. máx., 350 km/h, consumo (WLTP), 8 km/l
*Dados de fábrica