Os aventureiros urbanos já deixaram claro que não estão falando sério quando se trata de encarar trilhas radicais. A essa altura, está claro que o mercado está repleto de carros com cara de off-road. Porém sem qualquer preparação adicional para encarar a lama – a diferença é cosmética e só. Mas modelos como os apresentados aqui, em que os atributos vão além do visual, serão sempre postos à prova por quem não resiste à tentação de se desviar do asfalto.
Por isso reunimos seis representantes da categoria, um de cada marca – Chevrolet Tracker, Citroën C3 AirCross, Fiat Palio Weekend Adventure, Ford EcoSport, Renault Duster e VW SpaceCross -, para saber como se comportam em trilhas de terra batida. Rodamos 90 km por estradas vicinais, na região de Atibaia (SP), com uma parada na Pedra Grande, uma formação rochosa com 650 metros de altura (50 a mais que o Pão de Açúcar, no Rio), que atrai praticantes de voo livre e mountain bike, entre outras modalidades esportivas.
Nosso objetivo não foi fazer um comparativo, porque entre os veículos havia modelos de diferentes segmentos, preços, motores e câmbios. Queríamos saber quais possuem melhor condição de rodar fora das estradas. Assim como os carros, os avaliadores também formaram um grupo eclético, com vivências, preferências e pontos de vista particulares. Mas, ao final, as opiniões foram quase unânimes, o que nos deu condições de estabelecer uma boa imagem dos carros, levando em consideração só a afinidade com situações off-road.
Contamos com a colaboração dos assistentes de fotografia Diego Cardoso, Flavio Bari e Sílvio Gióia, o estagiário André Paixão, a repórter Isadora Carvalho e o designer Fábio Paiva, além do fotógrafo Marco de Bari e do editor que vos escreve. Todos tiveram oportunidade de dirigir os carros e depois relatar as experiências.
>> 2015: o ano em que fomos dominados por SUVs
Em um primeiro momento, o Tracker agradou por oferecer uma vida a bordo agradável. Todos os motoristas apontaram o acabamento de qualidade, o espaço interno e a central multimídia (pela facilidade de uso e pelo conteúdo) como seus pontos fortes. Mas, com o uso, o Chevrolet se revelou o menos adaptado à vida no campo. Os avaliadores reclamaram da suspensão de curso curto, que batia e ficava barulhenta ao passar por obstáculos, e do câmbio automático que, apesar das seis marchas, não explorava bem a força do motor 1.8 nas trilhas.
Assim como o Tracker, o AirCross também recepciona bem o motorista e o faz ainda melhor que o rival. Seus pontos fortes são acabamento, baixo nível de ruído, ergonomia e posição de dirigir (destaque para visibilidade proporcionada pela coluna dianteira estreita, que elimina um ponto-cego típico dos monovolumes). Na terra, apesar da suspensão de curso limitado, foi eficiente na hora de absorver as irregularidades do piso. O motor fraco e o câmbio automático de quatro marchas foram as causas do seu pouco rendimento nas trilhas.
Ao contrário dos demais, que arrancaram elogios e críticas muito claros e definidos entre nossa equipe, a SpaceCross dividiu opiniões. Isadora Carvalho, por exemplo, gostou da posição de dirigir e do comportamento da perua nas trilhas, enquanto André Paixão disse que demorou para se encontrar ao volante e Fábio Paiva reclamou da aderência na terra. Todos concordaram apenas na hora de elogiar os engates curtos do câmbio e de reclamar do visual discreto para um off-road.
O Duster recebeu críticas em relação ao acabamento espartano – com o uso intensivo de plástico duro no painel – e no que diz respeito ao conforto e à ergonomia, mas fez valer a construção robusta e o conjunto mecânico para se garantir na terras. Seu motor 2.0 com o maior torque e seu câmbio manual revelaram virtudes, como ter seis marchas bem escalonadas, sendo a primeira mais curta para garantir força nas arrancadas.
O EcoSport foi aprovado pela maioria em design, posição de dirigir e ergonomia. Representado pela versão mais cara Titanium, equipada com motor 2.0 de 147 cv (etanol), o Ford também demonstrou valentia nas trilhas e ainda esnobou a concorrência com um pacote de equipamentos completo, com ar-condicionado digital, faróis automáticos, sensor de chuva, botão start-stop e assistente eletrônico de partidas em rampas, entre outros. A pedra no seu caminho foram as repetidas queixas contra o elevado nível de ruído, causado principalmente pela tampa do porta-malas, que traz o estepe apoiado.
Parecia natural um utilitário esportivo no primeiro lugar, afinal por definição eles são pau-para-toda-obra e, além disso, estavam em maior número em nossa expedição – três contra duas peruas (Weekend e Space) e uma minivan (C3 AirCross). Mas o favorito foi a Palio Weekend. Apesar de essa conquista ter sido plenamente justificada, foi uma surpresa, porque ela era o projeto mais antigo do comboio. Lançada em 1999, inaugurou a categoria dos aventureiros urbanos. Verdade que essa perua, que completa 15 anos de mercado em 2014, não é mais a mesma do lançamento. A Fiat introduziu melhorias nos últimos anos, com destaque para o diferencial blocante eletrônico Locker (opcional), que faz milagres em terrenos sem pavimento.
A perua agradou pelo desempenho proporcionado pelo motor 1.8 16V e assegurado pelos pneus de uso misto (barulhentos no asfalto, mas eficientes na terra) e pela suspensão de curso longo. As queixas ficaram por conta do estilo e da ergonomia, dois aspectos relacionados à idade avançada do projeto. Fábio Paiva reclamou do difícil acesso à entrada para seu iPod e André Paixão se queixou das saídas de ventilação do console, localizadas em posição muito baixa.
Ao final, o veredicto é que estes aventureiros são mais do que uma bela roupinha de jipeiro: usando com moderação, os seis estão aptos a trilhas leves de estrada batida, uns com maior resistência que outros, mas todos sem deixar os motoristas na mão.