Desde que a Stellantis foi formada, a Peugeot acabou tornando-se a marca que mais oferece carros elétricos no Brasil dentro do grupo. E o destaque virou o Peugeot e-2008, por ser um pouco maior e com preço mais baixo do que o hatch e-208, ainda que com menos equipamentos.
Agora que a segunda geração do Peugeot 2008 começou a ser produzida na Argentina e chegou ao Brasil, a empresa aproveitou para renovar o e-2008. Não só ganhou o mesmo design que as versões a combustão, como ficou mais equipada e trouxe boas mudanças na mecânica, com um motor mais potente e uma bateria maior, por R$ 259.990.
Design é uma discussão bem subjetiva, mas importante. O e-2008 foi o primeiro carro da Peugeot a trazer a nova identidade visual da empresa ao Brasil, uma evolução do estilo usado no 208 e que já foi adotado pelas versões com motor a combustão e também pelo hatchback.
É fácil reconhecer este novo estilo, que abandonou a iluminação diurna na vertical, antes chamada de “presa de leão”, para usar três linhas verticais, desprendendo-se dos faróis principais. A grade dianteira tem desenho interno de linhas verticais e é integrada ao conjunto luminoso.
E ainda há o novo logotipo da Peugeot, apresentado em 2021 e que só agora é adotado nos modelos vendidos no Brasil. É uma releitura do emblema utilizado na década de 1960, com um escudo grande e uma cabeça de leão. A adoção deste logotipo vai confundir a cabeça de muita gente por ser tão diferente do anterior.
A traseira recebeu lanternas com novo desenho interno, usando barras horizontais em led, no lugar das linhas diagonais; e perdeu o emblema da marca na tampa do porta-malas.
O esforço da equipe de design foi ainda menor no interior. É visualmente igual ao modelo pré-reestilização, apenas recebendo o novo emblema no volante e um design diferente para os bancos, que agora têm costuras verdes, também presentes nos painéis de porta, detalhes internos e nos tapetes.
Com o design resolvido, a Peugeot focou em atualizar o sistema elétrico. O motor teve sua potência elevada dos 136 cv para 156 cv, mantendo o torque em 26,5 kgfm, para melhorar um pouco o desempenho em velocidades mais altas. Ainda é o menos potente entre os SUVs compactos elétricos vendidos no Brasil.
Esta potência extra foi acompanhada por mudanças na bateria, que ganhou 4 kWh e agora tem um total de 54 kWh. Isto levou a um ganho pequeno a autonomia, que foi de 234 km para 261 km segundo o Inmetro. Ganhou um carregador monofásico AC de 11 kW, ao invés do antigo de 7,4 kW. Ainda aguenta potências de até 100 kW para uma recarga rápida, precisando de 30 minutos para ir de 10% a 80% de capacidade da bateria.
Não espere que seja realmente um esportivo, mesmo que tenha o sobrenome GT. A Peugeot fala de um 0 a 100 km/h em 8,9 segundos, o que não é nada surpreendente. Como todo carro elétrico feito corretamente, aproveita bastante o torque instantâneo para ser bem ágil em baixa velocidade. Ajuda o fato de não ser tão pesado, com 1.623 kg.
Como sempre foi com o 2008, o e-2008 parece mais ser hatchback altinho do que um SUV, o que afeta bastante sua dinâmica de modo positivo. Responde bem ao volante e o fato de ter as baterias no assoalho ajudam a reduzir o centro de gravidade e, consequentemente, deixando-o mais estável e com menos balanços da carroceria em curvas, mesmo com a suspensão mole.
O modo Eco acaba cortando boa parte do desempenho para conservar a energia. Felizmente, o sistema de regeneração de energia pelas frenagens não é tão forte na configuração mais leve, permitindo deixar o carro rodar leve sem perder velocidade. Caso esteja em uma descida, a regeneração pode ser colocada no máximo e chega até perto de ser um modo um-pedal, dispensando o uso dos freios.
Já o modo Sport é o contrário, entregando força até demais para as rodas, gerando umas cantadas de pneu se você acelerar um pouco demais em uma saída. O mesmo acontece no piso molhado ou se for muito irregular.
É bem claro que sua vocação é urbana. Tem rodar silencioso e confortável, sem se assustar com lombadas ou buracos. Nem mesmo as rodas de 18” viram um problema, ainda absorvendo a maioria das irregularidades. Uma pena que não tenha estepe, contando com um kit de reparo.
Tem alguns problemas de espaço. O primeiro deles está para o motorista. Como tem feito desde o primeiro 208, a Peugeot está focando em uma posição de dirigir diferente, em que o pequeno volante fica posicionado o mais baixo possível e o condutor veja o painel por cima dele. No entanto, ela não se encaixa para qualquer um e o volante acaba ficando baixo demais ou atrapalhando a visão do painel.
A outra está nos bancos traseiros, que ainda são um tanto apertados para um carro que tem 4,30 m de comprimento, lembrando muito o 208. Ao menos o porta-malas tem boa capacidade, com 434 litros de espaço.
O problema do Peugeot e-2008 está no preço, uma repetição do que aconteceu no lançamento do carro original em 2022. Chegou pelos mesmos R$ 259.990, o que era consideravelmente alto para o segmento na época e ficou ainda mais evidente nos últimos anos.
O BYD Yuan Plus está sendo vendido por R$ 235.800, enquanto o Renault Megane custa R$ 199.990. Até o Volvo EX30 parte de R$ 229.950. E a mesma Peugeot já havia visto que este preço não funciona, tanto que o modelo antigo recebeu reduções consecutivas até chegar R$ 159.990, quando finalmente vendeu bem – cerca de 400 unidades em um par de meses.
A Peugeot pode argumentar que o carro é bem completo, com faróis de led, controle de cruzeiro adaptativo, câmera 360°, frenagem automática de emergência, central multimídia de 10,3” com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, seis airbags, teto solar panorâmico, painel de instrumentos digital e mais.
Não é um carro ruim, pelo contrário. É muito bom na cidade, confortável e com um bom desempenho, apesar da autonomia não ser das melhores. A sua fraqueza está no preço errado. Deveria custar menos de R$ 200.000 para que fosse competitivo. Fica a sensação de que o seu valor foi definido de forma a não criar dor de cabeça para a Leapmotor, marca chinesa que a Stellantis trará ao Brasil em 2025.
Ficha técnica – Peugeot e-2008 GT
- Preço: R$ 259.990
- Motor: elétrico, dianteiro, síncrono de ímãs permanentes, 156 cv, 26,5 kgfm Baterias: íons de lítio, 54 kWh
- Câmbio: 1 marcha, tração dianteira Direção: elétrica
- Suspensão: adaptativa M, McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
- Freios: disco ventilado nas quatro rodas
- Pneus: 215/55 R18
- Dimensões: comprimento, 430 cm; largura, 198,7 cm; altura, 155 cm; entre-eixos, 260,5 cm; peso, 1.630 kg; porta-malas, 434 litros
- Desempenho*: 0 a 100 km/h, 9,1 s; veloc. máx. de 150 km/h; consumo, entre 15,9 kWh/100 km; autonomia, 261 km; potência máx. de recarga AC 11 kW; DC 100 kW; 20 a 80% AC 11 kW, 4,4 h; DC 100 kW, 30 MIN
*Dados de fábrica