Ofuscada pelo sucesso da Fiat Toro, a Renault Duster Oroch na verdade foi a pioneira no segmento de picapes intermediárias ao ser lançada, em setembro de 2015 – alguns meses antes do modelo da FCA.
Mesmo com o ineditismo e um patamar de preços abaixo da concorrente, porém, a Oroch não foi tão bem quanto a Renault esperava: apenas 9.315 unidades foram emplacadas durante 2016, um resultado modesto perto dos 23.252 exemplares vendidos pela Fiat.
Preocupada, a Renault se mexeu para recuperar o tempo perdido: disponibilizou a caixa automática de quatro marchas em setembro de 2016 na versão 2.0, além de aprimoramentos no motor (focados na economia) e novos equipamentos (como a direção eletro-hidráulica).
Nas versões mais simples, a novidade mais recente é o novo motor 1.6 SCe, disponível por enquanto apenas com câmbio manual de cinco marchas – um CVT deve ser disponibilizado ainda em 2017. Em relação ao anterior, ele traz bloco, cabeçote, cárter e pré-cárter de alumínio, reduzindo seu peso em 30 quilos.
Com 16 válvulas, possui duplo comando variável na admissão, comando por corrente metálica no lugar da correia, injetores posicionados no cabeçote, pistões e anéis revestidos com material de baixo atrito, coletor de escape integrado ao cabeçote e o sistema chamado de ESM (Energy Smart Management), com um alternador que recupera a energia cinética do motor e a envia para a bateria quando o acelerador não está pressionado.
O novo motor fez bem ao desempenho da picape. A Oroch ficou mais suave de dirigir, sem as respostas ásperas e a falta de fôlego em baixas rotações do antigo motor 1.6. O ganho de potência foi de até 10 cv com etanol (120 cv contra 110 cv) e o torque máximo agora é de 16,2 mkgf a 4.000 rpm – frente aos 15,1 mkgf a 3.750 rpm.
Os resultados na pista de testes surpreenderam: a Oroch SCe ficou bem mais rápida na aceleração de 0 a 100 km/h (12,4 segundos contra 15,3 segundos). Nas retomadas, porém, houve uma curiosa variação. Enquanto nas medições de 40 a 80 km/h (em 3ª marcha) e de 60 a 100 km/h (em 4ª) foram detectadas melhorias, na prova de 80 a 120 km/h (em 5ª) a nova motorização ficou quase dois segundos para trás.
Os números de consumo também pioraram: a Oroch 1.6 SCe registrou 9,7 km/l na cidade e 11,9 km/l na estrada, enquanto a antiga picape fez 10,2 km/l e 14,2 km/l, respectivamente, no teste feito na época de seu lançamento, em novembro de 2015.
Não há nenhuma novidade no visual da picape. Apenas a existência da caçamba diferencia a Oroch de seu irmão Duster, até porque várias peças são compartilhadas entre eles.
O interior é o mesmo, inclusive na abundância de plásticos duros e no acabamento apenas regular. A péssima posição da regulagem dos espelhos retrovisores (abaixo da alavanca do freio de estacionamento) também é uma herança infeliz do SUV.
Em contrapartida, uma das maiores virtudes do Duster é maximizada na Oroch: o espaço interno, ampliado ainda mais graças aos 15,5 cm extras no entre-eixos da picape.
O banco traseiro não é elevado, como na maioria das picapes com cabine dupla, e até pessoas de alta estatura viajam ali com espaço suficiente para as pernas e cabeça, algo raro especialmente nos modelos compactos, como Fiat Strada e VW Saveiro.
A caçamba tem volume apenas razoável (683 litros, só um pouco maior que os 680 litros da Strada cabine dupla), mas leva até 650 quilos (mesma capacidade das versões a gasolina da Toro), e ainda pode ser equipada com um extensor de comprimento.
O comportamento da Oroch ao volante também é um pouco melhor que o do Duster, graças à suspensão traseira multilink e ao chassi reforçado nas colunas e travessas.
Apesar da simplicidade do acabamento, a versão Dynamique (R$ 78.050) é bem equipada, incluindo itens de série como ar-condicionado (analógico), direção eletro-hidráulica, sensor de estacionamento traseiro, central multimídia Media NAV com GPS, piloto automático, rodas de liga leve de 16 polegadas, santantonio, barras longitudinais no teto e protetor de caçamba.
Os poucos opcionais são a pintura metálica (R$ 1.600), o revestimento parcial de couro nos bancos (R$ 1.700) e o chamado Pack Outsider (R$ 3.490), que inclui o quebra-mato com faróis auxiliares, para-lamas alargados, grade no vidro traseiro e capota marítima.
Com o revestimento parcial de couro e o Pack Outsider, o preço da Dynamique 1.6 SCe vai de R$ 78.050 para R$ 84.840, um valor ainda bem abaixo da Toro mais simples – a Freedom 1.8 flex AT (R$ 91.990) – o que mostra que o público-alvo das duas é diferente: enquanto a Fiat foca nos clientes tradicionais de picapes médias e SUVs, a Renault oferece uma alternativa às picapes compactas mais caras.
Assim, a Oroch Dynamique 1.6 bate de frente com Fiat Strada Adventure CD (R$ 76.690) e VW Saveiro Cross CE (R$ 75.790 com um pacote de equipamentos semelhante), sendo que a Renault ainda oferece a versão Expression (mais simples) por R$ 68.150
Se um dos critérios para a sua escolha for o espaço e o acesso ao banco traseiro, a esquecida Oroch merece uma olhada com mais atenção.
Teste de pista (com gasolina)
- Aceleração de 0 a 100 km/h: 12,4 s
- Aceleração de 0 a 1.000 m: 34,1 s / 152 m
- Retomada de 40 a 80 km/h (em 3ª): 8,4 s
- Retomada de 60 a 80 km/h (em 4ª): 13,1 s
- Retomada de 80 a 120 km/h (em 5ª): 22,1 s
- Consumo urbano: 9,7 km/l
- Consumo rodoviáro: 11,9 km/l
- RPM a 100 km/h em 5ª: 3.000 rpm
- Ruído interno (PM/ RPM máx): 39,1 / 74,9 dBA
- Ruído interno (120 km/h em 5ª): 70,8 dBA
Ficha Técnica – Renault Duster Oroch Dynamique 1.6 SCe MT
- Motor: dianteiro, transversal, flex, 4 cilindros, 16V, duplo comando variável na admissão, 1.597 cm3, 78,0 mm x 83,6 mm, 120 cv / 118 cv a 5.500 rpm, 16,2 mkgf a 4.000 rpm
- Câmbio: manual 5 marchas, tração dianteira
- Direção: eletro-hidráulica, 10,7 m (diâmetro de giro)
- Suspensão: McPherson (dianteira), multilink (traseira)
- Freios: discos ventilados (dianteira), tambores (traseira)
- Pneus e rodas: 215/65 R16, liga leve
- Dimensões: comprimento, 469,3 cm; largura, 182,1 cm; altura, 169,5 cm; entre-eixos, 282,9 cm; caçamba, 683 l (650 kg); tanquel de combustível, 50 l; peso, 1.296 kg.