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Teste: Fiat Uno 1.0 completa 30 anos evoluído e até mais barato

Um Fiat Uno Drive 1.0 custa, completo, o mesmo que o Fiat Uno Mille básico em 1990. E é um belo retrato da evolução dos compactos e dos motores “mil”

Por Henrique Rodriguez Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 ago 2020, 18h31 - Publicado em 3 ago 2020, 07h00
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  • Fiat Uno
    Uno Drive 1.0 completo custa, hoje, o equivalente a um Mille de 1990 (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Espremido entre Mobi e Argo, o Uno não vive mais com a mesma tranquilidade de 30 anos atrás, quando era o único compacto da Fiat no Brasil e não tinha mais do que quatro concorrentes das marcas rivais. Mas, se hoje o segmento dos compactos 1.0 é tão grande, foi porque o Uno abriu as portas do mercado.

    O IPI (como é mais conhecido o Imposto sobre Produtos Industrializados) chegou a ser usado há poucos anos como meio de bombar as vendas de carros, principalmente os baratos. Mas até 1990 o imposto desestimulava a fabricação de carros com motores menores e mais eficientes.

    fiat uno
    Geração lançada em 2010 arredondou as formas quadradas do velho Uno (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Isso porque àquela altura carros com motores entre 800 e 1.000 cm³ eram taxados em 40%, enquanto aqueles entre 1.000 e 1.500 cm³ pagavam 35% de IPI. Só nos primeiros dias de agosto de 1990 é que carros com motores menores tiveram a alíquota de IPI ajustada para 20%.

    Foi um movimento fundamental para o nascimento dos populares 1.0. Eles dariam fôlego para a indústria nacional, que ocuparia sua capacidade ociosa e também poderia lidar com a “ameaça” da recente reabertura das importações de veículos.

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    fiat uno
    Em 1990 o retrovisor direito e os encostos de cabeça ainda não eram obrigatórios (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    A Fiat teve sorte. O Uno havia sido lançado no Brasil exatamente seis anos antes, em agosto de 1984, com o motor 1.050 cm³ do 147 e o 1.3 de 57 cv. Só a opção maior fez sucesso no Brasil, onde se tornou a única a partir de 1985. Mas o motor menor continuou equipando unidades exportadas para Argentina e Itália.

    Bastaria enquadrar o motor na nova alíquota de IPI. A troca do virabrequim diminuiu o curso dos pistões de 57,8 para 54,8 mm, fazendo com que o deslocamento total ficasse nos 994,4 cm³. Mas foi com os novos carburador e comando de válvulas (projetado para garantir torque em rotações mais baixas) que chegou-se aos 48,5 cv e 7,4 kgfm. Comparado aos 52 cv e 7,8 kgfm do motor 1.050, o rendimento era bom.

    Fiat Uno Mille 1990 (3)
    Limpador, lavador e desembaçador traseiros eram opcionais (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    O nome não poderia ser mais adequado: Uno Mille (mil, em italiano). Por fora era como qualquer outro Uno S 1.3. Tinha a primazia de ter barra estabilizadora dianteira e um braço tensor mais robusto que só chegariam às outras versões em 1991. Mas, por outro lado, era um carro pelado como não se via desde os anos 1960.

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    Só no Mille o câmbio manual tinha quatro marchas. O de cinco era opcional, assim como o retrovisor direito, bancos dianteiros reclináveis e com encosto de cabeça (ambos ainda não eram obrigatórios) e lavador e desembaçador traseiro.

    Fiat Uno Mille 1990 (7)
    Nos instrumentos, velocímeto e luzes espia. Buzina ficava na única haste (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    O servofreio também seria opcional, mas a Fiat voltou atrás. Ainda assim, os Mille não tinham saídas de ar laterais e o lavador do para-brisa era acionado por uma bombinha de borracha no pé do motorista como no Fusca – que saíra de linha quatro anos antes. O único luxo era o veludo na parte central dos bancos.

    O Mille chegou às lojas em setembro de 1990 como o carro mais barato do Brasil. Os 625.000 cruzeiros pedidos pelo carro básico equivaleriam hoje a R$ 53.390 (IGP-M/FGV). Por acaso, o Uno Drive 1.0 2020 testado, com todos os opcionais, custa praticamente o mesmo: R$ 53.570.

    Fiat Uno Mille 1990 (5)
    No carro básico, encosto não tinha ajuste (Marco de Bari/Quatro Rodas)
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    Hoje um Uno parte dos R$ 44.990 na versão Attractive, já com ar-condicionado, direção hidráulica e motor 1.0 Fire de 75 cv. A Drive tem motor Firefly de 77 cv, mais moderno, e ainda recebeu dois opcionais. O pacote Comfort Plus (R$ 2.990) inclui vidros elétricos traseiros, faróis de neblina, apoio de braço dianteiro, repetidoras de seta nos retrovisores, controles de estabilidade e tração, assistente de partida em rampa, banco do motorista com ajuste de altura e monitor de pressão dos pneus. Alarme, rádio com Bluetooth, volante multifunção e computador de bordo com tela de TFT estão no kit Live On Plus, de R$ 2.590.

    Não se via esses opcionais em carros de luxo de 1990, mas é isso que o consumidor espera (e exige) de um carro de entrada nos dias atuais. O padrão do segmento subiu bastante junto com os preços. Basta ver que o carro mais barato do Brasil hoje, o Renault Kwid Life, é quase tão simples quanto o primeiro Mille e custa R$ 34.990 – muito menos que um Uno.

    Fiat Uno Drive 1 (2)
    Volante multifunção e computador de bordo mais completo são opcionais (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    E olha que o “novo” Uno já deixou de ser novo. A segunda geração acabou de completar 10 anos e passou por duas leves atualizações visuais. Características da primeira geração seguem vivas, porém. A suspensão é macia e robusta (ainda que com eixo de torção em vez do conjunto McPherson com molas semielípticas na traseira), e o baixo consumo de combustível segue como destaque.

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    Futuro do pretérito

    No passado, quem trocava o Uno S 1.3 pelo Mille 1.0 só sentia falta dos 9 cv perdidos em subidas e retomadas. Um Uno de hoje – assim como boa parte dos 1.0 modernos – não deixa que o motorista passe raiva em condições tão adversas para os antigos. Na verdade, passaram a servir muito bem para o dia a dia e deixaram de ser tão ruins na estrada.

    Fiat Uno Drive 1 (4)
    Hoje há encosto de cabeça, apoio de braço central e o câmbio é de cinco marchas (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    O segredo está nos motores mais modernos. Do primeiro Mille até hoje, injeção eletrônica, acelerador eletrônico e variador de fase (ou mesmo comando de válvulas variável) se tornaram padrão e várias normas de emissões entraram em vigor. Mas o que realmente fez a diferença foram as novas gerações de motores 1.0 de três cilindros, mais leves, com atrito entre os componentes internos reduzido, maior precisão na fabricação e com boa melhora na entrega de torque e potência. Tudo isso junto faz uma grande diferença.

    Fiat Uno Drive 1 (5)
    Porta-malas passou a ser acarpetado (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    No primeiro teste do Uno Mille, o modesto motor 1.0 carburado a gasolina conseguiu médias de 12,3 km/l na cidade e 15,3 km/l na estrada (confira o teste completo na página ao lado) com o câmbio de cinco marchas. Foi suficiente para superar o Gol CL e se tornar o carro mais econômico da época. Mas o 0 a 100 km/h em 17,3 s estava longe de ser algo que merecia destaque.

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    Fiat Uno Mille 1990 (4)
    Porta-malas era menor e só tinha uma mola a gás (que, provavelmente, hoje deu lugar a um cabo de vassoura) (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    Os 212 kg a mais do Uno Drive não prejudicaram seu consumo. Cravou 13,7 km/l no regime urbano e 16,9 km/l no rodoviário. São ótimos números, mas não tão bons quanto os 15 km/l e 17,9 km/l, respectivamente, de um Hyundai HB20 1.0. O zero a 100 km/h em 15,6 s também revelam alguma evolução.

    Teste Uno Mille.
    O singelo câmbio de quatro marchas (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    Para os saudosos do acelerador por cabo, o eletrônico que aciona o 1.0 6V Firefly tem respostas tão rápidas quanto e não é lento como o do 1.0 8V Fire que resiste até hoje na versão de entrada. Isso devolveu ao Uno a boa sensação de agilidade que ajudou a manter a primeira geração em produção até o ano de 2013.

    Fiat Uno Mille 1990 (6)
    O motor 1.0 Fiasa era valente (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    O que ainda não foi possível deixar no passado é o câmbio com relações curtinhas para fazer o carro embalar rápido, mas que acaba comprometendo o conforto na estrada. E, muito embora os engates tenham melhorado muito, o longo curso da alavanca entre as marchas acompanha o Uno do seu lançamento até hoje.

    Pic By Fernando Pires / www.flpires.com.br
    Motor três-cilindros é mais complexo e está melhor isolado (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Isolamento acústico e acabamento também evoluíram. O primeiro Mille nem sequer tinha manta por dentro do cofre do motor e hoje mal se escuta o motor em ponto morto. Não há partes da lataria à mostra no porta-malas ou na cabine.

    Tudo bem que o espaço interno não é amplo como no passado, mas a capacidade do porta-malas avançou dos 224 para 280 litros mesmo quando o estepe saiu do nicho ao lado do motor para o assoalho do compartimento de carga.

    O que nem a QUATRO RODAS de 30 anos atrás conseguiria prever era que aquele Uno iria muito além de atender a um público carente por carros mais baratos. Foi o pontapé inicial para um segmento que dez anos depois, em 2000, . Hoje, 30 anos depois, deixaram de ser malvistos.

    Abaixo, alguns carros que seguiram o caminho do Uno para fazer os 1.0 serem o que são hoje.

    Pequenos compactos
    (Arte/Quatro Rodas)

    Teste – Fiat Uno Drive 1.0

    Aceleração
    0 a 100 km/h: 15,6 s
    0 a 1.000 m:
    36,8 s – 137,8 km/h

    Velocidade máxima
    157 km/h*

    Retomada
    3ª 40 a 80 km/h: 9,7 s
    4ª 60 a 100 km/h: 13,1 s
    5ª 80 a 120 km/h: 27,6 s

    Frenagens
    60/80/120 km/h – 0 m: 16,3/29,3/69,4 m

    Consumo
    Urbano: 13,7 km/l
    Rodoviário: 16,9 km/l

    Ficha técnica – Uno Drive 1.0

    Preço: R$ 53.570
    Motor: flex, diant., transv., 3 cil., 6V, aspirado, 999 cm³; 77/72 cv a 6.250 rpm, 10,9/10,4 kgfm a 3.250 rpm
    Câmbio: manual, 5 marchas, tração dianteira
    Suspensão: McPherson (dianteiro) / eixo de torção (traseiro)
    Freios: disco ventilado (dianteiro) / tambor (traseiro)
    Direção: elétrica, 9,8 (diam. giro)
    Rodas e pneus: aço, 175/65 R14
    Dimensões: compr., 382 cm; larg., 163,6 cm; alt., 148 cm; entre-eixos, 237,6 cm; peso, 1.010 kg; tanque, 48 l; porta-malas, 280 l

    Teste – Fiat Uno Mille 1990

    Aceleração
    0 a 100 km/h: 17,3 s
    0 a 1.000 m:
    38,3 s – 129,9 km/h/

    Velocidade máxima
    139,4 km/h

    Retomada
    3ª 40 a 80 km/h: n/d
    4ª 60 a 100 km/h: n/d
    5ª 80 a 120 km/h: n/d

    Frenagens
    60/80/120 km/h – 0 m: 17,5/31,2/70,1 m

    Consumo
    Urbano: 12,3 km/l
    Rodoviário: 15,3 km/l

    Ficha técnica – Uno Mille

    Preço: Cr$ 625.000 – R$ 53.390 (IGP-M) Motor: gas., diant., transv., 4 cil., 8V, 994,4 cm³; 48,5 cv a 5.700 rpm, 7,4 kgfm a 3.000 rpm
    Câmbio: manual, 5 m., tração diant.
    Suspensão: McPherson (diant.) e McPhersson com com molas em feixe transversal (tras.)
    Freios: disco sólido (diant.)/ tambor (tras.)
    Direção: mecânica, 12,1 (diam. giro)
    Rodas e pneus: aço, 145/45 R13
    Dimensões: compr., 364,4 cm; larg., 154,8 cm; alt., 144,5 cm; entre-eixos, 236,1 cm; peso, 798 kg; tanque, 48 l; porta-malas, 224 l

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