Carros geram despesas. Infelizmente, essa é uma realidade imutável até para a dialética de Sócrates. Desde que o automóvel moderno foi inventado, em 1876, é impossível fugir dos custos inerentes ao seu uso. Mas é possível domar seus gastos.
A maneira como os veículos são utilizados tem influência direta no fluxo de dinheiro para fora do bolso, especialmente no consumo de combustível. E, para dar uma ideia sobre a vazão de desperdício, QUATRO RODAS realizou cinco experimentos que simulam situações cotidianas.
Medimos o consumo em situações comuns, desde o simples uso do ar-condicionado até o descuido de rodar com os pneus descalibrados. Para medir o impacto financeiro dessas práticas, utilizamos como parâmetro o aumento no consumo de combustível em ciclo rodoviário – o mesmo teste a que submetemos os carros avaliados pela revista.
A cobaia escolhida foi um Palio Essence 1.6. Abastecemos com gasolina, verificamos a pressão dos pneus (28 libras, conforme o manual) e fechamos todos os vidros. Tudo o que era elétrico foi desligado para o teste de controle. Nos trechos de reta, fixamos a velocidade em 100 km/h – e 80 km/h nas duas curvas da pista. Nesse ciclo, em condições ideais, o consumo registrado foi de 14,9 km/l.
Na sequência, o primeiro vilão do consumo a ser desmascarado foi o hábito de andar com os vidros dianteiros abertos. Para surpresa, registramos redução de mero 0,7% em relação ao número de controle, ou seja, 14,8 km/l. Repetimos o teste mais duas vezes. O número se preservou.
Depois, fechamos os vidros e carregamos o porta-malas com 50 kg em sacos de areia, que representavam bagagens no dia a dia. O lastro reduziu a medição inicial em 2,7% (14,5 km/l).
Claro que, diariamente, ninguém carrega tanto peso à toa, mas mesmo pequenos volumes podem causar prejuízos. Vale lembrar: peso adicional não penaliza só a conta do posto. Pneus e suspensões também sentem a gordura extra.
E, já que os pneus foram citados, vamos ao julgamento deles. Reduzimos a pressão recomendada pelo fabricante em 30%, de 28 libras para 19,6. Exagero? Uma avaliação realizada pela Michelin mostrou que 50% dos motoristas costumam rodar frequentemente com pneus descalibrados – e 10% deles com pressões perigosamente baixas.
Nessa condição, registramos 14,4 km/l, 3,3% a menos a cada litro gasto. Ou 250 ml de gasolina desperdiçados por carro a cada 100 km. Nesse ritmo, quem roda 20.000 km por ano joga no ralo um tanque inteiro. Ou 46,6 litros. E a conta nem leva em consideração o consumo de borracha, já que os pneus durarão bem menos por rodar com pressão inadequada.
O custo da bike
Sem querer chamar bicicletas de vilãs, penduramos uma na tampa do porta-malas do Palio. Rodando nas mesmas condições da volta de controle, o consumo foi 4,7% pior (14,2 km com 1 litro de gasolina). Numa viagem de 400 km, a magrela pode elevar o consumo em 1,4 litro.
Por fim, voltamos as atenções para o ar-condicionado. Não existe conforto extra sem custo adicional e ninguém trabalha de graça – nem o climatizador do seu carro. Assim que o compressor do ar entrou em pleno funcionamento, voltamos para a pista. Dessa vez, registramos 14,1 km/l, uma diferença de 5,3% em relação ao controle – a pior marca do teste.
Claro, não dá para falar em desperdício de combustível, já que os ocupantes são beneficiados. Mas nem por isso você precisa deixar o ar ligado o tempo todo. Principalmente se a palavra de ordem for economia.
Quem mais influencia o consumo de combustível
Volta de controle: 14,9 km/l – O primeiro teste foi feito em condições ideais para obter o melhor índice de consumo possível.
Vidros abertos: 14,8 km/l (-0,7%) – Carros modernos sofrem menos com a influência dos vidros dianteiros abertos, mas há uma piora.
Peso extra: 14,5 km/l (-2,7%) – O lastro no bagageiro influenciou a medição, mas os gastos com peso não se limitam ao combustível.
Baixa pressão: 14,4 km/l (-3,3%) – A pressão foi reduzida em 30%. De 28 libras para 19,6, considerando o uso rodoviário.
Bicicleta: 14,2 km/l (-4,7%) – No teto ou na traseira, o rack com bicicletas aumenta o arrasto aerodinâmico e piora o consumo.
Ar-condicionado: 14,1 km/l (-5,3%) – De todos os vilões, o ar-condicionado foi quem mais aumentou o consumo de combustível.