As peruas, ou stations, são membros de um movimento de resistência no campo de batalha do mercado. Na última década, o mundo dos carros passou por uma transformação que inundou as ruas de minivans e utilitários, quase sufocando os ativistas que defendem os derivados de sedãs.A chegada da V60 anima o segmento e faz frente à soberania alemã.
A Volvo chama a V60 de “sportwagon”, ressaltando seus dotes esportivos e, ao mesmo tempo, diminuindo a importância da letra que designa suas peruas. Com um pouco mais de curvas, seu batismo poderia ser outro.Vista de lado, os vincos alongados na cintura e o teto rebaixado são recursos que marcam os cupês, marcas que não são ocasionais. A ideia é desvencilhar a station do apelo familiar, assim como o sedã S60. Deu certo? Em termos. O efeito colateral está na redução do espa- ço para os ocupantes e, sobretudo, do bagageiro. Com 430 litros, seu porta-malas é o menor da categoria, ficando atrás de Mercedes-Benz Classe C Touring e Audi A4 Avant. Apesar disso, é difícil não gostar de sua aparência ou não se impressionar com o conforto da cabine. Nos dois quesitos, a sueca é uma alternativa que afasta as saudades (mas não a lembrança) dos rivais de Stuttgart e Ingolstadt.
Uma das heranças ocultas da Volvo é que, apesar de a marca não pertencer mais à Ford, continua sendo feita sobre a plataforma do Mondeo e do Land Rover Freelander 2. A sueca adotou recursos esportivos nas linhas e na mecânica, mas favoreceu a maciez ao calibrar a suspensão. Isso deixou a perua no meio do caminho entre o conforto e a esportividade, diferentemente da Audi S4 Avant, sua rival direta. A alemã é uma típica esportiva, com suspensão firme, direção rápida e acelerações súbitas. Ao volante, a V60 responde bem ao acelerador, mas a direção é lenta.
Quando se fala em preços, a sueca também se mostra convidativa. Avaliamos a versão T6, equipada com motor 3.0 V6 e tração integral, oferecida por 199 900 reais. São 50 000 reais a menos que o S4 Avant. A Mercedes não atua nessa faixa, encarando as rivais apenas nas configurações de entrada, por preços que partem de 140 500 reais (C 180 Turbo Touring). E mais uma vez, nos modelos de base, a Volvo tem o preço menor: 130 900 reais.
Alternativa
Além de se diferenciar em preço, conforto e visual, o interior do herdeiro viking também está à frente. O belo quadro de instrumentos utiliza alumínio e iluminação indireta. O pomo da alavanca tem uma capa transparente, com uma luz de led que destaca as posições do câmbio. A “ponte flutuante” do painel já não é novidade, mas a central com o fundo aberto ainda é um charme. O conjunto é belíssimo, mas não supera a praticidade dos comandos da Mercedes nem a intuitividade da Audi. Ele requer alguma prática para que o motorista se encontre entre dezenas de botões.
Assim como os alemães parecem pensar em tudo ao fazer carros, os suecos não relaxam quando o tema é segurança. O Volvo tem radares na dianteira que auxiliam o motorista. O City Safety equipa a versão top e funciona a até 35 km/h, realizando frenagens de emergência quando o condutor não age em tempo hábil, impedindo colisões. Quando entra em ação, uma forte luz vermelha, como um brake light, é refletida no para-brisa. O mesmo ocorre quando um pedestre passa à frente do carro, função que fica por conta do Pedestrian Detection.
No V60 T6, um aviso sonoro é disparado quando o carro invade as faixas laterais ou quando se faz uma mudança sem acionar as setas. Um sensor consegue identificar a faixa de rolamento e avisa quando o limite é ultrapassado indevidamente.
Com tratamento de primeira classe, acabamento de grife e tecnologia que surpreende, a V60 é uma compra que não gera arrependimentos. Mas não impede que seu dono desvie o olhar ao passar por um showroom de alemães na quadra ao lado.
DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
Respostas da direção poderiam ser mais rápidas, pois destoam da agilidade garantida pelo motor. A suspensão também poderia ser mais rígida para ser compatível com 304 cv.
★★★☆
MOTOR E CÂMBIO
Os números do teste mostram que a dupla trabalha em sintonia. Faltam borboletas atrás do volante para as trocas manuais.
★★★★☆
CARROCERIA
Bem construída, traz sensação de solidez e algum toque de esportividade. Embora esse não seja o forte da marca, consegue atrair olhares na rua.
★★★★★
VIDA A BORDO
Melhor para quem vai na frente, tem materiais de excelente qualidade e acabamento esmerado. O conforto é um dos destaques, mas o Audi A4 oferece posição de dirigir mais esportiva.
★★★★☆
SEGURANÇA
Referência neste quesito, não há como criticar. Airbags e ABS são triviais. Identifica pedestres e faixas de rolagem e freia sozinho em emergências.
★★★★★
SEU BOLSO
A versão topo de linha custa 30000 reais a mais que o S60 top, sem oferecer o espaço extra que se espera de uma perua. Vale o adicional pelo estilo, não pelo volume.
★★★★
A alemã rivaliza na versão de base e na configuração top. As duas são mais caras que a sueca, mas têm seus méritos.
Disponível no Brasil em duas versões, parte de 140 500 reais. A C 63 AMG custa 260 000 dólares. E só por encomenda.
Veredicto
Há anos a Volvo afastou a apatia visual de seus carros e, após dominar a arte da segurança automotiva, especializou-se em conforto. Agora quer um doutorado em esportividade. A V60 entrega o pacote completo, com o bônus de ter espaço de sobra.
>> Confira a Ficha Técnica do carro