Publicado originalmente em março de 2003
“Uma série limitada a 5000 carros.” Assim foi anunciada, em 1976, a primeira versão do Golf GTI, com um nervoso, pelo menos para a época, motor de 110 cavalos. A tal série limitada agradou tanto aos consumidores que a Volks resolveu manter a produção. O modelo roda até hoje, quatro gerações depois, sempre com sua receita esportiva.
“Uma série limitada a 100 carros.” É essa a quantidade que a Volkswagen do Brasil pretende oferecer no mercado nacional do Golf GTI VR6. O modelo estava no estande da montadora no último Salão do Automóvel e parece ter cativado o público. Prova disso é que, segundo a VW, 67 unidades já foram encomendadas, ao preço de ” pasmem! ” 100.000 reais.
Nota: seria o equivalente a R$ 293.671 (IGP-M) em 2020.
O que faz alguém pagar 44.000 reais a mais que num Golf GTI “normal”? Depois de andar no carro, esse mistério continuava para mim. A resposta óbvia seria o motor VR6 2.8 de 200 cavalos, 20 acima do que oferece o turbo 1.8 do irmão.
Você já viu esse VR6 rodando por aí. Ele era usado no Passat VR6, importado em 1995 e 1996. E também equipava a terceira geração do Golf, lançada em 1991. A Volks brasileira chegou a trazer 15 unidades dessa versão. O torque passou de 24 kgfm para 27 kgfm.
Do motor original só sobrou o bloco, com seus 15 graus de abertura entre as duas bancadas de cilindro, ou seja, quase sobrepostos. Fato, aliás, que lhe rendeu o “R” no nome, que vem de Reihe, ou “linha” em alemão. O cabeçote ganhou balancins roletados e comandos de válvula e de admissão variáveis, e a taxa de compressão do motor foi ajustada de 10:1 para 10,5:1. Eis a fórmula básica adotada para sair de 174 para os atuais 200 cavalos.
Montado no motor de maior potência entre os carros nacionais – nesse patamar, só os utilitários Ford Ranger e F-250, com 210 e 205 cavalos, respectivamente –, você se sentirá parte de uma confraria exclusiva. Para realçar essa idéia, cada modelo é numerado com uma placa no console central, de 000 a 099. Mas o privilégio de andar rápido pelas ruas não será só seu.
Menos discreto que o GTI “normal”, o VR6 ganhou spoiler, saia lateral, máscara nos faróis. Nem tente procurar por uma versão de quatro portas. VR6, só com duas mesmo. Cores? Apenas preto ou prataQualquer mortal com pé pesado e um A3 de 180 cavalos vai colar na sua traseira. O VR6 “venceu” a aceleração de 0 a 100 km/h por apenas dois décimos: 8,5 versus 8,7 segundos. Na máxima, empate técnico, com 215 km/h do Golf contra 217 km/h do A3. (Imagino o que ele não faria com o 1.8 turbo do Audi S3, com 225 cavalos…)
A boa impressão surge no câmbio de seis marchas, que veio do Audi S3, mas ganhou relação de marchas mais curta. À exceção da sexta, um overdrive, as outras oferecem força em abundância. Traduzindo em números: o VR6 levou 5,5 segundos para ir de 40 a 80 km/h, enquanto o A3 precisou de 6,3 segundos.
Começou a interessar? Então saiba que na retomada de 40 a 100 em quinta marcha a vantagem do VR6 foi superior em mais de seis segundos. Tudo isso com engates leves e rápidos, que permitem trocas sem deixar o giro cair. Cuidado apenas com a embreagem, de curso longo, que precisa ser deslocada até o final para evitar arranhadas nas engrenagens.
Por causa dos 35 quilos a mais que o motor VR6 tem em relação ao quatro cilindros, a Volks teve que mexer na suspensão, endurecendo molas e aumentando a carga dos amortecedores dianteiros. Que os passageiros sejam informados antes de entrar no carro: a rigidez da suspensão e os buracos do nosso asfalto vão causar aquela sensação de enjôo de alto-mar, porque balança, e muito.
Para trazer um pouco mais de estabilidade, a engenharia jogou o centro de gravidade mais para baixo, diminuindo em 2 centímetros a altura do carro em relação ao solo, que agora é de 13 centímetros. Além disso, o modelo traz rodas de liga leve aro 17, pneus de perfil 45 e controle de estabilidade. E você vai precisar dele.
Apesar de ter conseguido 0,98 g no teste de aceleração lateral, o Golf, no limite e com ESP desligado (basta apertar uma tecla no console central), saiu de frente – e nem as sucessivas correções no volante foram suficientes para colocá-lo novamente na trajetória da curva.
O negócio é aliviar o pé do acelerador ou deixar o controle sempre ligado. Diferentemente do GTI padrão, o VR6 não é tão discreto do lado de fora. Ele ganhou aerofólio traseiro, spoiler dianteiro que faz conjunto com a saia lateral e acabamento tipo máscara negra nos faróis. Nem pense em pedir um com quatro portas ou em cores que não sejam prata e preto. A VW não oferece outro tipo de carroceria ou de pintura.
No interior, as mudanças são fáceis de encontrar. Os mostradores do painel receberam uma faixa cinza nas bordas, um efeito que ajuda a leitura. O alumínio ganhou espaço no console central, nas pedaleiras e no descansa-pé (gigantesco). A alavanca de câmbio traz um pomo de metal em duas cores e a sigla GTI no topo. Tapetes, volante e cintos de segurança têm detalhes vermelhos.
Não é o tipo de informação que decide a compra de um carro assim, mas o VR6 atingiu bons números de consumo para um esportivo. Ele fez 7,2 km/l na medição urbana e 10,2 km/l na rodoviária. Na cidade, ele foi até melhor que o extinto GTI de 150 cavalos, que marcou 6,8 km/l num teste em janeiro do ano passado. Já é uma economia. Quem sabe, com o tempo o dono compensa aquele investimento extra feito na hora de comprar o VR6.
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